segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Newton’s Fault by José Dávila (Konig Galerie Fev’18)

José Davilla, artista mexicano sediado em Guadalajara, arquitecto de formação, apresenta-se pela segunda vez a solo na Konig Galerie entre Janeiro e Fevereiro de 2018.
Dávilla destaca-se através de uma grande diversidade de meios e considera-se um artista self-taught com uma formação intuitiva.
O se trabalho resulta tanto de uma preocupação em levar a resistência dos materiais e das concepções de forma ao seu limite como de uma apropriação e recontextualização de obras de arte, questionando-as e colocando-as num contexto contemporâneo.
É bastante visível a sua procura pelas polaridades e pelas linhas ténues que de certa forma as unem.
'The stone that the builder refused', foi a sua instalação para a Konig Galerie em 2017, parte da sua série Joint Effort, onde desenvolveu vários estudos sobre o espaço, utilizando uma grande variedade de materiais e aplicando uma meticulosa gestão de equilíbrio e força, gerando assim composições com uma tensão incrivelmente harmoniosa.
Regressa agora, um ano mais tarde, com 'Newton's fault', onde cria novamente uma instalação site-specific, onde as particularidades do espaço são integradas na dinâmica da escultura. Duas pedras em bruto estabilizam o jogo de forças entre vigas de metal. As pedras como fruto da natureza, vulcânicas, e as vigas como fruto das mãos do homem.
A maçã é colocada na instalação de forma simbólica. Cita a física, com Newton e a lei da gravidade, mas ao mesmo tempo refere um lado mitológico e religioso com o símbolo do pecado.
Há uma harmonia e um balanço muito delicados nas estruturas criadas por Dávilla. Os seus trabalhos regem-se pela sua própria lógica numa busca pelos limites das leis da física, onde a forma é uma consequência do processo. As suas peças são montadas com um grande nível de delicadeza, e destacam a intervenção humana que transforma o espaço e traz novos significados ao objecto.

A exposição estará patente até 25 de Fevereiro deste mesmo ano.

sábado, 27 de janeiro de 2018

“DESTINED FOR FAILURE” do artista DEALMEIDA E SILVA



A exposição “DESTINED FOR FAILURE” do artista DEALMEIDA E SILVA, com curadoria de Nuno Crespo, inaugurou dia 11 de Janeiro. Pode ser visitada do dia 12 de Janeiro ao dia 1 de Fevereiro entre Terça e Sábado das 14h00 às 19h00.
DEALMEIDA E SILVA é um jovem artista português que estudou pintura nas belas artes. Desde que acabou o curso esteve em Berlin, Leipzig, Hamburgo e Lisboa, sítios em que têm desenvolvido o seu trabalho.
Conheci o trabalho do artista, numa pequena residência que fez no BREGAS, antigo atelier dos artistas João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira.
Recentemente inaugurou uma exposição com outros jovens artistas, Igor Jesus, Tiago Alexandre, na casa-atelier Júlio Pomar.
O seu trabalho é particular, quase sempre pintura cheia de cores fortes, temas clássicos, juntos de formas estranhas com uma linguagem do grafiti.
O seu trabalho lembra-me o trabalho da artista norte americana Katherine Bernhardt, pela bidimensionalidade das formas, fundos lisos, e pelo jeito “infantil” em desenhar os objectos de uma forma totalmente despreocupada e livre.
Esta exposição dividia-se em duas salas. A primeira continha quatro grandes pinturas dispostas em quatro paredes. A segunda duas pinturas grandes, uma pintura desengradada (só o pano) enviesada à sala no chão, uma pintura com volume, ou seja, um objecto que remete para uma taça grega mas que na minha opinião encontra-se no campo da pintura e não no da escultura, e duas pinturas de pequenas dimensões, uma no alto da parede e a outra no baixo, quase a tocar no chão.




