segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Bruno Munari - Cartas de Harvard (5 a 8)

No seguimento da publicação anterior, passo a analisar as cartas 5 a 8 trocadas entre Bruno Munari e o Jornal de Milão II Giorno.


Carta 5 - AS ILUSÕES ÓPTICAS


Bruno Munari começa a carta número cinco por considerar os Estados Unidos da América um país avançado. Afirma isto porque caso estejam numa situação de muito calor, a solução imediata será ligar o ar condicionado, regulando a temperatura consoante a necessidade(nunca abrindo as janelas). Para contornarem o problema dos odores libertados pelo ar condicionado têm um ventilador elétrico e barulhento que torna a renovar o ar. Em oposição considera os italianos simplórios, uma vez que resolvem os problemas de forma elementar. Numa situação semelhante à referida acima, um italiano abriria a janela.

Após esta comparação, Munari afirma que sai para a rua para respirar “ar verdadeiro”. 

No Carpenter Center, onde dá aulas, os estudantes aprofundam o conhecimento relativamente ao problema figura-fundo. O exemplo que refere na carta é o da imagem, onde tanto é percetível um cálice branco num fundo negro, como dois rostos negros com um fundo branco. 

Com isto, é possível perceber que uma mesma imagem pode ter uma dupla interpretação, se o designer assim pretender, sendo que este efeito é criado com a ajuda do negativo. Bruno refere que muitas das vezes esta dualidade é criada intencionalmente em pinturas abstratas e em Pop arte.

Para aprofundar este tema junto aos alunos, Munari criou um exercício que consistia em utilizar uma folha transparente sobre uma ilustração para que fossem cobertas as zonas negativas. Após retirarem a folha transparente teriam apenas representado aquilo que está por trás de uma figura. Refere também que seria possível criar uma segunda parte para este exercício interligando-o com o das texturas para aumentar ou anular o efeito do negativo.

Munari acaba a carta ironicamente dizendo que chamou o carpinteiro para que lhe abrisse a janela do quarto. Ao que parece prefere a simplicidade dos italianos ao invés do exagerado desenvolvimento dos Estados Unidos da América.

Nesta carta é possível compreender o tema “figura-fundo”, em que uma imagem pode proporcionar mais que uma interpretação. É também percetível que o autor considera que por vezes a simplicidade pode ter as suas vantagens, apesar de considerar o desenvolvimento americano bastante impressionante.



Carta 6 - RETAGUARDA VANGUARDA INVESTIGAÇÃO


Esta carta começa com a referência às Advanced Explorations in Visual Communications que, tal como Munari afirma, se referem às vanguardas da Comunicação Visual. No entanto, refere também que o conceito “vanguarda” é atualmente desatualizado e que deve ser substituído por “pesquisa” ou “investigação” visual. Salienta também que a diferença entre ambas predomina no facto de vanguarda remeter para “preconceitos subjetivos”, enquanto que a pesquisa possui um carácter técnico e de responsabilidade.

Munari mencionou uma situação peculiar. Uma exposição organizada por Olivetti, em 1962, não teve qualquer impacto em Itália apesar de ter sido visitada por aproximadamente setenta mil pessoas. Após ter circulado pela América e ter sido reconhecida, ganhou toda uma nova importância após regressar a Itália, mas tal como o autor afirma, trata-se de uma valorização fora de tempo e com suspeita.

Na segunda parte da carta, Bruno fala sobre um novo tema que abordou nas suas aulas: a luz artificial como forma de comunicação visual. Apesar de todos os meios em que a luz artificial é utilizada, há sempre novos a explorar. O exercício criado desta vez para abordar o tema consistia em ter projetores dirigidos sobre uma parede branca, num ambiente onde a luz é reduzida e em que são colocados pedaços de plástico colorido trabalhado, entre a luz do projetor e a parede, animando assim a superfície. Este efeito causa muito mais impacto do que uma cor lisa presente numa parede. A alteração da cor das lâmpadas pode aumentar a vasta variedade de combinações de animações possíveis. Neste exercício foi possível aplicar textura em algo menos palpável que o papel, mas dando-lhe uma nova interpretação.

Na carta número seis, Munari começa por fazer a distinção entre vanguarda e investigação, chegando à conclusão que o termo “investigação” é muito mais atual e plausível. De seguida refere uma situação peculiar de valorização suspeita, mas que nada me surpreende. Acaba o artigo a explicar o exercício que fez com os seus alunos para explorar novos meios de comunicação visual, utilizando uma fonte de luz e alterando-a para criar novas formas.



