segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Frames Of Reference


Frames Of Reference


Um vídeo que estuda uma nova visão, sobre o observador e objetos, fora do observador, em movimento. À semelhança de como vai explicando Crary Jonathan em “Técnicas do Observador”, que descreve o percurso do desenvolvimento tanto do observador como das tecnologias que dão avanço à visão, até chegar ao “novo observador” moderno. Este vídeo tratar também de explicar, com as suas novas metodologias e tecnologias, o novo observador, a visão abstrata, a relatividade de movimentos e a maneira como a perceção humana processa estes estímulos visuais.
Esta remodelação de modelos epistemológicos da visualidade, que Crary descreve, foram muito importantes porque veio engendrar as precondições para a emergência da abstração da visão em curso na contemporaneidade.


Frames of Reference trata-se de um vídeo de estudos sobre a perceção da visão humana com objetos em movimento e objetos em movimentos relativos a outros objetos em movimento, onde neste texto vou explicar algumas das experiências desenvolvidas neste vídeo com apoio das novas câmaras de vídeo, engenhos mecânicos e teorias de física. 
Feito em 1960 pela The Physical Science Study Committee, com apoio da The National Science Foundation; The Alfred P. Sloan Foundation e The Ford Foundation. Apresentado por Professor Patterson Hume e Professor Donald Ivey, University of Toronto.





"Nos costumamos ver as coisas de um ponto de vista particular, isto é, de um particular quadro referencial. E as coisas parecem-nos diferentes sobre diferentes circunstâncias", introduz assim o vídeo o professor Donald Ivey que aparenta estar normal, até aparecer o professor Patterson Hume, que dá inicio a uma pequena discussão sobre quem está de pernas para o ar, que se resolve rapidamente com uma moeda atirada ao ar que revela que o professor Donald Ivey estava de fato ao contrario, quando a sua moeda foi direita ao chão, que na camara que filma parece-nos estar normal porque a camara também estava ao contrario.





Em uma nova experiência o professor Patterson Hume diz estar a mover-se para a esquerda, porque a parede por trás está a mover-se para o lado oposto, mas de fato era a parede que se estava mover e não o professor. Logo de seguida é demonstrado exatamente o mesmo processo, mas neste caso é o professor que se mexe para a direita e parede é que está fixa, que é percetível porque o professor Donald Ivey está por de trás parado.
Todo o movimento é relativo, em ambos os casos o professor Patterson Hume, esta a mover-se relativamente à parede e a parede estava a mover-se relativamente ao professor.



Todo o movimento é relativo, mas nós temos tendência a pensar que uma coisa está fixa e a outra está em movimento. Geralmente pensamos que a terra está parada e as paredes fixas na terra estão também paradas. Um quadro referencial fixo à terra é o quadro referencial mais comum para observar o movimento das coisas. Claro que a razão pela qual os sistemas de coordenadas terem três eixos é porque se torna possível de definir a posição de qualquer objeto no espaço, usando as três linhas de referência.


Numa nova experiência é presa uma bola por um íman a um carrinho que desliza da esquerda para a direita, e uma camara fixa que capta o movimento da bola, em movimento, a cair. No vídeo da camara fixa, é desenhada a trajetória da bola a cair que por sua vez resulta numa parábola.



Mas tudo isto tem sido num sistema de coordenadas fixo na terra. É feito a mesma experiência, mas desta vez a camara é fixa ao carrinho, que, no mesmo sistema, grava a bola a cair e o professor Donald Ivey fica por trás quieto, desta vez para nos dar perceção que o carrinho está em movimento. De seguida é filmada a mesma situação, mas desta vez sem o professor por trás, apenas um fundo branco, que resulta numa perceção completamente diferente, em que, neste caso o carrinho parece estar parado, quando na verdade está em movimento numa velocidade constante. O importante a perceber aqui, é que todos os quadros referenciais, que se respeitem um ao outro, movendo a uma velocidade constante, são equivalentes.




  Numa nova experiência o Professor usa mais uma vez o carrinho que desliza de esquerda para a direita. No carrinho está anexado uma circunferência mecânica giratória pintada de preto com um ponto branco. A atenção vira-se para o ponto que gira pela circunferência e o percurso que este faz no espaço com o carrinho em movimento a uma velocidade constante.
 A atenção do observador, vira-se para o percurso do ponto branco, como se fosse fazendo circunferência, mas na verdade, quando este atravessa um vidro que começa a desenhar o verdadeiro percurso do ponto branco em movimento no espaço, no quadro referencial da terra, deixa qualquer observador estupefato com o diferença da perceção humana para o verdadeiro percurso que foi desenhado.




Nós vemos o ponto a mover em círculos, porque nos colocamos no ponto de referência do carrinho em movimento, portanto não é evidente que não é sempre verdade que vemos a nossa perceção no quadro referencial da terra. Quando o movimento é simples, nós automaticamente colocamo-nos nesse frame em movimento do carrinho.




Uma nova experiência sobre o movimento, onde é comparado a velocidade de um objeto num quadro referencial sobre a velocidade de outro objeto noutro quadro referencial. A experiência trata-se de um carrinho em movimento onde ambos os professores estão sentados com uma mesa entre os dois. Na mesa vão passando um pequeno objeto que desliza de um lado da mesa até ao outro, enquanto que o carrinho percorre da esquerda para a direita. Isto resulta mais uma vez numa estranha perceção. Ambos os professores estão em movimento no carrinho e quando é lançado o pequeno objeto da esquerda para a direita, percurso que o carrinho faz, para quem está num quadro referencial fixo, fora da situação, ficamos com uma ideia da velocidade constante que o objeto faz. Mas quando este é faz vai da direita para a esquerda, visualmente parece nos que o objeto anda muito mais devagar, quando na verdade mantem a mesma velocidade constante de quando foi lançado para a direção oposta.



É feita uma nova experiência onde é comparado a diferença da velocidade constante e de uma aceleração constante. À semelhança da experiência da bola em queda, mas desta vez foi anexada dois pesos que dão ao carrinho uma aceleração constante, que resulta na bola em queda que desta vez aterra no carrinho, mas um pouco mais atrás. A gravidade é a única força que age sobre a bola, e um carro a mover a uma velocidade constante é um quadro inercial, mas um carro em aceleração não é um quadro inercial. Por causa do sistema de coordenadas que estamos habituados a viver é um em que a lei inercial defende, quando nos vamos para um referencial não inercial, como o do carro em aceleração, a nossa perceção acredita tanto na lei inercial, que quando vemos a aceleração da bola em queda para o lado, nós pensamos que existe uma força a desvia-la. Uma força fictícia. As forças fictícias aparecem em quadros referencias acelerados. A perceção fica no referencial acelerado na sua direção, portanto nós nesse referencial vemos a aceleração da bola na direção oposta e ficamos com a ideia de que é uma força que a causa.





O que para mim é mais importante a retirar deste vídeo e destes pequenos ensaios, como também explica muito bem Crary em “Técnicas do Observador”, é que à medida que os estudos físicos, os desenvolvimentos tecnológicos vão prosseguindo também se vai remodelando os modelos epistemológicos da visualidade. E o que hoje é desenvolvido nas diferentes áreas, vai ter consequências no observador dos dias de hoje, que por sua vez vai influenciar inclusive a maneira como a arte está a ser, neste momento, observada e representada.

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