“Neste sentido, os trabalhos de Dealmeida Esilva podem constituir-se para o seu espectador como uma espécie inesperada de lições anacrónicas de pintura onde se dá a ver a proximidade e relação entre, por exemplo, Tintoretto, Giorgione, Tiziano, Bellini e Veronese (For all the forgotten Muses, 2017). E esta é uma relação anacrónica porque não obedece a nenhum principio cronico, temático ou estilístico, mas a um apetite voraz pelas imagens, pela sua génese…” (Nuno Crespo)
É uma exposição bem conseguida, em que todas obras dialogam entre si.

Em todos os trabalhos exposto é privilegiada a expressão individual do artista que faz o seu trabalho a partir de um treino e disciplina diária “daily practice of painting”.


quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

“Time Capsule. A revista Aspen, 1965 - 1971”


Até o dia sete de Janeiro de 2018 era possível visitar a exposição “Time Capsule. A revista Aspen, 1965 - 1971”, que teve início no dia 14 de Outubro de 2017. Durante esses quase três meses, a exposição esteve instalada nas galerias da Culturgest, espaço cultural da Fundação Caixa Geral de Depósitos. Com curadoria de Delfim Sardo, as salas reuniam os dez números publicados da revista Aspens ao longo dos seis anos, além do material físico, também era possível apreciar vídeos com a montagem e explanação dos materiais específicos que compunham as edições. 

A exposição era composta por vitrines - com todo o conteúdo das revistas (cada espaço com uma edição específica) - cartazes na parede e um vídeo para explanar o material. Também era integrada por computadores espalhados ao longo das salas, nesses computadores, um site disponível online “http://www.ubu.com/aspen/advertisements/aspen1Ad.html”. O site da Ubu já existia e foi incorporado a exposição, a envolver todo o conteúdo particular da revista, de forma precisa. Logo na entrada era possível adquirir um guia informativo, com detalhes bem específicos, como se fosse uma versão impressa do site, mas com direcionamentos voltados a interação expositiva espacial.


A revista Aspen foi pensada principalmente pela editora norte-americana Phyllis Johnson, dentro de um contexto inovador onde a efervescência cultural da cidade de Aspen chamava atenção. Em 1965 a editora concebe a primeira edição da revista disponível somente por assinatura. A ideia era compor cada edição de forma ativa, moderna e revolucionária, algo distinto de tudo que já tinha sido feito e publicado até então.   
Cada caixa continha inúmeros materiais (brochuras, postais, cartazes, discos, filmes…), possibilitando ao assinante o acesso ao novo, as tendências inovadoras, ao que estava sendo pensado e produzido pela cena artística (músicos, ilustradores, filósofos, performers) da época. Cada número da revista teve um editor e designer diferentes (as vezes acumulando a mesma função), o que revela o caráter colaborativo do projeto.  

Ao longo dos seis anos, muitos nomes passaram pela Aspen, alguns particularmente bastante conhecidos, como Roland Barthes, que publicou seu texto “The death of the author” (“A Morte do Autor”), na edição de número #5+6. Interessante perceber que a revista através dos anos não apenas evidenciou a produção artística/filosófica dos colaboradores convidados, mas acabou por se tornar um retrato do movimento cultural norte-americano entre os anos de 1960 e 1970. 


Na Aspen #1 há uma carta da editora Phyllis Johnson aos subscritores da revista, onde escreve “ In short, “Aspen” is the first three-dimensional magazine”. A Aspen chega até os dias de hoje, como matéria viva de um tempo. Retrato da coragem de um grupo de pessoas, que se lançaram ao abismo escuro e criaram a “primeira revista tridimensional”, o que hoje pode ser compreendido no âmbito abstrato/real do livro-objeto. A revista transcende as normas e se concretiza no mundo como marco significativo do pensar e fazer arte. 


A exposição se apresenta de forma bastante didática, através do guia, dos computadores e das vitrines. Ela é autoexplicativa e cumpre com a sua intenção, trazer aos visitantes os detalhes e a grandeza da revista Aspen. De fato, “Time Capsule. A revista Aspen, 1965 - 1971”, propõe ao público uma imersão no conteúdo da revista e encanta pela seu material, mas não tem a intenção de ultrapassar as barreiras, pois a forma de apresentação segue os padrões reconhecidos pela expografia. Isso não a torna menor, porém não provoca, quem adentra ao espaço, a fruição estética.


