quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Bauhaus como movimento artístico

    A Bauhaus foi a escola de arte modernista mais influente do século XX, cuja abordagem para o ensino e a compreensão do relacionamento da arte com a sociedade e a tecnologia, teve um grande impacto tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, muito depois de encerrada. Foi moldada pelas tendências do século XIX e início do século XX, como o movimento Arts & Crafts, que procurava anular a distinção entre belas artes e e reunir criatividade e a manufactura. Isso reflete-se no medievalismo romântico dos primeiros anos da escola, em que funcionou como uma espécie de congregação de artesãos. Mas, em meados da década de 1920, o medievalismo deu lugar à problemática da união da arte e design industrial, e foi o que acabou por ser a sua conquista mais original e importante.


Cartaz para uma exposição da Bauhaus em Weimar, Alemanha, Laszlo Moholy Nagy (1923)





Bauhaus, fonte de Herbert Beyer (1925)


    A origem da escola passa pela Fábrica Fagus, onde Walter Gropius evidenciou os ideais estéticos do atelier de Behrens e da Associação Alemã de Artesãos, fundada por um grupo de arquitetos, designers e empresários alemães ligados à Arte Nova Alemã. A Bauhaus foi fundada em 1919 e resultou da fusão da Escola de Artes e Ofícios com a Escola Superior de Belas-Artes e tornou-se na primeira escola de arte, arquitetura e design com um projeto pedagógico revolucionário. Com a ascensão de um governo nazi na Alemanha, a escola foi considerada uma frente comunista porque muitos artistas russos trabalhavam ou estudavam ali. Escritores e personalidades nazis desaprovavam o seu estilo modernista e em 1933, após diversos conflitos políticos que inclusive, levaram à transferência da escola para Berlim, a Bauhaus é encerrada por ordem do governo com a acusação de proclamar e defender ideais comunistas e contra o regime.

    Apesar de ter passado por diversas alterações no seu projeto pedagógico à medida que a direção da escola evoluía, a Bauhaus, de uma forma geral, acreditava que os seus métodos de ensino deveriam estar relacionados às suas propostas de mudanças nas artes e no design. Um dos objetivos principais da Bauhaus era unir artes, produzir artesanato e tecnologia. A máquina era valorizada, e a produção industrial e o desenho de produtos tinham lugar de destaque. Preconizava-se acima de tudo a modernização das artes e a valorização do artífice como importante impulsionador do papel social da arte.


Design for a newspaper kiosk (esquerda) e Design for a cinema (direita), Herbert Beyer (1924)


Mulher com máscara, Oskar Schlemmer, sentada na cadeira de Marcel Breuer, Bauhaus


    A própria estrutura do curso na Bauhaus integrava diversas áreas e expressões artísticas como a arquitetura, o design, artes decorativas, fotografia, cinema e dança onde os alunos representavam o equilíbrio perfeito entre o sistema produtivo e o método pedagógico. Eram frequentes as conferências, debates, palestras, exposições, exibições musicais e peças de teatro num clima de intensa atividade artística, intelectual e prática. Não se ensinava História na Bauhaus durante os primeiros anos de ensino, porque acreditava-se que tudo deveria ser criado por princípios racionais em vez de influenciado por padrões herdados do passado. Segundo a ideologia da escola, só após três ou quatro anos de curso o aluno tinha aulas de História, pois assim o conhecimento adquirido do passado não iria influenciar as suas criações artísticas.

