domingo, 7 de novembro de 2021

Divagações

Existe pelo menos um prémio de livros de artista.

Chama-se Prix Bob Calle. No website podemos ver os vários livros que estiveram a concurso nos 3 anos da sua realização (2017, 2019, 2021) e assim ter uma ideia do que é considerado o "melhor" no meio dos livros e artista. Obviamente isto é tudo altamente subjectivo, mas fica a nota. Aconselho-vos a espreitarem todos os livros do concurso. Há muita variedade e ideias engraçadas como neste que precisa de uma lanterna para se ver certas imagens: 


Ou este que reúne fotos de bibliotecas pessoais:



Ou este, que faz lembrar os estudos de cor e repetição de Sol Lewitt (de que falei no último post):


O nome de Bob (Robert) Calle será familiar para alguns, como o é para mim, pois é pai de Sophie Calle. Sophie Calle, nascida em 1953, é uma artista conceptual que admiro desde há muito tempo, quando ouvi falar pela primeira vez do seu projecto "l'hotel". Para o projecto, Sophie encontrou emprego como camareira num hotel, em substituição de alguém durante 3 semanas. Nessas 3 semanas, examinou os pertences pessoais das pessoas que ocupavam os 12 quartos que lhe foram atribuídos. A partir dos pertences, imaginou as vidas e as rotinas dos clientes. Este projecto alia a realidade à imaginação, criando histórias a partir de ambientes. A componente voyeurista é também muito importante no trabalho de Sophie, sendo que chegou a pedir à mãe para contratar um detective privado para a seguir e assim ter um registo da sua vida através de olhos desconhecidos — se isto não é algo de deliciosamente fantástico?

Bob Calle esteve responsável pelos arquivos de Christian Boltanski, também ele artista conceptual. Tal como Sophie Calle tenta "escavar a superfície das coisas, procurar o lugar-comum, desenterrar evidências", embora os temas sejam diferentes — Boltanski foca-se mais na história e na memória colectiva, e Sophie nas "neuroses do dia a dia".


Uma nota interessante é que Robert Calle, para além de coleccionador e apaixonado por arte e livros (e temos de lhe agradecer pela inspiração e referências passadas à filha), era também médico e foi director de um Hospital durante alguns anos. Tenho vindo a reparar numa relação muito próxima entre a medicina e a arte (sendo que englobo todas as artes). Médicos que são pintores, escritores, ou artistas que se interessam muito por medicina. Basta pensar em Leonardo DaVinci, Frida Kahlo (queria estudar medicina inicialmente), John Keats (chegou a ser assistente em cirurgias), Sir Arthur Conan Doyle, Miuccia Prada, Art Garfunkel, Anton Chekov ou Gertrude Stein. Enfim, ainda não aprofundei muito o assunto mas tenho a certeza que tem alguma explicação neurológica.


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