Museu Coleção Berardo: Lu Nan, TRILOGIA: Fotografias [1989 - 2004]
(Exposição temporária: patente do dia 10 de Outubro de 2017, ao dia 14 de janeiro, de 2018)
Existe, ainda hoje, uma curiosidade Ocidental pelo Oriente. Sobretudo no que toca a modos de vida, fora da vista do turismo, em locais e paisagens remotos. Essa curiosidade, enforma-se ao compreendermos a extensão, do território de nações como a China, por exemplo.
A China é o maior território da Ásia Oriental e o país mais populoso do mundo, com 1.379 bilhões de habitantes, em 2016.
Além das questões lógicas, sobre os seus modos administrativos (e etc.), coloca-se a questão: Como será a vida, dos chineses que não se vêem habitualmente? Ou, será daqueles que, os próprios chineses, não querem que vejamos..?
A exposição do Museu Coleção Berardo, de Lu Nan, um fotógrafo chinês da agência Magnum, nascido em Pequim (1962), pretendeu dar-nos a conhecer visualmente, essas realidades paralelas às convencionais, dedicando 15 anos no total, para o desenvolvimento de um projecto fotográfico, de carácter quase “épico”.
Este projecto fotográfico, é sobretudo uma Obra de Arte, simbolicamente relacionada com aspectos filosóficos da nossa existência.
Numa primeira análise, ao sermos confrontados com algumas das realidades chocantes retratadas, sentimos que estamos perante um documento de registo histórico, e embora essa afirmação seja feita através do realismo das cenas que apresenta, é, em simultâneo, uma Obra comparável a grandes clássicos, como o tríptico de Bosch, ou a Divina Comédia de Dante.
Na primeira, das suas três partes, é nos mostrado um retrato da miserável vida dos pacientes, com distúrbios mentais, que habitavam de forma precária, os asilos chineses no período de 1989 a 1990, em que Lu Nan, contactou com 14 mil desses pacientes, em 38 hospitais, distribuídos por 10 províncias e grandes cidades. Além disso, procurou por mais de 100 familiares de doentes mentais e sem-abrigo, também com distúrbios.
As imagens expressam o sofrimento e a dor, da vida infernal de estes seres humanos, alguns acorrentados durante anos por uma mão ao chão, do que parece ser mais uma cela, do que um quarto hospitalar.
A segunda parte da trilogia, em 10 províncias e grandes cidades, provoca uma estranheza curiosa, que nos faz contemplar cenas, que são de uma familiaridade provincial portuguesa, lembrando-nos das tradições cristãs, a que o interior do nosso país nos acostuma. Cenas, cujos protagonistas, se contrastam connosco, diferenciando-se apenas nas sua feições faciais, sendo a semelhança relativa à exportação Ocidental da religião Cristã, um facto do conhecimento histórico da Humanidade. Mas aqui, Lu Nan mostra-nos a vida cristã vivida por chineses, povo convicto das suas crenças e paixões, evidentes nas imagens apresentadas, simbólicamente representadas por tradições da Fé Católica.
Durante o período de 1992 a 1996, visitou mais de 100 igrejas, captando um modo de vida ligado ao Divino, de crentes cuja fé, se concretiza no seu quotidiano.
A terceira, é mais “terrena”, ou “térrea”, exibindo a vida rural do Tibete, que se organiza segundo as estações do ano, visto serem meios em que se vive da terra, e para a terra, e se é vítima das forças agrestes da Natureza, sobretudo no Inverno.
Vêem-se as forças humanas em acção, para a sua sobrevivência e o quotidiano de uma vida ligada à Terra, de uma naturalidade pacífica, cujas imagens o transmitem, tanto, através da narrativa criada nesta exposição, tanto por si só.
Este ensaio fotográfico, intitulado “four seasons”, leva-nos numa viagem que acompanha o ciclo, desde a Primavera, em que se semeia, o Outono: período de ceifa, à colheita no Verão, do que lhes serve para a subsistência na dureza do Inverno.
Lu Nan, revela mestria na prática da Fotografia, através do seu sentido estético e enorme respeito, pelos objectos da sua atenção, resultando em imagens de carácter humanista, de exímia manipulação fotográfica e de pontos de vista.
A Trilogia de Lu Nan, não é como as trilogias clássicas, já referidas, mas sim, um projecto fotográfico documental e simultâneamente artístico. Todas as imagens expostas, mostram-nos o seu olhar sobre uma China de outros tempos, que pode, ou não, ter mudado. Contudo, foi real e permite-nos entender melhor, este fascinante e imenso povo, cuja dimensão se aproxima rapidamente a um quinto da população mundial.
O percurso, delimitado pelo espaço, terminava num compartimento do mesmo, com uma projeção de fotografias, com uns bancos corridos onde nos podíamos sentar, a contemplar estas fotografias que nos mostram estas formas de vida, tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximas.
Para o leitor, apaixonado pela Arte da Fotografia, que pensa para si próprio: “que pena, não ter ouvido, ou lido, sobre isto antes…”, deixo-lhe uma amostra virtual e o link onde pode ver uma galeria com 51 imagens deste projecto e algumas do seu mais recente, em que fotografou as prisões da Birmânia. Que, embora não sejam todas, já nos permitem ter uma ideia do virtuosismo, desta Obra e do seu autor.
Bom, mas deixemos as imagens falarem, mais que mil palavras, num olhar.
Fig. 1
Fig. 2
Fig. 3
Fig. 4
Fig. 5
Fig. 6
Fig. 7
Fig. 8
Fig. 9
Fig. 10
Fig. 11
Fig. 12
Fig. 13
Fig. 14
Fig. 15
Fig. 16
Fig. 17
Fig. 18
Fig. 19
Fig. 20
Fig. 21
Fig. 22
Fig. 23
Fig. 24
Fig. 25
Fig. 26
Fotografias (Fig.1-26) e texto por: André Rocha ©️ 2018, em Museu Coleção Berardo, Exposição temporária: Lu Nan, TRILOGIA: Fotografias [1989-2004] , de 10 de Outubro de 2017 a 14 de Janeiro de 2018.