    Durante doze anos de atividade, lecionaram na Bauhaus artistas modernistas como Lyonel Feininger, Johannes Itten, Wassily Kandisky e Paul Klee que deixaram na escola a herança do Expressionismo e do Cubismo e contribuíram para a construção dos ideais de racionalidade formal e pela implementação da metodologia do design industrial. Kandinsky e Paul Klee foram ainda responsáveis por desenvolver uma investigação visual de enormes implicações que viria a conferir às aspirações democráticas da escola um novo alcance. Os princípios do funcionalismo da Bauhaus de adequação da forma à função, racionalidade, redefinição do espaço urbano e harmonia entre o «belo» e o «útil» tiveram um impacto fundamental no desenvolvimento das artes e da arquitetura do ocidente europeu, dos Estados Unidos e Israel nas décadas seguintes - para onde se encaminharam muitos artistas exilados pelo regime nazi. A escola Bauhaus também influenciou imensamente a América do Sul, tendo como seu principal representante o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que projectou a cidade de Brasília sob as tendências modernas e funcionalistas inauguradas pelo bauhasianismo.


Livros produzidos e editados pelos artistas da Bauhaus, com tipografia e design característico.

    A Bauhaus alemã tinha uma filosofia vanguardista da arte funcional no período da modernidade e estabeleceu critérios para um design de linhas simples, ergonomicamente eficiente, assim como a ligação entre artistas e artesãos, arte e indústria, utensílio e máquina. Foi responsável por se aprofundarem métodos de construção e criação industrial, pela valorização de novos materiais e tecnologias e pela implementação de metodologias de trabalho que definiram a estética funcionalista.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

4# Luciole, tipografia para leitores com deficiência visual

 

A fonte Luciole foi desenha pelo designer Laurent Bourcellier do studio typographies.fr e um grupo de pessoas multidisciplinar com o propósito específico de desenvolver uma fonte tipográfica direcionada para leitores com deficiência visual.

 

A sua criação partiu da colaboração entre três áreas distintas - a medicina (oftalmologia, ortóptica, psicologia), a edição adaptada (especialistas em transcrição) e o design tipográfico, foi fundamental para criar essa fonte.





A sua construção baseou-se em vários critérios de design destacando a proporções, modulação de linha e espessura da linha.

 

O corpo mais usado é de 20 pts na área da deficiência visual, variando de 16 a 20 pts para adultos e de 20 a 24 pts para jovens. Esse tamanho maior impacta diretamente as proporções da fonte, onde é crucial encontrar um equilíbrio entre legibilidade e quantidade de texto por linha.

 

No desenvolvimento da fonte Luciole, as proporções foram levemente ajustadas para aumentar o número de caracteres por linha, visando melhorar a legibilidade. A modulação de linha, que geralmente ocorre em junções de curvas e retas, foi reduzida ao mínimo para evitar confusões visuais. Isso foi feito considerando que alterações abruptas na espessura das linhas podem prejudicar a perceção das letras por leitores com deficiência visual.





Quanto à espessura da linha e à consistência do sistema, a variação entre a fonte normal e a versão em negrito foi cuidadosamente calibrada para garantir um contraste perceptível sem comprometer a legibilidade. Essa diferenciação é crucial, especialmente em contextos como adaptação de materiais escolares, onde a perceção de

cores pode ser um desafio.





A fonte Luciole possui uma família com muitas variantes, permitindo escrever várias línguas europeias e símbolos matemáticos e gregos. Foi projetada visando a legibilidade para pessoas com deficiência visual e eficiência em publicações adaptadas. É utilizada por editores especializados, transcritores e professores.





https://luciole-vision.com
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0001691823001026?via%3Dihub

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

FONT - REMIX

Atualmente, a tipografia aparenta ser a única área em que os designers se parecem interessados ​​em ser mais experimentais e “criativos”, estando disposto a desafiar os limites da legibilidade e da forma. Com o, cada vez maior, avanço tecnológico, não é surpresa nenhuma que novas técnicas estejam a começar a levar estas práticas ainda mais longe. E o Font-Remix, um projeto experimental projetado e codificado por Lorraine Li, é um exemplo dessa inovação técnica no type design.

    Font-Remix passa então por uma ferramenta que permite juntar duas fontes distintas, mostrando, deste modo, como a tecnologia (código) pode ajudar a diversificar e a expandir a “biblioteca de type-design”.