Para detalhes de cada edição, basta acessar: http://www.ubu.com/aspen/advertisements/aspen1Ad.html

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

As Happy As Sad Can Be - Wasted Rita


No

Neon light, 39 x 29 x 05 cm, 2017


As Happy As Sad Can Be is a solo exhibition by Portuguese visual artist and illustrator Wasted Rita who is known as activated and instalment distribute her works between her own Blog and multi-social media. The exhibition is shown in 20 October to 18 November in 2017. It's located in Underdogs gallery Lisbon and curated by street artist Vhils aka Alexandre Farto. 

According to the artist, As Happy As Sad Can Be metaphor the idea of image of a dog happily wallowing in a pool of mud, where the artist is the dog, the mud is her negativity and the act of wallowing is her art. The exhibition comprises few different collection of installations set in different corners of the gallery, it's explores the subject about the artist - the energising taste of summer, social media, guilty pleasures and shortcoming of female condition, also, it's opposite, about men.

A LIST OF THINGS THAT LOOK COOLER ON THE INTERNET, INCLUDING INTERNET

Acrylic on Canvas 250x150 cm, 2017


yum yum dates wit ya (left)

cinema light box 100 x 180 x 8 cm, 2017


Catch me if you care (right)

claw crane 171 x 62 x 62 CM, 2017


Angry Girls

Drawing on paper, 20 x 16 cm, 2017



Continuously follow her works in internet since 2011, Wasted Rita always provide a wide angle of her daily life, explore her own biography with the "virtual" audiences, sometimes it's mean, humour, tragedy, ego, emo, punk and smells teen. In As Happy As Sad Can Be, she convey those particular mood of each setting, pastiche of ordinary looking props, clothes, furniture, neon lights, paintings, cinematographic and theatrical feel objects to the scene. 


Photos by UnderDogs Gallery 2017


Even the exhibition divides in cinema alike, bedroom or fictional "Ego"spaces which is created by the artist, there's no doubt about she managed the graphic medium like paintings, poster paints, still in her way with ideal conceptual contents, which is mostly people appreciate about the works, those kidult fonts and careless line spacing is signature. 

It's great to experienced the works and ideas in different medium out of the paper format, the approach of limitations of the gallery, blurs the lines between life and art through different kind of act scene, in some way the works isn't that fit the space, it's not big enough(the objects, the paintings and neon lights) and feel empty, lack of fulfill of the gallery unfortunately, that's the problem that the artist and gallery need to consider about how to make well execution when the works becoming from digital to physicals.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Frames Of Reference


Frames Of Reference


Um vídeo que estuda uma nova visão, sobre o observador e objetos, fora do observador, em movimento. À semelhança de como vai explicando Crary Jonathan em “Técnicas do Observador”, que descreve o percurso do desenvolvimento tanto do observador como das tecnologias que dão avanço à visão, até chegar ao “novo observador” moderno. Este vídeo tratar também de explicar, com as suas novas metodologias e tecnologias, o novo observador, a visão abstrata, a relatividade de movimentos e a maneira como a perceção humana processa estes estímulos visuais.
Esta remodelação de modelos epistemológicos da visualidade, que Crary descreve, foram muito importantes porque veio engendrar as precondições para a emergência da abstração da visão em curso na contemporaneidade.


Frames of Reference trata-se de um vídeo de estudos sobre a perceção da visão humana com objetos em movimento e objetos em movimentos relativos a outros objetos em movimento, onde neste texto vou explicar algumas das experiências desenvolvidas neste vídeo com apoio das novas câmaras de vídeo, engenhos mecânicos e teorias de física. 
Feito em 1960 pela The Physical Science Study Committee, com apoio da The National Science Foundation; The Alfred P. Sloan Foundation e The Ford Foundation. Apresentado por Professor Patterson Hume e Professor Donald Ivey, University of Toronto.





