sábado, 19 de junho de 2021

OSGEMEOS: Segredos

Dos muros de São Paulo, passando pela Tate Modern, OSGEMEOS desembarcam na Pinacoteca de São Paulo-BR.

A exposição OSGEMEOS: Segredos, teve início em 15 de outubro de 2020 e segue até 09 de agosto de 2021, na Pinacoteca de São Paulo, com curadoria de Jochen Volz. Em razão do estado de pandemia em que o mundo se encontra, há um controle rígido de acesso com redução do número de visitantes. Os ingressos só são vendidos antecipadamente pelo site e os lotes encerram-se rapidamente.

Num período tão triste, em que a arte só existiu virtualmente, uma megaexposição é o que de melhor poderia acontecer.

Mas não só a pandemia provoca essa corrida para ver a exposição. OSGEMEOS são hoje importantes representantes da arte contemporânea brasileira, uma arte que começou na rua e ganhou notoriedade no Brasil e internacionalmente: já exposta nos EUA, UK, Alemanha, Japão entre outros. A linguagem singular de seus grafites e pinturas, identificáveis em qualquer lugar do mundo, provocam um encantamento nos espectadores de quaisquer idades.

OSGEMEOS - designação que os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo adotaram porque sempre trabalham juntos no mesmo suporte, são um único artista. São os meninos do Cambuci, bairro de classe média de São Paulo, onde mantêm seu ateliê até hoje. Na exposição Segredos contam – com os respectivos registros - que desde crianças frequentavam museus levados pela mãe e que começaram a desenhar muito cedo por influência do irmão mais velho. Aos setes anos participaram de oficina de férias para crianças na Pinacoteca. Prova de que a ação educativa em museus e a motivação da família, podem gerar bons resultados.



Quando adolescentes, nos anos 80, trabalhavam como contínuo (estafeta, office-boy) num Banco e frequentavam as ruas do centro de São Paulo, onde o movimento de música, dança e grafite do Hip-Hop estava no auge. Assim, adolescentes, skatistas, grafiteiros, dançarinos de ‘break’, formavam uma espécie de tribo no entorno do estilo Hip-Hop. Esse é o mundo que ainda orbita seus trabalhos até hoje.

Mas como os artistas mesmo dizem, no grafite a ação é outra. A arte é dinâmica. Ainda que considerarmos a rua um museu, pois pode ser, a sua visibilidade e publicidade são restritas, assim quanto mais pessoas veem a arte mais a arte precisa ser vista. Antes de OSGEMEOS, os grafiteiros Basquiat, Keith Haring, Alex Vallauri, já haviam ultrapassado essa barreira entre a rua e a galeria.



Lembro-me bem da primeira exposição que visitei de OSGEMEOS em 2006 na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo. Também a primeira exposição individual da dupla no Brasil. Via-se a galeria à distância como um grande grafite, o cubo branco tornou-se um cubo amarelo com rosto do personagem símbolo dos seus trabalhos. Por dentro o cubo tinha todas as paredes pintadas e no centro uma geringonça colorida que tinha movimentos, fazia barulhos, e naquele cenário nos introduzia num campo onírico e lúdico, uma queda para a toca do coelho.

Porque lembrar? 1- Porque é importante ver depois de mais de quinze anos que o trabalho dos irmãos teve continuidade, que houve inovação e maturação para se firmar nesse mundo das artes, que o caminho que os levou a esse sucesso foi traçado dia a dia desde cedo e com muita dedicação na busca de um estilo próprio, e conseguiram. 2 -Porque o museu está tomado: são mais de 1.000 itens, que abarcam desde a infância até o momento atual e 50 obras inéditas, dispostos em 7 sete salas, uma instalação no átrio e um boneco inflável gigante no pátio interno a céu aberto, que atravessa todos os andares e pode ser visto das janelas que dão para esse espaço, mas a magnitude do evento e a quantidade de informações afastou-me daquele emergir em sonho, em deixar-me levar pela brincadeira, pela catarse.

Enfim, uma expografia histórica, que por certo já estava em tempo de acontecer, com pinturas que continuam a encantar e que são sempre o ponto forte, ainda que os objetos esculturais e as instalações surpreendam mais à primeira vista. E claro têm OSGEMEOS, cujo nome por si só é sinônimo de aventura.

A vida fica mais alegre depois desse espetáculo.

terça-feira, 15 de junho de 2021

INTENTIO AUTORIS E INTENTIO MEDIATORIS

 

 INTENTIO AUTORIS E INTENTIO MEDIATORIS

 

 

A seguinte reflexão nasce posteriormente a uma visita na coleção permanente da Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa e foca-se, principalmente, na analise do método expositivo seleccionado para as obras de Arte Antiga (Egípcios, Romanos, Sumeriano, Chineses, Indianos e da Europa Ocidental do Renascimento e do Iluminismo).