    Lorraine explica: "São criadas fontes a partir de caminhos vetoriais (vector paths) de duas fontes existentes, podendo ser descarregadas como um arquivo opentype. Os utilizadores têm então a possibilidade de personalizar o resultado selecionando duas fontes do menu disponibilizado, ou fazendo upload de outras fontes que tenham no computador, de seguida, escolhem entre as diferentes grelhas facultadas uma, podendo finalmente combinar os formatos das letras das duas fontes selecionadas."


Raleway-Black + Minipax-Regular

Terminal-Grotesque + Raleway-Medium

Raleway-Black + Barlow-Bold

Archivo-Bold + Daubenton


Terminal-Grotesque + Barlow-Light

Solide_Mirage-Etroit + Archivo-Regular


    O interesse de Lorraine em experimentar código veio antes do design. 


"Nunca fui boa com comunicação verbal, então fiquei fascinada pela ideia de que a comunicação pode acontecer de forma visual, de forma menos linear."


    Foi esta reflexão que a levou a explorar “as possibilidades que a programação pode trazer às expressões do design gráfico”.

    Apesar de ser uma ferramenta relativamente recente, a Font-Remix já foi utilizada em diversos projetos. Nomeadamente, na criação de uma fonte inspirada numa capa do Grishman-Ryce Duo de 1959 desenhada por Robert Brownjohn, proposta por Jonathan Maghen da Primary Foundry. 


"Usar o Font-Remix como ferramenta de produção foi algo que eu não esperava operar, necessariamente, o que o tornou ainda mais interessante para mim", diz Lorraine. 



  Robert Brownjohn Font

  Robert Brownjohn Font

  Robert Brownjohn Font

    A fonte demonstra perfeitamente a capacidade da ferramenta de unir com sucesso o clássico e o contemporâneo – está disponível no Primary Foundry.

    Inicialmente, o projeto Font-Remix começou simplesmente como um meio de pesquisa, pronto a ser desenvolvido. Contudo, após ter sido utilizado em vários projetos e ter recebido feedback positivo de outros code-designers. A ferramenta provou, mais que, a sua funcionalidade e as interessantes possibilidades que permite. Agora, Lorraine dedica-se a explorar ainda mais o potencial das ferramentas de design alternativas, procurando um novo papel no mundo do design cada vez mais focado no digital. 


"As much as every graphic form has been created before, I do take pleasure in attempting to create things that feel new.”


domingo, 10 de dezembro de 2023

A importância de preservar a história do design árabe

    Nascida e criada na Síria, Kinda Ghannoum recorda a sua infância como criativa impulsionada pela sua família artística. Os seus primeiros anos foram marcados pela arte árabe, arquitetura e caligrafia, o que a levou a estudar arquitetura na Universidade de Damasco. Com um especial amor pela arte e design em paralelo com o seu curso foi só quando participou no Startup Weekend (um programa de workshops) que surgiu o interesse pelo design gráfico. Tomando as rédeas da sua carreira, a jovem redirecionou o seu foco para o design gráfico e branding, incorporando elementos de tipografia árabe, padrões e ornamentos geométricos na sua prática criativa.

    No ano de 2020, Kinda Ghannoum, uma licenciada em arquitetura que queria mudar a sua carreira para o design gráfico assumiu um desafio pessoal para explorar a fundo o mundo do design sírio. Como designer gráfica de ascendência sírio-polaca com experiência em design gráfico árabe, procurou obter uma compreensão mais aprofundada dos elementos de design exclusivos originários da Síria e dos designers que desempenharam papéis fundamentais na formação da sua visão cultural. No entanto, a escassez e as limitações de informações disponíveis sobre o assunto levaram Kinda a embarcar numa missão para tornar a história do design sírio mais acessível ao público. Reconhecendo os esforços que a tarefa exigia, Kinda montou uma equipa compacta, mas ágil, composta por Sally Alassafen e Hala Al Afsaa, para documentar e contar a história do design sírio, dando origem à criação do Syrian Design Archive.