"Nos costumamos ver as coisas de um ponto de vista particular, isto é, de um particular quadro referencial. E as coisas parecem-nos diferentes sobre diferentes circunstâncias", introduz assim o vídeo o professor Donald Ivey que aparenta estar normal, até aparecer o professor Patterson Hume, que dá inicio a uma pequena discussão sobre quem está de pernas para o ar, que se resolve rapidamente com uma moeda atirada ao ar que revela que o professor Donald Ivey estava de fato ao contrario, quando a sua moeda foi direita ao chão, que na camara que filma parece-nos estar normal porque a camara também estava ao contrario.





Em uma nova experiência o professor Patterson Hume diz estar a mover-se para a esquerda, porque a parede por trás está a mover-se para o lado oposto, mas de fato era a parede que se estava mover e não o professor. Logo de seguida é demonstrado exatamente o mesmo processo, mas neste caso é o professor que se mexe para a direita e parede é que está fixa, que é percetível porque o professor Donald Ivey está por de trás parado.
Todo o movimento é relativo, em ambos os casos o professor Patterson Hume, esta a mover-se relativamente à parede e a parede estava a mover-se relativamente ao professor.



Todo o movimento é relativo, mas nós temos tendência a pensar que uma coisa está fixa e a outra está em movimento. Geralmente pensamos que a terra está parada e as paredes fixas na terra estão também paradas. Um quadro referencial fixo à terra é o quadro referencial mais comum para observar o movimento das coisas. Claro que a razão pela qual os sistemas de coordenadas terem três eixos é porque se torna possível de definir a posição de qualquer objeto no espaço, usando as três linhas de referência.


Numa nova experiência é presa uma bola por um íman a um carrinho que desliza da esquerda para a direita, e uma camara fixa que capta o movimento da bola, em movimento, a cair. No vídeo da camara fixa, é desenhada a trajetória da bola a cair que por sua vez resulta numa parábola.



Mas tudo isto tem sido num sistema de coordenadas fixo na terra. É feito a mesma experiência, mas desta vez a camara é fixa ao carrinho, que, no mesmo sistema, grava a bola a cair e o professor Donald Ivey fica por trás quieto, desta vez para nos dar perceção que o carrinho está em movimento. De seguida é filmada a mesma situação, mas desta vez sem o professor por trás, apenas um fundo branco, que resulta numa perceção completamente diferente, em que, neste caso o carrinho parece estar parado, quando na verdade está em movimento numa velocidade constante. O importante a perceber aqui, é que todos os quadros referenciais, que se respeitem um ao outro, movendo a uma velocidade constante, são equivalentes.




  Numa nova experiência o Professor usa mais uma vez o carrinho que desliza de esquerda para a direita. No carrinho está anexado uma circunferência mecânica giratória pintada de preto com um ponto branco. A atenção vira-se para o ponto que gira pela circunferência e o percurso que este faz no espaço com o carrinho em movimento a uma velocidade constante.
 A atenção do observador, vira-se para o percurso do ponto branco, como se fosse fazendo circunferência, mas na verdade, quando este atravessa um vidro que começa a desenhar o verdadeiro percurso do ponto branco em movimento no espaço, no quadro referencial da terra, deixa qualquer observador estupefato com o diferença da perceção humana para o verdadeiro percurso que foi desenhado.




Nós vemos o ponto a mover em círculos, porque nos colocamos no ponto de referência do carrinho em movimento, portanto não é evidente que não é sempre verdade que vemos a nossa perceção no quadro referencial da terra. Quando o movimento é simples, nós automaticamente colocamo-nos nesse frame em movimento do carrinho.




Uma nova experiência sobre o movimento, onde é comparado a velocidade de um objeto num quadro referencial sobre a velocidade de outro objeto noutro quadro referencial. A experiência trata-se de um carrinho em movimento onde ambos os professores estão sentados com uma mesa entre os dois. Na mesa vão passando um pequeno objeto que desliza de um lado da mesa até ao outro, enquanto que o carrinho percorre da esquerda para a direita. Isto resulta mais uma vez numa estranha perceção. Ambos os professores estão em movimento no carrinho e quando é lançado o pequeno objeto da esquerda para a direita, percurso que o carrinho faz, para quem está num quadro referencial fixo, fora da situação, ficamos com uma ideia da velocidade constante que o objeto faz. Mas quando este é faz vai da direita para a esquerda, visualmente parece nos que o objeto anda muito mais devagar, quando na verdade mantem a mesma velocidade constante de quando foi lançado para a direção oposta.



