segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Bruno Munari - Cartas de Harvard (9 a 12)

No seguimento das publicações anteriores, ao longo deste post irei analisar mais cinco cartas de Bruno Munari, desta vez da nona à décima segunda.

Carta 9 - A CONTRIBUIÇÃO DOS PERITOS


A carta número nove começa com um elogio ao método de trabalho e entusiasmo dos alunos, uma vez que conseguiram realizar muito trabalho e de muito boa qualidade até então. 

No projeto anterior foram feitas experiências com luz, em que esta era modificada. Segundo o autor “Em muitos objetos de arte cinética que se vêem nas exposições de “vanguarda” nos quais é usada também a luz, frequentemente têm-se apenas manifestações de um fenómeno físico, sem que este seja usado como linguagem visual.”

Nos dias de hoje, tal como na altura em que as cartas foram escritas, era muito difícil para um crítico de arte estar a par de tudo, levando a que haja dúvidas relativamente à viabilidade da arte. Para avaliar arte será necessário distinguir entre “coisas válidas” e “demonstração de fenómenos”. Esta situação deve-se também ao facto de as formas de arte clássicas já não serem as únicas viáveis. 

Como exercício seguinte, os alunos criaram uma caixa de transparências, em que formam um catálogo de possibilidades, estando cada um a construir a sua linguagem visual.

John McCann, perito da Polaroid Corporation, foi convidado para dar um palestra sobre a luz polarizada, visto que será necessário os alunos ficarem a par do tema antes de o poderem aplicar nos seus projetos. Na imagem é possível observar o efeito criado por uma lente polaroid enquanto a mesma é girada em frente a um ecrã LCD. Numa experiência que fez com os alunos, Munari descobriu que colocando um pedaço de papel celofane entre dois filtros polarizados, e olhando em contraluz, o celofane adquire cores variadas e que rodando um dos discos, as cores mudam. Posto isto coloca-se a questão “Quantas são as matérias plásticas sem cor que dão cor?”

Uma vez que é a primeira vez que se utiliza este método como modo de comunicação visual, torna-se necessário aprofundar o tema ao máximo para ser utilizado de modo “competente”, dando Munari o exemplo de se puder lavrar um campo rebocando o arado com um Cadillac, mas que não é, de certo, a forma mais correta e eficiente. 

Com esta carta é possível compreender a base do funcionamento e lentes polaroid e que para inovar é necessário aprofundar e explorar as técnicas antes de as aplicar.



Carta 10 - FAZER SEM PENSAR



Na primeira parte desta carta, Munari descreve a variedade de roupas que os estudantes que frequentam Harvard utilizam no seu dia a dia. É possível compreender que há tendências e peças chave utilizadas por muitos, mas que ao mesmo tempo, são também todos diferentes e fazem combinações variadas que nos leva a conseguir distinguir o estilo de cada um. 

Nesta aula, os alunos trouxeram os quadrados pretos que lhes foi pedido e começam a fazer composições livres com os mesmos. Munari refere que algo que diz várias vezes aos alunos é para não pensarem antes de fazer, visto que uma ideia preconcebida pode criar dificuldades ao operador. Posto isto, a opção será criar utilizando a intuição, fazendo as alterações necessárias até se estar satisfeito. Com isto, há que relembrar que cada instrumento terá o seu rendimento ótimo, e as composições com quadrados mostram-nos isso mesmo, nem tudo fica bem se for feito com quadrados.

De seguida Bruno dá exemplos dos vários resultados obtidos pelos alunos, sendo eles: simetria, graduação de valores, composição regular, jogos de equilibrio entre branco e negro e negativos-positivos.

Munari termina a carta explicando que é bom incentivar os alunos a ir acompanhando os trabalhos dos colegas, uma vez que a experiência deve ser coletiva e que não existe o problema de copiarem uns pelos outros, uma vez que tal como as roupas que cada um veste são o estilo de cada um, o mesmo se aplica aos trabalhos.



Carta 11 - VISITANTES CLANDESTINOS


Ao longo desta carta, Munari relata que numa das suas aulas, tal como por vezes apareciam amigos de alunos que assistiam, apareceram dois sujeitos que se mostraram muito interessados na temática abordada (das luzes e filtros polaroid). No fim da mesma, foram falar com Bruno e explicaram que eram donos de um Pipper Club, como é conhecido em Itália, que a nosso ver é uma discoteca. Os sujeitos estavam interessados em levar Bruno e os alunos a conhecer o seu espaço. Munari passa o resto da carta a descrever o espaço que foram visitar e a explicar quão caótico era o cenário com que se depararam.

Considero esta carta particularmente diferente das restantes, uma vez que é mais descritiva, no entanto, dentro da lógica das cartas, faz sentido relatar um episódio como este. 


Carta 12 - ESTRUTURAS


Em Itália, os pacotes de leite são como o da imagem, isso mesmo, um tetraedro. O autor considera-a uma embalagem de difícil transporte, chegando mesmo ao ponto de comparar com o ato de puxar uma orelha, no entanto admite que tem estabilidade quando pousada numa superfície plana, uma vez que cada face do triângulo pode ser uma base. Segundo Munari, trata-se de uma embalagem que exigiu estudos relativamente ao contentor em que são transportadas enquanto ainda em paletes. Este contentor tem a particularidade de ser hexagonal para que as mesmas encaixem umas nas outras, aproveitando o espaço ao máximo.

Um pouco mais à frente, Munari faz referência ao grandioso pavilhão de Montreal, no Canadá, que é o da imagem. É feito de metal e plástico e todo ele é composto por tetraedros. 





Ao pavilhão, Munari compara uma bola de futebol, que diz ser feita de hexágonos pretos rodeados por hexágonos brancos. Chama também a atenção do leitor para que futuramente repare na constituição de uma bola de futebol.

Munari acaba a carta com a frase “Esta é a imitação da natureza tal como se entende neste curso: imitação dos sistemas construtivos e não imitação das formas acabadas, sem compreender a estrutura que as determina.”

Esta carta mostra-nos a complexidade de um sólido geométrico como o tetraedro, e a sua presença no nosso dia a dia sem nos apercebermos.


Ao longo deste post extraí as partes mais importantes das cartas 9 a 12 e analisei as mesmas. No próximo post irei tratar as cartas 13 a 16.


Nicole Alves


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