    Em cerca de oito meses, o Syrian Design Archive conquistou milhares de seguidores nas redes sociais, apresentando-os a uma rica coleção de artefactos de impressão síria. Como um projeto sem fins lucrativos, o arquivo não celebra apenas a herança cultural única deste país do Médio Oriente, mas também preserva o património de design sírio numa era de rápida evolução tecnológica. Ao documentar uma variedade de materiais impressos, desde placas de rua até selos, livros, panfletos e mais, o arquivo abrange diversas trajetórias históricas da arte árabe. Ao traçar o rasto da evolução da tipografia árabe e examinar culturalmente o passado colonial da Síria, a coleção oferece uma visão fascinante de um país que, com frequência, é injustamente marcado por atenção mediática negativa.


Syrian Design Archive: Syrian Arab Airlines (1969) Encontrado por Gklavas

    Kinda menciona: "Temos nomes de grandes artistas nas belas artes, mas qualquer estudante que queira explorar informações sobre designers sírios não encontrará nada." Para contornar isso, o arquivo regista diversos tipos de produções gráficas projetadas por designers sírios - conhecimento que pode ter sido perdido na guerra, juntamente com muitos outros dados e material culturalmente rico. Bilhetes, cartazes, capas de revistas e livros que foram guardados e por sua vez, montam uma imagem da trajetória gráfica do país. A designer acrescenta: "Em geral, as iniciativas de documentação geralmente vêm de uma fonte externa ou do esforço pessoal do próprio artista. Existem iniciativas de preservação de arquivo para a Síria, mas são incompletas e não estão disponíveis para todos. A nossa missão é criar um lugar onde as pessoas possam encontrar todas as informações e história sobre a formação do design gráfico sírio."

Syrian Design Archive: Tajroubati Alshariye, Abdel Wahab Al-Bayyat (1968). Design de Abdulkader Arnaout


Syrian Design Archive: Lelia waheda, Colette Khoury (1961) Design de Abdulkader Arnaout


Syrian Design Archive: Poster for the Kazakhstan Classical Dance Group, 33rd International Fair of Damascus (1986). Design de Abdulkader Arnaut.

    Juntas, Kinda e duas amigas co-fundadoras do projeto muniram-se das respectivas áreas de interesse para contribuir para o Syrian Design Archive. "O nosso principal objetivo é partilhar a riqueza encontrada nestas diversas formas de arte", diz Sally, co-fundadora. "Para nós, a melhor arte leva a ver o mundo através dos olhos de outra pessoa." Para qualquer pessoa com educação em design ocidental, o Syrian Design Archive faz exatamente isso. Embora não sendo capaz de ler o elegante texto árabe, qualquer pessoa pode apreciar a variação desenhada à mão do script elegantemente escrito e as ligações alongadas com um toque estilístico. Em alguns casos, o script é alterado para indicar um símbolo emotivo, enquanto noutros designs, ascendentes e terminações são exagerados para realçar o ritmo visual de uma palavra. A poesia visual é intensificada pelas suas características caligráficas.
    

    A escrita árabe é o segundo sistema de escrita mais amplamente utilizado no mundo e o terceiro mais utilizado se falarmos em número(s) de usuários da World Wide Web, por exemplo, depois dos scripts latino e chinês. É lido da direita para a esquerda, o que afeta imediatamente a compreensão do espectador de uma imagem. Para quem está habituado a ler o alfabeto latino, entendemos o texto, e até a imagem, virando da esquerda para a direita. No entanto, quando se trata de entender as obras de arte neste arquivo, precisamos de fazer o que não estamos habituados e olhar na direção oposta. A construção inteira das imagens no arquivo é feita para ser compreendida da direita para a esquerda, o que torna então este processo de descoberta numa jornada lúdica, como crianças a brincar a tentar decifrar algo ou uma amalgação abstrata de formas. A História é ao contrário do que poderíamos esperar, consequentemente, dizendo algo totalmente oposto ao que podíamos ter imaginado.





