Nascido em 1941 no bairro nova-iorquino do Bronx, Seth Siegelaub ficou conhecido como um importante fomentador da arte conceitual. A sua atuação como organizador de exposições foi breve, mas nem por isso menos intensa. Entre os anos de 1964 e 1971, Siegelaub organizou mais de vinte exposições na América do Norte e na Europa, associando-se a artistas e curadores envolvidos em práticas conceituais.
Apesar da proximidade com a arte conceitual, Siegelaub não acreditava nas definições fixas que eram associadas a esta prática – um fator comum ao contexto histórico em que ele se insere, quando a arte contemporânea dava seus primeiros passos. Assim como era característico das análises da época, Siegelaub reconhece que, diferentemente das vanguardas artísticas do início do século, não havia uma reação imediata aos seus predecessores, seja este a partir de uma semelhança, uma antítese ou até mesmo uma negação. Para ele, muitos artistas conceituais não estavam em oposição aos objetos específicos do minimalismo, por exemplo, mas agiam justamente no limite entre as duas práticas. Segundo o curador, a categorização de práticas em movimentos artísticos pode ser considerada como ficcional, sendo utilizada de uma maneira promocional e, em última análise crítica, como um dispositivo econômico no meio da arte.
Por mais que as classificações sobre a arte conceitual sejam, na sua opinião, “simplistas” e “ilusórias”, alguns traços gerais desta prática artistica foram cruciais para que o curador desenvolvesse suas exposições-catálogo. Entre esses fatores, está o uso predominante da linguagem ou de informações banais como um comentário e, por vezes, como uma análise crítica e visual do ambiente em que um indivíduo pode se inserir. Levando em consideração esta postura crítica que Siegelaub apresentava, seja em relação à arte conceitual, ao ambiente que o cercava ou às suas outras frentes de atuação, é conveniente ressaltar que muito do que foi desenvolvido em suas atividades curatoriais diz respeito à uma análise de seu próprio papel como um curador. Assim como os artistas conceituais, ele explorou métodos de comunicação subversivos em sua prática, levantando questões fundamentais sobre a execução, a exposição, a distribuição, a posse e a venda da arte. Suas exposições tomaram notoriedade principalmente por apresentarem alternativas aos espaços institucionalizados pelos quais as obras de arte transitavam até então. Pode-se dizer que, através de seu trabalho, Siegelaub desejava desfocar as fronteiras desses espaços e papéis.
Um bom exemplo quanto a este processo é a exposição-catálogo “Xerox Book”, publicada em dezembro de 1968. A publicação foi editada em colaboração com Jack Wendler e, oficialmente, levava como título principal o nome dos artistas participantes: Carl Andre, Robert Barry, Douglas Huebler, Joseph Kosuth, Sol LeWitt, Robert Morris, Lawrence Weiner. Apesar disso, ficou conhecida como “Xerox Book”, por apresentar como proposta inicial que cada um dos sete artistas ocupasse vinte e cinco páginas com um trabalho cujo suporte principal fosse a fotocopiadora. Inicialmente, a ideia era que este livro fosse copiado inúmeras vezes, mas o processo acabou mostrando-se mais custoso do que o esperado. Como o objetivo dos editores era que a exposição-catálogo fosse amplamente distribuída, a primeira tiragem de mil cópias foi impressa em offset.
Esta não foi a primeira experiência expositiva em impressos de Siegelaub, sendo precedida por dois exercícios do mesmo ano: a publicação “Douglas Huebler” (novembro, 1968), contendo trabalhos das suas séries “Variable Pieces” e “Duration Pieces”; e a publicação “Statements” (dezembro, 1968), contendo 25 trabalhos do artista Lawrence Weiner que utilizavam o texto como suporte. No entanto, foi em “Xerox Book” que o curador propôs pela primeira vez uma situação específica aos artistas para uma exposição-catálogo.
Acerca do processo de realização, Siegelaub descreve em entrevista à Hans Ulrich Obrist que esse projeto se desenvolveu colaborativamente com os artistas com quem ele trabalhava – como era de costume em outras exposições organizadas na sua galeria. Sendo esta a sua primeira experiência com uma proposição a qual os artistas deveriam responder, Siegelaub declara que a sua ideia era que, a partir da uniformização consciente das condições, “as diferenças resultantes do projeto de cada artista seriam precisamente o assunto primordial do trabalho desse artista”. Isto é, ao invés de homogeneizar o exercício artístico, essa experiência curatorial poderia destacar a singularidade de cada trabalho.
Publicado em março de 1969, “March Show” [Exposição de Março] foi uma outra exposição-catálogo publicada por Siegelaub com um calendário na capa, contendo obras-texto de diversos artistas – um para cada dia do mês. Também conhecida como “One Month” [Um Mês], a exposição contou com os diversos artistas, entre eles: Carl Andre, Terry Atkinson, Michael Baldwin, Robert Barry, Dan Flavin, Alex Hay, Douglas Huebler, On Kawara, Joseph Kosuth, Sol LeWitt e Ed Ruscha. Esses artistas foram convidados para participar através de uma carta enviada por Siegelaub, que continha algumas explicações simples sobre as condições para a realização do projeto, como, por exemplo, se desejavam que seu nome fosse explicitado no catálogo ou não. No mais, os artistas estavam livres para pensarem proposições ocupando as páginas desta exposição-catálogo, e os trabalhos variavam entre práticas conceituais, linguísticas, registros de performances, proposições site specific ou de land art.
Após os exercícios de exposições-catálogo descritos acima, Seth Siegelaub realizou uma proposição expositiva em um canal de considerável circulação: a edição de julho/agosto de 1970 da revista de arte Studio International. Dessa vez, a proposição foi feita à críticos e curadores, que, por sua vez, convidaram outros artistas para participarem desse projeto.
A exposição dentro da revista recebeu o título de “July/August 1970” [Julho/Agosto 1970] e consistia em quarenta e oito páginas que foram distribuídas a seis críticos, onde cada um estaria responsável por oito páginas consecutivas da publicação. Esse espaço deveria ser distribuído para um ou mais artistas que fossem de seu interesse, criando assim um compilado de exposições coletivas e individuais. Nesse caso, pode-se dizer que as páginas da revista foram ocupadas como salas de uma galeria.
Seja tratando de exposições em catálogos, livros ou revistas, os experimentos curatoriais de Siegelaub trazidos acima demonstram o seu esforço em borrar as fronteiras entre o espaço expositivo e o que, à primeira vista, pode ser considerado um catálogo. Nesses casos, as exposições eram o catálogo, onde este deixa de exercer uma função de registro informativo de uma exposição e passa a funcionar como um espaço mais amplo do que as paredes de um cubo branco.