A Primavera:
Homenagem a Jean Goujon
. Alfred-Auguste Janniot. Roma, 1919-1924.

Além da bilheteira, ao lado da entrada, econtra-se esta maravilhosa escultura de Janniot, realizada entre o 1919 e o 1924. Segundo quanto referido no site da Gulbenkian, a obra adquiriu celebridade durante a Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas (Paris, 1925) por ter conseguido conciliar a estética clássica da antiguidade com as fantasias e as novas modalidades expressivas do século XX. Trata-se portanto de uma escultura que mídia duas épocas, dois estilos, duas estéticas (que são éticas) mas aqui, em vez de mediar, inicia o discurso expositivo proposto pela Fundação. Iluminada de cima, como se fosse a luz Divina que diretamente a valoriza, me comunicou palavras como “grandiosidade”, “épico” e “clássico”. O espaço, completamente vazio, apenas compartilhado com os empregados e o balcão da bilheteira, evidencia ulteriormente estas sensações, sendo as figuras mais altas e imponentes do que os homens ao seu redor. Embora sendo valorizada teóricamente pelas suas qualidades intermédias entre o “clássico” e o “novo”, parecem aqui muito mais evidenciadas a sua beleza e a sua postura formal, típicamente grega e romana.

 


Estátua funerária. Egito, Império Médio, XI dinastia (c. 2000 a. C.)

 

Ao entrar na efectiva coleção, segue uma série de estatuas e de pequenos itens das casas egípcias, categoricamente isoladas do contexto físico-espacial do museu, bem como do contexto cultural no qual eram não só elementos decorativos, mas símbolos duma civilização. É complicado re-construir uma atmosfera antiga de mais 2000 anos, mas pareceu-me ainda que o objectivo da exposição fosse aquelo de valorizar a “grandiosidade” e o “valor” (mais económico do que cultural) das peças propostas. Não havia alguma descrição dos objectos, nem alguma descrição além da data e do nome das obras. As estatuas, bem como os garfos e as facas, os copos e os vasos, mostravam exclusivamente as suas qualidades estéticas, protegidas por vitrinas de vidro, as quais ulteriormente limitavam a passagem. As salas mantenham uma atmosfera asséptica e estéril, na qual é difícil imaginar um diálogo efectivo com as obras em exposição diferente duma passiva e visiva admiração. A luz ainda estabelece uma aura sagra e divina, a qual afasta a dimensão humana das obras, a qual pertence não só aos visitantes, mas também aos autores das obras mesmas.

Sala da tapeçaria Oriental

Mas é nesta sala que o horror venceu a maravilha. Essa fotografia poderia ser tirada numa qualquer loja de productos pela casa. Todo bem arrumado e organizado visa preencher o espaço disponível mas, apesar da proximidade entre os objectos expostos, é possível sentir uma incrível distância. A tapeçaria, bem como a roupa exposta, são elevados à “arte” por vetrinas e pequenos pedestais neutros. Uma vez ainda estamos convidados a admirar as qualidades estéticas dos objectos, mas não a reflectir sobre o valor social dos mesmos. Que relação haviam com a gente da própria época? Quem eram as pessoas que vestiam aquelas maravilhosas túnicas? Porque tal estética era tão valorizada pelos povos Orientais? Nenhuma resposta. Mas o problema não é de fundo a resposta; mas o facto que nessa exposição parece não ser posta alguma pergunta. Os objectos (de utilização comum) parecem seleccionados pelas suas beleza, característica que certamente alterava o destino e a estética dos mesmos mas que, à distância de milhares de anos, sem dúvida deixa emergir significados e necessidades inconscientes dos povos que os produziram.


Sala do mobiliário do XVI-XVII século.

O pouco interesse no inquietar os visitantes é mais uma vez evidenciado na imposição do mesmo método expositivo a qualquer objecto. A exposição parece portanto dividida em categorias estritamente físicas: “mesas”, “vasos”, “copos”, “pinturas” etc... colocadas segundo uma narração da arte principalmente de ordem cronológica e linear. Poucas obras, de facto, ganharam um aprofundamento específico e eram, na maioria dos casos, pinturas, ou seja, Belas Artes. Embora com pedestais, os objectos não parecem reconhecidos enquanto resultados duma experiência artística, mas como materiais de grande valor económico. Pergunto-me, portanto, qual era o objectivo desta coleção? As peças são incríveis, cheias de detalhes e narrações que contam do dia-a-dia de antigos povos, mas a quantidade de objectos expostos cria um (não-)lugar na qual é difícil perceber a real posição social dos itens, ou das pinturas, ou das esculturas expostas nas épocas correspondentes. A coleção, em fim, foi criada no 1956 e portanto não tinha modo de conhecer as problemáticas educativas que os museus hoje afrontam; mas, além disso, representa hoje um dos “clássicos” museus no qual se pode só ver, sem aprender, que seja suporte duma escola na qual se pode só aprender, sem ver.