Syrian Design Archive: Palestinian Literature Series, New Culture House (1989-1991). Design de Mouneer Alshaarani

    A coleção não apenas permite que o público aprecie as obras de arte, mas também convida a audiência a participar ativamente no processo de arquivo. Aqueles que possuem materiais impressos e estão dispostos a partilhá-los com a equipa do Syrian Design Archive encontrarão receptividade da parte de Kinda, Hala e Sally. Este esforço colaborativo visa nutrir o crescimento e evolução da coleção de design com contribuições de indivíduos interessados. 
Dentro desta plataforma, os leitores encontrarão uma extensa e rica fonte de informações sobre a história do design na Síria. 
    

A Síria é um país com uma rica história e cultura. É também um país com uma ampla variedade de atividades culturais na história moderna, como na impressão, jornalismo, teatro e arte. Todos estes campos contribuíram positivamente para a prática do design gráfico na Síria e proporcionaram ao país um vasto património visual." - Hala Al Afsaa




    Numa outra parte do arquivo, somos conduzidos por trabalhos de Mouneer Al Shaarani para a Exposição de Arte Árabe de 2001 em Apoio à Intifada (A Resistência Palestiniana). A tipografia apresentada deriva de um estilo criado pelo próprio, chamado caligrafia Kairouani ou caligrafia Kufi Kairouani, inspirado num dos variados estilos de caligrafia islâmica. Hala observa: "Nestes posters, percebemos que os elementos caligráficos predominam na formação do espaço negativo." Utilizando as cores da bandeira da Palestina, a caligrafia apresenta a expressão árabe "Ma'akoum", que significa "estamos aqui contigo". A afirmação está centralizada estrategicamente, transmitindo uma mensagem poderosa de solidariedade, unindo outras nações árabes à resistência palestiniana através de uma composição gráfica. Sally acrescenta: "Na nossa perspectiva, este poster transmitiu de maneira eficaz uma mensagem clara e impactante de maneira equilibrada."

    Arquivos como este têm o incrível propósito de serem exemplos de determinação de cidadãos comuns que, preocupados em preservar a sua cultura para a posteridade, dedicam as suas vidas à investigação e contribuição para a história de arte. Demonstram ainda ser de extrema importância para uma visão menos eurocêntrica da arte e do design, e reforçam a importância da comunicação visual na era da informação. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Lourdes Castro

 Lourdes Castro, nasceu no Funchal a 9 de dezembro 1930, e é reconhecida como uma das grandes artistas plásticas portuguesas.


Lourdes Castro, na Madeira

“Não corro para mostrar às galerias. Nunca corri. Mostro assim a um ou outro que vem cá e depois guardo. Não estou à espera de nada”


    Frequentou a escola alemã dessa ilha até esta encerrar devido a 2ª Guerra Mundial, ficando mais três anos na Madeira até se mudar para Lisboa. A artista frequentou o curso de pintura da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, não dando como concluído por “expulsão” em 1956, devido  à “não conformidade com o cânone académico que dominava o sistema de ensino de então". 

    A artista disse na sua entrevista ao expresso: “Já não podia mais com aquilo. Se a gente não pintava corzinha de pele, meio rosa… O mestre de Pintura não aceitava. Pintei a pele dos nus de verde e de azul. Como pintava em casa, comecei a pintar à minha maneira. Já fazia outras coisas. Isto era no Curso Superior de Belas Artes, que não acabei. Porque era preciso fazer seis modelos nus, seis naturezas mortas e mais não sei o quê… Era tudo às meias-dúzias.”

