“Viajando” com o livro
Introdução
Como aluno do Mestrado de Práticas
Tipográficas, suscitou-me a curiosidade de efetuar uma pesquisa sobre a
História do Livro. Visto tratar-se de um assunto tão complexo, limitei-me a
selecionar alguns aspetos mais relevantes.
O livro faz-nos recuar e refletir
sobre as suas transformações físicas, desde as transformações materiais dos
suportes sobre os quais o homem começou a escrever, dos ossos de mamíferos e
cascos de tartaruga até estelas de pedra da China antiga1 e tabletes de argila da
Mesopotâmia.
2-
Do Papiro ao Pergaminho
Como é óbvio, o livro está diretamente associado à escrita, pelo que tive de recuar até ao Egipto Antigo em que a escrita era feita no papiro , porém era exclusivamente executada por uma classe de escribas responsáveis pela leitura e fabricação dos textos oficiais e religiosos.
Papiro no Antigo Egipto com escrita hierática
Segundo
pesquisadores, as peças de papiro mais antigas já encontradas foram concebidas
há três mil anos antes de Cristo.
Outro suporto para a escrita desenvolvido na antiguidade, obtido a partir da pele de um animal, em especial cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha era o pergaminho.
Este era uma
referência à cidade de Pérgamo, na Ásia menor, onde sua fabricação alegadamente
se iniciou.
Fiquei a saber que os primeiros pergaminhos eram
quase iguais às peles de melhor qualidade da época (vellum), mas, durante o
primeiro milénio a.C. desenvolveu-se uma técnica com a qual se obtinha um
material de escrita melhor e mais branco.
Ao efetuar uma pesquisa ,
fiquei a saber que prieiro as peles eram mergulhadas em água de cal e os pelos
eram retirados. Depois, voltavam para um banho de cal e a seguir eram
resfriadas sobre uma armação para secar.
No processo de secagem, a
pele era desbastada, com todo o cuidado,
com o auxílio de uma lâmina em forma de meia lua, tornando-a muito fina.
Depois de secas, as peles eram lixadas com um pó fino de pedra pomes.
Tal como se verifica, na
imagem ,o pergaminho era cortado em folhas retangulares que, como as folhas de
papiro, eram unidas umas às outras pelas extremidades para poderem ser
enroladas.
No primeiro século d.C.
descobriu-se um modo para guardar pergaminhos muito mais conveniente que os
rolos. Cada folha retangular passou a ser dobrada uma, duas ou três vezes,
cortando-se as bordas e formando assim um fólio, quarto ou oitavo. Essas folhas
eram então encadernadas em capas de madeira fina e lisa. Tal volumen, como era
chamado, deu origem aos livros, tais como são conhecidos atualmente.
Eis alguns exemplos de escrita:
Inscrições
romanas
3- Do Pergaminho ao
papel:
Na China, começou-se a
fabricar o papel, no qual empregavam inicialmente a polpa fibrosa
que se encontra sobre a casca da amoreira. No século XIII, o papel começa a ser
fabricado em diversos países da Europa, substituindo gradualmente o pergaminho,
devido aos custos menores e simplicidade de manufatura. Até então, tanto na
China como nos países islâmicos, o processo era completamente manual. Isso
mudou em continente europeu, pois, ao utilizar refugo de linho para a
fabricação de papel, surge a ideia de adaptar os moinhos de água para
transformar os trapos em polpa. Desse modo, logo no final da Idade Média,
algumas operações de fabricação do papel já utilizavam processos industriais.
Por volta do
século X a. C., a organização dos documentos escritos ganharam maior
funcionalidade com a invenção dos pergaminhos. Apesar de não terem a mesma
praticidade dos encadernados, essa base material foi de suma importância para a
preservação de importantes textos da Antiguidade, como a Bíblia Sagrada e os
escritos de alguns pensadores do mundo clássico. Vale a pena frisar que a
qualidade e a resistência dos pergaminhos era superior à do papiro.
O Livro na Idade Média
Durante a alta Idade Média a produção de livros esteve restrita aos meios religiosos. Nos Mosteiros, faziam-se cópias à mão de livros considerados importantes na época, entre eles estavam às obras clássicas de outros .
O domínio do cristianismo, conservava as obras de escritores pagãos como um mal necessário, pois só nelas se encontravam noções essenciais sobre filosofia que contribuíram para o desenvolvimento da teologia cristã. É interessante notar que as bibliotecas dos mosteiros estavam divididas em duas partes, uma para os livros pagãos e outra para os livros cristãos. Isso para facilitar a pesquisa e impedir que os religiosos lessem obras pagãs caso esse não fosse seu desejo.
Os monges trabalhavam no cultivo e na criação. Alguns, porém, passavam todos o tempo na biblioteca, copiando e estudando as obras dos grandes escritores da Antiguidade, sobretudo gregos e romanos. Eram os monges copistas. Eles produziram verdadeiras obras de arte. Nas margens das páginas, desenhavam ilustrações (iluminuras), utilizando um tipo de letra que hoje conhecemos como gótica.
Ilustração de um monge copista
Texto com iluminuras e letra gótica
A Invenção da Imprensa com Guttenberg
Na imagem acima, Gutenberg (à direita) manuseia um panfleto
Gutenberg desenvolveu um sistema mecânico de tipos móveis que deu início à Revolução da Imprensa, e que é amplamente considerado o invento mais importante do segundo milénio.
Gutenberg foi o segundo no mundo a usar a Impressão por tipos móveis, por volta de 1439, após o chinês Bi Sheng no ano de 1040, e o inventor global da prensa móvel.
O uso de tipos móveis foi um marcante aperfeiçoamento nos manuscritos, que era o método então existente de produção de livros na Europa, e na impressão em blocos de madeira, revolucionando o modo de fazer livros na Europa. A tecnologia de impressão de Gutenberg espalhou-se rapidamente por toda a Europa e mais tarde pelo mundo.
Também conhecida como a Bíblia de 42 linhas), foi aclamada pela sua alta estética e qualidade técnica.
Do papel ao digital
Ainda existem poucas obras disponíveis mas, pouco a pouco, a nossa biblioteca se irá tornar numa referência para quem gosta de literatura e fala português. Pelo menos assim esperamos
João Carlos Canotilho | @canotilho_ | 14600
Estudos Avançados de Cultura Visual | Prof. João Queiroz | FBAUL | 2022/2023