É feita uma nova experiência onde é comparado a diferença da velocidade constante e de uma aceleração constante. À semelhança da experiência da bola em queda, mas desta vez foi anexada dois pesos que dão ao carrinho uma aceleração constante, que resulta na bola em queda que desta vez aterra no carrinho, mas um pouco mais atrás. A gravidade é a única força que age sobre a bola, e um carro a mover a uma velocidade constante é um quadro inercial, mas um carro em aceleração não é um quadro inercial. Por causa do sistema de coordenadas que estamos habituados a viver é um em que a lei inercial defende, quando nos vamos para um referencial não inercial, como o do carro em aceleração, a nossa perceção acredita tanto na lei inercial, que quando vemos a aceleração da bola em queda para o lado, nós pensamos que existe uma força a desvia-la. Uma força fictícia. As forças fictícias aparecem em quadros referencias acelerados. A perceção fica no referencial acelerado na sua direção, portanto nós nesse referencial vemos a aceleração da bola na direção oposta e ficamos com a ideia de que é uma força que a causa.





O que para mim é mais importante a retirar deste vídeo e destes pequenos ensaios, como também explica muito bem Crary em “Técnicas do Observador”, é que à medida que os estudos físicos, os desenvolvimentos tecnológicos vão prosseguindo também se vai remodelando os modelos epistemológicos da visualidade. E o que hoje é desenvolvido nas diferentes áreas, vai ter consequências no observador dos dias de hoje, que por sua vez vai influenciar inclusive a maneira como a arte está a ser, neste momento, observada e representada.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O olhar de Lu Nan sobre a China, através da sua lente.

Museu Coleção Berardo: Lu Nan, TRILOGIA: Fotografias [1989 - 2004]

(Exposição temporária: patente do dia 10 de Outubro de 2017, ao dia 14 de janeiro, de 2018)

Existe, ainda hoje, uma curiosidade Ocidental pelo Oriente. Sobretudo no que toca a modos de vida, fora da vista do turismo, em locais e paisagens remotos. Essa curiosidade, enforma-se ao compreendermos a extensão, do território de nações como a China, por exemplo.
A China é o maior território da Ásia Oriental e o país mais populoso do mundo, com 1.379 bilhões de habitantes, em 2016.
Além das questões lógicas, sobre os seus modos administrativos (e etc.), coloca-se a questão: Como será a vida, dos chineses que não se vêem habitualmente? Ou, será daqueles que, os próprios chineses, não querem que vejamos..?
A exposição do Museu Coleção Berardo, de Lu Nan, um fotógrafo chinês da agência Magnum, nascido em Pequim (1962), pretendeu dar-nos a conhecer visualmente, essas realidades paralelas às convencionais, dedicando 15 anos no total, para o desenvolvimento de um projecto fotográfico, de carácter quase “épico”.
Este projecto fotográfico, é sobretudo uma Obra de Arte, simbolicamente relacionada com aspectos filosóficos da nossa existência. 

Numa primeira análise, ao sermos confrontados com algumas das realidades chocantes retratadas, sentimos que estamos perante um documento de registo histórico, e embora essa afirmação seja feita através do realismo das cenas que apresenta, é, em simultâneo, uma Obra comparável a grandes clássicos, como o tríptico de Bosch, ou a Divina Comédia de Dante.
Na primeira, das suas três partes, é nos mostrado um retrato da miserável vida dos pacientes, com distúrbios mentais, que habitavam de forma precária, os asilos chineses no período de 1989 a 1990, em que Lu Nan, contactou com 14 mil desses pacientes, em 38 hospitais, distribuídos por 10 províncias e grandes cidades. Além disso, procurou por mais de 100 familiares de doentes mentais e sem-abrigo, também com distúrbios. 
As imagens expressam o sofrimento e a dor, da vida infernal de estes seres humanos, alguns acorrentados durante anos por uma mão ao chão, do que parece ser mais uma cela, do que um quarto hospitalar.