Apesar de todo, é correcto evidenciar que a Fundação hoje financia muitos projectos artísticos, portanto é preciso endereçar essa recensão exclusivamente para a sua coleção permanente.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Os Familiares Corpos Estranhos de MÃO-DE-OBRA

Em duas ocasiões diferentes, tive a oportunidade de visitar a mais recente exposição de António Bolota, com curadoria de Bruno Marchand, na Culturgest, a primeira das quais teve a fortuna de ser guiada pelo próprio artista. MÃO-DE-OBRA é uma seleção de peças produzidas entre 2006 e a atualidade. 

Formado em Engenharia Civil, António Bolota utiliza materiais que conhecemos do mundo da construção para criar objetos que solicitam uma experiência refrescante, de contacto e de familiaridade, que contrasta com o respeito pela grandes dimensões e com a forma impactante com que estes corpos atravessam o espaço. 


O caráter conciso da exposição e a atenção ao intervalo entre as peças transmitem uma clareza e uma simplicidade que lhes permite respirar e permanecer serenas na sua monumentalidade despretensiosa. O poder sintético com que MÃO-DE-OBRA foi concebida é a sua maior força. Permite-nos viver estes objetos de uma forma limpa e sem ruído. A frieza da luz e paredes brancas que os envolvem confere-lhes um caráter de corpo estranho ao espaço, interpolador, cortante e divisivo. 

Na primeira sala, surge uma enorme estrutura, um telhado com telhas marselha (marcadas com uns curiosos símbolos) suportado por longas vigas de madeira. Esta particularidade torna-o ondulado desde a esquina mais próxima da sala até ao ponto mais longínquo da divisão, perto do teto. 



Sem Título, 2006


Com o seu beiral a apenas cerca de 30 centímetros do chão, surge em nós a curiosidade de espreitar por debaixo deste mar de telhas. Neste momento, apercebemo-nos pela primeira vez de um dos aspetos mais consistentes das peças ao longo de toda a exposição - a presença dos dois lados -. Este telhado, como quase todos os objetos em causa, apresenta nitidamente dois lados distintos. Se na primeira sala o vemos em toda a sua monumentalidade, numa entrada mais discreta à frente no corredor principal, é nos dado acesso às suas traseiras. Vemos claramente toda a estrutura que o suporta, as longas vigas, a luz que passa por entre as telhas e os pequenos bichinhos, como as marias-café, que lhes ficaram coladas. Toda a peça ganha uma nova vida e um novo mistério.





Sem Título, 2021


Um efeito análogo mas atingido de uma forma bem diferente pode ser encontrado na sala anexa à primeira. Ao fundo, vemos uma estrutura maciça que nos é apresentada como um muro de pedra seca suspenso numa viga de aço. O artista conta-nos uma poética regra quando se constrói um muro como este: quando se retira uma pedra do monte para a colocar no muro, não se pode voltar atrás. A pedra tem de encontrar o seu sítio na obra. 

Mais uma vez, a peça encontra-se a poucos centímetros do chão e surge a curiosidade sobre o outro lado. Deitando-nos e deslizando por debaixo do muro (sensação curiosa a do momento em que damos conta de que estamos sob várias toneladas de pedra), chegamos a uma pequena sala sem saída, com apenas uma fonte de luz amarelada e não muito forte. Há então uma leve sensação claustrofóbica e em que o respeito pela dimensão da peça se faz sentir de um modo bem mais direto. Porém, é também neste lado que surge a deceção. Afinal, não se trata de um muro de pedra seca. A pedra está coberta por uma argamassa amarelada, e o que esta retira de simplicidade à peça não consegue ser justificado com o interesse pela textura diferente que vemos e tocamos. 


Voltando ao corredor principal, ao virar da primeira esquina, avistamos mais uma enorme estrutura. Desta vez, uma espécie de serpente de betão e aço que ziguezagueia por entre os pilares de tijolo do corredor. Somos confrontados por um sereno paradoxo entre dimensão e leveza, algo que é aqui alcançado também através de um útil conhecimento da Física. 



