Os seus curadores, Geoffrey Marsh e Victoria Broakes, foram também responsáveis pela exposição David Bowie is, uma retrospectiva da carreira do músico realizada em 2013 também no V&A, cujo extraordinário sucesso levou a que fosse exibida internacionalmente em diversos países desde a sua inauguração em Londres e até ao presente.
Records and Rebels foi realizada em parceria com a Levi’s e, de forma mais relevante, com a Sennheiser, da qual ficou a cargo toda a experiência sonora da exposição: a cada visitante é entregue um guia sonoro, um pequeno aparelho com headphones, que vai tocando o áudio apropriado – música, excertos de filmes, entrevistas - à medida que o visitante se desloca na exposição. Quer o visitante salte completamente uma sala e avance para a seguinte ou volte atrás na exposição, o áudio acompanha a sua deslocação, o que resulta numa experiência completamente imersiva e personalizada para cada visitante. Dividida por seis salas temáticas cuja excelente organização favorece os objectos expostos, permitindo que haja espaço quando necessário e uma continuação e relação evidente e lógica, Records and Rebels leva-nos num percurso histórico pelo final dos anos 60.
A primeira parte da exposição dá-nos a conhecer a Swinging London, a revolução cultural baseada em Carnaby Street e King’s Road que levou a um enorme crescimento na produção de moda, arte e música, popularizando ícones como a modelo Twiggy e a mini-saia e os hot pants de Mary Quant e tendo a rádio pirata como banda sonora do movimento anti-nuclear e da revolução sexual.
Observamos ainda a influência da música desta Swinging London na moda, sendo que as peças mais interessantes e com mais destaque desta secção são os fatos usados por John Lennon e George Harrison no álbum dos Beatles ‘Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band’ e a letra, escrita à mão, da música Lucy in the Sky with Diamonds.
Uma curiosidade: o título da exposição é retirado da música Revolution, dos Beatles (You say you want a revolution/Well, you know/We all want to change the world/You tell me that it's evolution/Well, you know/We all want to change the world).
'Lucy in the Sky with Diamonds', John Lennon e Paul McCartney 1967, aqui escrita à mão por Lennon.
A secção seguinte diz respeito às contra-culturas e o seu estilo de vida, com um grande foco no consumo de drogas como ferramenta de criatividade e produção de arte. Mais uma vez a música tem um papel de destaque, desta vez aliada à literatura da Beat Generation: uma grande vitrine cheia de capas de álbuns de grupos como The Who, Pink Floyd e Jefferson Airplane e obras literárias como On the Road, de Jack Kerouac, e Naked Lunch, de William S. Burroughs chama a atenção imediata do visitante aquando da entrada na sala.
De seguida, é-nos apresentada uma sala focada na participação dos jovens na política e em revoluções sociais, como o Maio de 68 em Paris, o movimento Black Power, a luta pelos direitos LGBT, o feminismo e a oposição à guerra do Vietname. Algumas das peças que mais se destacam nesta sala são os objectos de propaganda dessa guerra. Também as peças que dizem respeito à disponibilização ao público em geral da pílula contraceptiva são interessantes, particularmente pela sua relação e contributo para a emancipação da mulher.
Existe um grande contraste entre esta sala e a seguinte: se a primeira se foca nas revoluções sociais e no activismo, a segunda foca-se principalmente no consumismo da sociedade na época, consequência do aumento do poder de compra.
Em grande destaque está a Exposição de Montreal de 1967, o seu enorme sucesso com milhões de visitantes e a sua consequente influência no desenvolvimento da sociedade focado no consumidor.
Com o aumento do número de televisões nos lares, foi possível assistir à cobertura da guerra do Vietname, bem como à aterragem na lua em 1969. Estes eventos marcaram bastante o final dos anos 60, algo demonstrado pelo mobiliário futurista presente nesta sala e a sua relação com o filme '2001 Odisseia no Espaço', realizado em 1968 por Stanley Kubrick, bem como pelo fato de astronauta usado por William Anders, um dos tripulantes da missão Apollo 8, e por uma rocha lunar emprestada pela NASA.
A sala seguinte é facilmente a mais popular e marcante de toda a exposição. Depois de sairmos da sala anterior por um corredor escuro, chegamos a um espaço aberto cuja parte de cima das paredes está coberta de ecrãs e onde a maior parte dos objectos expostos se encontra apenas nas paredes ao longo da sala, deixando o centro da mesma livre. Este aspecto é aproveitado ao máximo, com almofadas espalhadas pelo chão da sala, coberto de relva artificial, criando um ambiente relaxado e imersivo onde os visitantes podem relaxar e assistir às imagens de vários concertos do festival de Woodstock em 1969, incluindo a icónica performance do hino Americano, Star Spangled Banner, por Jimi Hendrix. Os objectos aqui expostos dizem respeito a este ambiente festivaleiro: capas de álbuns, posters, detalhes da organização de Woodstock como a planta do festival e contratos de artistas, bilhetes de vários festivais da época e fatos usados por artistas como Roger Daltrey, Mama Cass e Jimi Hendrix.
O conteúdo da última sala prende-se com a vida em sociedade/comunidade e com valores de partilha dos recursos naturais da Terra e do conhecimento humano. Comunas hippies na Califórnia partilhavam estes valores com os pioneiros da computação moderna. Aqui é possível observarmos peças de destaque como o Whole Earth Catalog, produzido por Stewart Brand, uma réplica do primeiro rato de computador ou o Apple I, o primeiro produto da Apple, desenhado e construído por Steve Wozniak.
Também o movimento ecológico está em destaque nesta sala com o poster do primeiro Earth Day, de Robert Rauschenberg. A "segunda parte" desta sala faz um resumo de toda a exposição e época e a forma como influenciou muitas preocupações sociais actuais. Num ecrã à saída são projectadas imagens de acontecimentos importantes desde 1966 até aos dias de hoje ao som de Imagine, de John Lennon.
Ao longo de toda a exposição são mostrados inúmeros objectos de arte, design, cinema, moda, literatura e activismo político-social. No entanto, à exposição falta uma maior inclusão de objectos arquitectónicos, a única área de estudo menos representada.
É interessante reflectir em como todos os acontecimentos retratados em Records and Rebels influenciaram a actualidade e fazer um paralelo com os recentes anos, em que questões como os direitos humanos e a igualdade de género, raça ou sexualidade voltaram a ser ameaçadas e discutidas.
You Say You Want a Revolution? Records and Rebels 1966-1970 está aberta ao público desde 10 de Setembro de 2016 até 26 de Fevereiro de 2017 no V&A e a entrada custa 16£.
Nota: não é permitido tirar fotografias à exposição, pelo que as imagens apresentadas aqui são de fontes oficiais e de críticas aprovadas pelo V&A e, como tal, não ilustram todas as salas.