    Viveu um ano em Munique e pouco tempo depois partiu para Paris com o seu marido René Bertholo. Juntos fundaram, em 1958, a revista KWY, de uma forma espontânea no seu apartamento. Esta seria concebida como meio de comunicação e de partilha de ideias e conteúdos, utilizando a serigrafia como impressão. Chegaram a ser criadas doze revistas com ajuda e colaboração de amigos.


Lote de diversos convites e postais do grupo KWY


    Em meados da década de 60, as suas obras com as sombras projetadas seguiram de diversas formas, começando pela pintura e desenho, as serigrafias, o video acrílico, os lençóis bordados e até performances.


Sombra projetada, 1965
Sombras horizontais e verticais, 1979




Sombra projetada, 1964



    Completando quase dois anos desde o seu falecimento, a 8 de janeiro de 2022, termino relembrando uma pergunta que foi feita na última entrevista que Lourdes deu ao Expresso em 2019, quando o jornalista afirmou “A Lourdes gosta muito de dizer que não faz arte.”, ao que a artista lhe respondeu: “Nem faço arte nem deixo de fazer. Sim, chamem-lhe arte. Com os nomes não me estorvo. Podem dizer que é arte e que sou artista, não me abala. Diz-se “arte” para as pessoas saberem. Assim como temos um nome, para nos chamarem. Pois, tem de se dizer que é arte e que não é arte.”



Sites Consultados:


https://expresso.pt/cultura/2022-01-08-o-que-somos-nos-senao-um-agregado-de-mil-coisas--a-ultima-entrevista-de-lourdes-castro-ao-expresso-em-2019


https://cham.fcsh.unl.pt/actividades-detalhe.php?p=932


https://cham.fcsh.unl.pt/actividades-detalhe.php?p=932


https://gulbenkian.pt/historia-das-exposicoes/exhibitions/1003/













Dylan Goldberger, do Hobby ao Trabalho


Dylan Goldberger é ilustrador, designer e impressor que mora no Brooklyn, Nova York, e estuda Design de Comunicação no Pratt Institute. Agora dedica sua vida à criação de conteúdos artísticos e produtos personalizados que aumentam continuamente sua visibilidade. Considero-me um artista multidisciplinar que aproveita o potencial de diversas técnicas a seu favor para criar algo único.


A sua obra é essencialmente caracterizada por figuras antropomórficas de animais em jantares com humor ou referências ao quotidiano, que dá o nome de Paula Rego, artista portuguesa. Dylan Goldberger tem gosto por cabelo e skate e por isso mostra consecutivamente seu trabalho. É possível perceber a cultura do skate implícita em seu trabalho, como uma visão da comunidade a que pertence,   ou que mostra sua unidade de trabalho com as alegrias de seu povo e transmite sua individualidade. 


As técnicas que caracterizam o trabalho do artista são especialmente a gravura, incluindo técnicas de xilogravura e linogravura, bem como a serigrafia e o trabalho digital. Acaba utilizando as técnicas de forma multidisciplinar de forma a expressar as linhas e texturas que podemos encontrar tanto na xilogravura quanto na linogravura, e também podem ser vistas nos seus trabalhos digitais. Como as suas obras se caracterizam pela riqueza de detalhes e texturas, sendo também bastante descritivas, demonstram também uma complexidade e perícia nos métodos utilizados.


Os produtos criados pelo artista vão dos mais banais aos mais específicos, onde também podemos encontrar a sua vertente não-design, desde   a publicação de livros, design de skates, t-shirts, embalagens com o selo da marca do seu trabalho em seu estilo visual característico.


É um artista contemporâneo que mantém a sua atividade em redes sociais como o Instagram, onde podemos ver o seu processo criativo no dia a dia, não no seu estudo, e por sua vez não expõe os seus produtos. Inspira-se em utilizar as redes sociais para expressar o seu trabalho e em ser sempre inovador e não restrito a uma área artística.


Já colaborou com diversos clientes, como Vans, Thrasher Magazine, Deathwish, Creature Skateboards, entre muitos outros.



SITE: https://dylangoldberger.com/