Carta 7 - MODULAÇÃO DO ESPAÇO


A carta número sete começa com uma superficial referência ao tempo meteorológico que existe nos Estados Unidos da América e no quão variado este pode ser num tão pequeno espaço de tempo. Após esta descrição refere que comprou um chapéu de chuva e que constatou ser Made in Italy

De seguida, aborda novamente o tópico do seu método de ensino. Os seus estudantes começam a ter o seu primeiro contacto com estruturas elementares, visto que tudo no mundo aparenta ser regulado pelas mesmas. Na verdade, estas estruturas são sempre a quatro dimensões, mas não se irá considerar a quarta dimensão que é o  tempo, focando apenas nas três dimensões principais, a largura, o comprimento e a altura. As duas dimensões são aquelas que se podem transpor para uma folha de papel, representando a superfície visível das estruturas tridimensionais. 

Munari utiliza como fundamento a citação “O acaso tem leis que ainda não conhecemos”, de Einstein, para explicar que quando julgamos que algo pode não possuir estrutura, se deve ao facto de esta ainda não ser percetível por falta de conhecimento. Com isto, acredita ainda que as estruturas não são mais que um equilíbrio de forças, visto que tudo na natureza o é.

Bruno afirma que não devemos confiar demasiado nas informações que os nossos olhos nos dão, uma vez que estas são muito limitadas. Enquanto isso, os alunos encontram-se a quadricular folhas de papel, nos quais disporão superfícies quadradas de três diferentes módulos. Segundo o autor, a quadrícula “divide o espaço bidimensional em partes iguais e fornece a possibilidade de ocupá-lo de variadíssimas maneiras apoiando as formas nas linhas de modulação”, tornando-se assim uma base, que ajuda quem a utiliza a ter uma guia e uma orientação. Dá também o exemplo da música que aparenta ser uma arte livre, mas que se rege segundo muitas regras, modulada principalmente pelo tempo.

Consideramos como formas elementares o círculo, o quadrado e o triângulo, uma vez que a partir das mesmas é possível criar todas as restantes. Quanto às estruturas elementares, as principais são a quadrada e a triangular, no plano, e a cúbica e a tetraédrica, na tridimensionalidade. 

Após ser solicitado aos alunos que fizessem até à aula seguinte um x número de formas, houve uma manifestação geral de desagrado, no entanto, após lhes ser explicado que utilizando outro método viável lhes seria mais moroso, lá aceitaram, compreendendo que se trata de um ensino diferente, tal como Munari explicou desde o princípio. Constatou também que até à data ainda não tinham utilizado o pincel como ferramenta nas suas aulas, deixando esse pensamento em aberto.

Com esta carta é possível compreender os conceitos de forma e de estrutura elementares. Através da aula descrita na mesma é também possível perceber a aplicação de métodos de ensino inovadores.



Carta 8 - SENSIBILIZAÇÃO DOS SINAIS

A carta número oito é uma carta um pouco diferente das restantes que analisei até à data.

Munari começa-a por falar um pouco das tarefas que tem para esse dia, como é o caso de, por exemplo, comprar um despertador e postais. Utiliza essa introdução para explicar que temos que ter elasticidade mental, uma vez que não significa que por em Itália um despertador ser vendido num relojoeiro, que nos Estados Unidos da América tem que funcionar da mesma maneira. Essa mudança implica pensar onde poderemos encontrar um determinado objeto numa sociedade com costumes diferentes dos nossos.

Com isto, Munari transpõe esta ideia para o campo do design gráfico, em que explica que existe o sinal da escrita e o sinal do desenho. O objetivo de algo que foi escrito, é ser legível, independentemente de ter sido escrito com um lápis, um marcador, uma máquina de escrever, entre muitas outras opções. O mesmo acontece com o desenho, qualquer que sejam o suporte e o material utilizados, o objetivo será sempre passar uma mensagem. Procurar todas estas variantes significa que se está a sensibilizar este sinal. Fazendo-o, Munari considera que se está a elaborar um mostruário de possibilidades que poderá ser utilizado no devido momento, quando for oportuno.

Bruno dá também o exemplo de alguns artistas que já exploraram essas vertentes, nomeadamente Pollock, sendo o seu sinal o pingar da tinta.

Com esta carta é possível compreender a variedade de opções existentes no design de comunicação, variando apenas o suporte e o material. Gostei em particular desta carta por ser tão distinta das restantes e por explicar um conceito tão interessante.


Assim dou por terminada a análise das cartas 5 a 8. No próximo post tratarei das 9 a 12, uma vez que se tratam de 20 cartas.


Nicole Alves


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