A segunda parte da trilogia, em 10 províncias e grandes cidades, provoca uma estranheza curiosa, que nos faz contemplar cenas, que são de uma familiaridade provincial portuguesa, lembrando-nos das tradições cristãs, a que o interior do nosso país nos acostuma. Cenas, cujos protagonistas, se contrastam connosco, diferenciando-se apenas nas sua feições faciais, sendo a semelhança relativa à exportação Ocidental da religião Cristã, um facto do conhecimento histórico da Humanidade. Mas aqui, Lu Nan mostra-nos a vida cristã vivida por chineses, povo convicto das suas crenças e paixões, evidentes nas imagens apresentadas, simbólicamente representadas por tradições da Fé Católica.
Durante o período de 1992 a 1996, visitou mais de 100 igrejas, captando um modo de vida ligado ao Divino, de crentes cuja fé, se concretiza no seu quotidiano.

A terceira, é mais “terrena”, ou “térrea”, exibindo a vida rural do Tibete, que se organiza segundo as estações do ano, visto serem meios em que se vive da terra, e para a terra, e se é vítima das forças agrestes da Natureza, sobretudo no Inverno.
Vêem-se as forças humanas em acção, para a sua sobrevivência e o quotidiano de uma vida ligada à Terra, de uma naturalidade pacífica, cujas imagens o transmitem, tanto, através da narrativa criada nesta exposição, tanto por si só.
Este ensaio fotográfico, intitulado “four seasons”, leva-nos numa viagem que acompanha o ciclo, desde a Primavera, em que se semeia, o Outono: período de ceifa, à colheita no Verão, do que lhes serve para a subsistência na dureza do Inverno.

Lu Nan, revela mestria na prática da Fotografia, através do seu sentido estético e enorme respeito, pelos objectos da sua atenção, resultando em imagens de carácter humanista, de exímia manipulação fotográfica e de pontos de vista.
A Trilogia de Lu Nan, não é como as trilogias clássicas, já referidas, mas sim, um projecto fotográfico documental e simultâneamente artístico. Todas as imagens expostas, mostram-nos o seu olhar sobre uma China de outros tempos, que pode, ou não, ter mudado. Contudo, foi real e permite-nos entender melhor, este fascinante e imenso povo, cuja dimensão se aproxima rapidamente a um quinto da população mundial.
O percurso, delimitado pelo espaço, terminava num compartimento do mesmo, com uma projeção de fotografias, com uns bancos corridos onde nos podíamos sentar, a contemplar estas fotografias que nos mostram estas formas de vida, tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximas.

Para o leitor, apaixonado pela Arte da Fotografia, que pensa para si próprio: “que pena, não ter ouvido, ou lido, sobre isto antes…”, deixo-lhe uma amostra virtual e o link onde pode ver uma galeria com 51 imagens deste projecto e algumas do seu mais recente, em que fotografou as prisões da Birmânia. Que, embora não sejam todas, já nos permitem ter uma ideia do virtuosismo, desta Obra e do seu autor.

Bom, mas deixemos as imagens falarem, mais que mil palavras, num olhar.