Sem Título, 2021

Numa observação mais próxima, percebemos que a estrutura está suportada por três braços de aço que se enterram nos pilares a cada curva. A cor laranja-terra conferida ao betão parece querer assemelhar-se à dos pilares, e essa diferença de tom, esse desfasamento, ajuda a criar um diálogo de estranheza e de não pertença ao espaço. Como se se quisesse infiltrar no espaço, mas não o conseguindo completamente. Essa estranheza é ainda mais evidente quando sabemos que as obras foram construídas em específico para estes espaços. É também de notar o pormenor dos padrões pictóricos naturais criados pela oxidação que  surgem nas longas placas de aço que suportam o betão.




Sem Título, 2021


Por fim, atingimos a última sala. Uma forma de cimento bloqueia parte da entrada. Uma "bolacha" de betão de 20 toneladas apoiada apenas sobre uma (pequena em comparação) esfera metálica que deforma o vinil do pavimento cumprimenta-nos ao entrar na sala e somos mais uma vez confrontados com essa impossibilidade, com esses dois lados dos objetos, a massa enorme do disco de betão suportada por uma esfera. Este paradoxo torna-se por demais evidente quando o artista nos convida a subir para cima da peça, e então sentimos uma estabilidade que surpreende. Em cima da peça, damos conta de mais um desfasamento entre a cor da sua superfície e a cor do chão.


Ao fundo, na mesma sala, encontra-se a peça mais pesada do conjunto da exposição - cinco altos caixotes de madeira amarela completamente cheios de areia -. Se podemos afirmar que a obra tem dois lados porque a sua dimensão nos dificulta a passagem de um lado para o outro, a própria morfologia dos caixotes confirma essa ideia - um, o primeiro que vemos, em que os caixotes formam uma parede única de madeira, uma muralha, que nos impede qualquer tipo de compreensão mais aprofundada sobre a forma destes objetos, e outro, que se apresenta menos "hostil" e que nos dá a ver o topo dos caixotes, bem como a sua forma. A areia que vai caindo de vez em quando por entre as frestas das tábuas dá a esta obra uma dimensão de mudança ao longo do tempo que torna o objeto vivo. Mais uma vez, o paradoxo.




Sem Título, 2021

No exterior, encontramos ainda uma última peça, uma enorme forma vertical forrada a tijoleira. De toda a exposição, esta peça parece ser a menos interessante. Surge desfasada em relação às restantes. Não apresenta dois lados nítidos, contrários, e não atravessa o espaço de nenhuma forma particular. Chega a confundir-se com a arquitetura do edifício e o facto de se distinguir de todas as outras nestes aspetos poderia eventualmente conferir-lhe um interesse maior, em vez de menor. No entanto, essa falta de oposição, de tensão em si própria (2 lados) e no espaço tornam-na um objeto bem mais resolvido e, portanto, menos propenso à experiência estética.




Sem Título, 2021

A maior fraqueza que se pode apontar a MÃO-DE-OBRA talvez seja a de que, sem o convite do próprio artista, o público não interage tanto com as peças. Não lhes toca, não passa por debaixo delas e não sobe para cima das mesmas.


Creio ser precisamente a 'familiaridade estranha' - essa proximidade com os materiais e os próprios objetos em justaposição com as suas grandes dimensões e formas aparentemente impossíveis ou, no mínimo, impressionantes - que constitui a maior força desta seleção de trabalhos e da forma como é apresentada. 

A presença dos paradoxos é constante, desde a relação proximidade-monumentalidade, à de leveza e peso, passando pela relação entre materiais mortos dando origem a objetos vivos. Se por um lado, conhecemos bem a areia, a madeira, o cimento, a pedra e o aço, por outro, não lidamos com eles numa base diária sob a forma de objetos enormes, suspensos em pilares ou atravessando uma sala de uma parede à outra. O muro que atravessa o fundo da segunda sala da exposição, não parece pertencer ao espaço de um museu da mesma forma que um busto ou uma tela; a serpente de blocos de betão que ziguezagueia pelo corredor principal não passa despercebida. 

No fundo, todos estes objetos interagem de uma forma muito precisa, serena e forte com o seu espaço, com a arquitetura do edifício, com o molde: «(...) para mim, a arquitetura é o molde. Depois o que eu lá ponho é um positivo. E o espectador está dentro do negativo, que é o molde». (Bolota, 2021)


Aberta ao público até 19 de Setembro, MÃO-DE-OBRA vale a pena visitar pelas suas contradições e proximidades táteis.


