Bruno Munari (1907-1998), além de designer gráfico, também foi arquiteto, escultor, professor, pedagogo, escritor, filósofo e artista. Utilizava da sua vasta experiência e conhecimentos multidisciplinares para refletir sobre os limites da arte e da sua relação direta com sensações através das formas, cores e texturas de maneira criativa. Revolucionou a linguagem do livro quando o encarou como objeto capaz de comunicação, independente dos textos.
O que era comum, segundo o autor, era avaliar a importância do livro através do seu texto e género literário, sem considerar as potencialidades dos outros elementos que definem um livro, como o papel, formato, encadernação, tinta, tipografia, elementos gráficos e etc.. Com exceção de edições especiais, no qual era valorizado todo o material em torno do conteúdo do livro, a provocar uma experiência diferente na prática da leitura, mas sempre com o texto como foco principal. Munari defende que a experimentação é o caminho para conhecer as possibilidades de expressão dos materiais que compõem um livro, assim, nasce o termo “livro ilegível”, que o autor usa para definir os seus projetos de livros que utilizam apenas da visualidade dos recursos gráficos, sem utilizar nenhum texto. São uma série de livros sem texto, em formato quadrado e páginas de diferentes cores e cortes, onde põe em prática a criatividade.
Por conta do conceito pré-concebido do que é um livro e para que serve, Munari teve algumas dificuldades de aceitação por parte de editores nessa sa nova proposta de material. O livro “Na noite escura”, editado em 1952 foi recusado por diversos editores porque não apresentava nenhum texto, portanto era visto como um objeto que não carregava consigo informações e conteúdo de valor para ser passado adiante. Depois de editado em 1956, por Giuseppe Muggiani, o livro foi publicado em diversos outros países e línguas.
“Normalmente quando se pensa em livros pensa-se em textos (…) que se imprimem sobre as páginas. Pouco interesse se tem pelo papel, pela encadernação do livro, pela cor da tinta, por todos aqueles elementos com que se realiza o livro como objeto. Pouca importância se dá aos caracteres tipográficos e muito menos aos espaços brancos, às margens, à numeração das páginas, e a tudo o resto. O objetivo desta experimentação foi ver se é possível usar o material com que se faz um livro (excluindo o texto) como linguagem visual. O problema, portanto, é: pode-se comunicar, visual e tacitamente, apenas com os meios editoriais de produção de um livro? Ou: o livro como objeto, independentemente das palavras impressas, pode comunicar alguma coisa? O quê?”
- Bruno Munari
Com a compreensão do potencial do livro como objeto, Munari criou os pré-livros. A preocupação era justamente trazer o prazer da experiência com os livros nos primeiros estágios da infância, explorando a sua materialidade, antes do contacto com o livro escolar. Portanto, a intenção era proporcionar à criança um contacto agradável, lúdico, experimental e sensorial com o objeto. Os pré-livros de Munari são pequenos, para serem facilmente manipulados pelas mãos de uma criança, dos mais diferentes materiais e encadernações, para conviverem em meios aos brinquedos e estar no ambiente onde a criança associa ao divertimento. Desta forma os livros constroem associações prazerosas e quotidianas, favorecendo a aproximação do objeto no processo de desenvolvimento infantil. A partir de formas simples e mistura de materiais num único objeto, Munari cria projetos poeticamente ilustrados, não se preocupa em criar respostas em seus poemas visuais, mas sim acionar no leitor possibilidades infinitas.
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