 Fig. 1

  Fig. 2

  Fig. 3

  Fig. 4

 Fig. 5 

 Fig. 6 

 Fig. 7 

 Fig. 8 

  Fig. 9

  Fig. 10

  Fig. 11

  Fig. 12

  Fig. 13

  Fig. 14

  Fig. 15

  Fig. 16

  Fig. 17

  Fig. 18

  Fig. 19

  Fig. 20

  Fig. 21

  Fig. 22

  Fig. 23

  Fig. 24

  Fig. 25

 Fig. 26


Fotografias (Fig.1-26) e texto por: André Rocha ©️ 2018, em Museu Coleção Berardo, Exposição temporária: Lu Nan, TRILOGIA: Fotografias [1989-2004] , de 10 de Outubro de 2017 a 14 de Janeiro de 2018.



domingo, 14 de janeiro de 2018

Electronic Superhighway (1966- 2016) - MAAT



Entre os dias 8 de novembro de 2017 e 19 de março de 2018 o MAAT de Lisboa apresenta a exposição Electronic Superhighway (1966- 2016), originalmente exibida pela Galeria Whitechapel de Londres, em 2016. A exposição é uma retrospectiva sobre o uso da tecnologia digital, cibernética dentro do campo da arte, que começa emergir na década de 60. A amostra conta com trabalhos de mais de 70 artistas, organizados cronologicamente, começando pelos trabalhos mais recentes e terminando com os trabalhos propulsores do campo. A organização e escolha dos trabalhos tem o intuito de mostrar as mudanças, o uso das novas possibilidades tecnológicas e funcionam como elementos de uma grande história.
A exposição que o ocupa parte do antigo prédio da Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade de Lisboa impressiona pela variedade de trabalhos expostos e propõe uma viagem ao passado começando pelos trabalhos da última virada de século. Os temas contemporâneos como gênero, migrações diretos e relações humanas na era da internet são explorados através de diferentes meios. Alguns trabalhos chamam a atenção pela relação com os próprios meios em que se manifestam. O trabalho da dupla Thomson & Craighead chamado More Songs of Innocence and Experience consegue exprimir como a confusão de conteúdo, histórias, meios e discursos se manifestam na sociedade da internet. O trabalho consiste em um equipamento de Karaoke, duas colunas de som, um microfone e uma TV. O visitante é convidado a cantar de acordo com as letras que aparecem no ecrã, à frente dos tradicionais fundos de natureza dos karaokês. Entretanto, as letras de músicas na verdades são transcrições de e-mails spams, forma muito comum usada por usuários da rede para aplicar golpes. Histórias que envolvem heranças, loterias e prêmios aparecem de forma contínua. O trabalho trata de questões de estéticas e problemas bem específicos de seus meios de forma incrível fazendo uma auto referência através da linguagem e meio.
Detalhe do trabalho More Songs of Innocence and Experience





Detalhe do ecrã
Logo ao lado está exibido um trabalho da artista alemã, Hito Steyerl chamado Red Alert que faz uma referência ao trabalho de Alexander Rodchenko Pure Red Colour de 1921. No trabalho de Hito são utilizados ecrãs de dimensões parecidas com as pinturas de originais de Rodchenko que exibem um vídeo em HD. Esses vídeos na verdade são uma reprodução digital contínua do vermelho dos quadros de Rodchenko. Essa experimentação entre meios e auto referencial a história da arte retrata bem a pesquisa de Hito. É interessante observar como o meio é problematizado de diversas forma pelo trabalho, um vídeo estático, um ecrã tela.

Red Alert - Hito Steyerl










A retrospectiva que volta 50 anos na história e passa pelos primórdios da internet, dos softwares e da imagem digital culmina com uma sala dedica a icônica exposição Cybertnetic Serendipity de 1974 no Institute of Contemporary Arts de Londres. Essa exposição foi um marco na relação entre novas tecnologias e a arte, focada em trabalhos exploravam a interseção entre ciência e artes. Esses primeiros passos da arte em novos meios são marcados pelo uso de automatizações, referências a robótica e cibernética nos mais diferentes meios como vídeos, instalações e desenhos. como nos desenhos. A exposição consegue ser efetiva e surpreendente em sua retrospectiva. Alguns trabalhos que embora tenham tido importância histórica de experimentação como os das sala de web art, não são trabalhos que ocupavam museus ou galerias quando foram feitos. Electronic Superhighway (1966- 2016) feliz na sua abordagem e consegue através de sua curadoria dar o devido reconhecimento a artistas e trabalhos que são fundamentais para entendermos a arte contemporânea e nossa própria sociedade na era da informação e da internet que vivemos.