Judy Wajcman escreve “Pressed for time” clarificando desde início a pressão que o tempo impõe à pessoa moderna. Wajcman pensa sobre a sociedade como sendo uma de aceleração, num mundo que gira mais depressa e onde as pessoas se encontram mais ocupadas. A velocidade, a eficiência, a eficácia e o pragmatismo são nos apresentados como sinónimos de uma vida melhor. Os dispositivos digitais são vendidos como ferramentas de otimização de tempo, onde tudo é feito em prol dessa mesma otimização e, onde é impensável que assim não seja. Há uma relação simbiótica entre tempo e dinheiro porque um justifica e valoriza o outro. É, por isso, que se tornou tão importante capitalizar ambos – para fazer mais com menos, ou para fazer mais por menos. Por outro lado, Wajcman observa a aniquilação do tempo, cuja responsabilidade recai sobre a velocidade da tecnologia digital. A velocidade define a vida social e a tecnologia é uma força motriz socialmente destrutiva. A compreensão do nosso tempo é com e a partir das máquinas e a solução que a autora apresenta é a de um detox digital.
Para a pesquisa que me encontro no
momento a fazer, em torno da velocidade e da sua relação com o indivíduo e a
sua personalização, é fundamental evidenciar a ansiedade que o efeito
desorientador da velocidade dos nossos dias tem na nossa consciência, emoções e
política, apontada por Wajcman. Assistimos a um vangloriar da velocidade enquanto sinónimo de
progresso, por todos os motivos sumariamente notados acima. Mas, o que é o
progresso? E porque é que é, necessariamente, positivo? É inevitável pensar na
invenção da metralhadora ou da bomba atómica – progressos tecnológicos,
ditadores do avanço de certas Potências, mas, em si, representações máximas de
destruição, morte e caos… o oposto direto de progresso.
E no meio do caos da rotina veloz,
do carro que se movimenta a dezenas de quilómetros por hora, do metro
infernalmente ruidoso, dos prazos na vida profissional e pessoal, dos múltiplos
compromissos e responsabilidades, levar o cãozinho à rua, olhar horas a fio
para um ecrã, entre as centenas de nuances da rotina moderna ocidental… Numas o
tempo parece parado a fugir por entre os dedos, noutras somos sugados por ele
como se as moléculas do nosso corpo acelerassem a par… Onde está o lugar do eu?
Onde é que o indivíduo se pode encontrar, reconhecer e conhecer? Como distinguir
o chiar da roda no carril, dos pensamentos que aceleram conjuntamente e em crescendo, não
só com a velocidade e ruído, mas também com o stress, preocupações e
responsabilidades?
Vivo num tempo onde ter tempo é um
privilégio dos poucos que vivem confortavelmente – que é uma forma coloquial de
chamar ricos a quem tem dinheiro. A classe média é a classe da média, de quem “tem”
um teto e comida na mesa, mas vive assoberbado pela velocidade e o sofrimento
mental que a mesma traz. Cair na apatia, no irreconhecimento do próprio não é
tentação… é quase fatal e obriga a um exercitar constante da mente.
“A Persistência da Memória” de
Salvador Dalí tem uma relação muito íntima com todo o conceito de tempo e
velocidade. Assumindo a breve e incompleta observação que se segue, independentemente da intenção do artista, interpretar uma percepção
de passagem do tempo fora do normal e dorida, é o passo mais óbvio. A
excentricidade e a quantidade dos relógios induzem à ideia de Wajcman de que
compreendemos o tempo a partir da tecnologia... e, ao mesmo tempo, a paisagem desértica,
ainda que onírica, seca qualquer esperança de hidratação da realidade.
Termino num apontamento positivo. Estou, ativamente, a evitar o pessimismo e tenho concluído que o produto de cada consequência me vai afetar em diferentes níveis de intensidade, mediante a minha receptividade. Não anulo o bom nem o mau, mas ganho algum controlo sobre a intensidade com que sinto as coisas. É uma estratégia que me permite conciliar toda a dinâmica velocidade-personalização... pois, não sendo Salvador Dali, é o melhor que posso fazer.
A Persistência da Memória, Salvador Dali |
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