Website da exposição: https://www.culturgest.pt/pt/media/mao-de-obra/


Referência

Bolota, A. (2021). António Bolota em voz própria [vídeo]. Disponível em: <URL: https://www.culturgest.pt/pt/media/mao-de-obra/#voz-do-artista>



Genius or Vandal?

 Genius or Vandal? Essa é a questão sobre o artista Banksy, que a curadoria da exposição, de mesmo título, colocou ao público que esteve presente. A exposição aconteceu, entre junho e novembro de 2019, na Cordoaria Nacional em Lisboa com montagem primorosa.   

Na verdade, o debate é mais abrangente e extrapola o trabalho do artista. A questão colocada é se o grafite é ou não verdadeiramente uma manifestação artística, se a utilização de espaços urbanos é ou não concebida como vandalismo. São questionamentos fundamentais que o artista, em seu modus operandi, anda colocando em questão e através dos quais vem abalando as estruturas do mundo da arte.




 



Banksy é o artista. Mas quem é Banksy? Quem conhece o irreverente artista? O que se sabe sobre ele? A resposta é nada, além de especulações. Seus trabalhos são conhecidos e reconhecidos e o próprio artista se torna cada dia mais motivo de interesse e curiosidade. Jogada de marketing? Irreverência? Posição política? O certo é que Banksy conseguiu criar uma aura de mistério em torno de sua identidade e de seu trabalho. As imagens de sua obra Menina com balão, assim que foi arrematada por uma fortuna, ser parcialmente destruída diante dos olhos incrédulos dos participantes do evento de uma das mais célebres casas de leilões, correu o mundo.







Mas quem nunca ouviu falar do artista sabe, ao certo, o que vem a ser uma intervenção urbana. Muitas vezes incompreendida e criticada, a intervenção urbana, de fato, é uma realidade. O grafite (desenho) e o pixo (grafia), como chamado no Brasil, nasceram nas ruas e sempre transitaram por esferas de marginalidade da transgressão ao usarem a cidade como dispositivo. Porém, cada vez mais o grafite vem ganhando aceitação e reconhecimento.




O que Banksy nos oferece é arte em desenhos, serigrafias, stencil, instalações, fotos e, por fim, um documentário de 2010, Exit through the gift shop, já premiado diversas vezes. Suas composições nos oferecem imagens reconhecíveis em situações inéditas, surpreendentes e expressivas. Seus trabalhos, de alto cunho político e social, encontram-se espalhados pelo mundo: Bristol, Dover, Londres, Paris, Nova York, Nova Orleans, Los Angeles, Utah entre outras. Além destes, o artista esteve na Palestina onde fez vários desenhos no muro que divide a região de Israel e em lugares destruídos pela guerra. Suas obras falam, com uma crítica contundente e certo humor, sobre a violência, a pobreza, a repressão, o sistema e outros temas comuns ao mundo capitalista atual. Outra característica importante de seus trabalhos é a escolha do local, a interação e o diálogo que propõe com esse.  

A exposição não autorizada pelo artista aconteceu também em Moscou, São Petersburgo e Madri onde foi vista por mais de 600 mil pessoas.  A versão em Portugal contou com 70 obras originais, cedidas por seus proprietários. No projeto curatorial de Alexander Nachkebiya, o público teve a oportunidade de experenciar o submundo escuro e cheios de ratos feitos em stencils, que servem de inspiração ao artista. Com áudio-guia gratuito, a exposição nos transportou para as ruas onde imagens dos grafites são exibidas. Por último, o visitante pode entrar em uma simulação do ateliê do artista com um modelo representando o artista, também incógnito por um casaco com capuz.



 





Para resumir a experiência na exposição, eu usaria a palavra ‘transgressão’. Talvez pelo tipo de arte que o artista faz, talvez pelo mistério que envolve o artista, talvez pela exposição mesma não ter sido autorizada pelo artista ou por todas essas alternativas juntas.

A questão colocada Genius or Vandal? Pode não ter sido completamente esclarecida. Porém, a impressão que ficou foi de uma experiência única frente aos impressionantes trabalhos do artista e o desejo de conhecer pessoalmente cada uma de suas obras espalhadas pelo mundo.

Peça de teatro " Os Monólogos da Vagina"



Esta resenção tem como objeto de análise a peça de teatro “Monólogos da Vagina” que assisti no ano passado, já em período de pandemia no teatro Armando Cortez e da qual gostei bastante. 

Esta peça é um original da autoria de Eve Ensler e foi estreado em 1996 em Nova Iorque e aborda uma multiplicidade de temas relativos ao universo feminino, como a menstruação, o orgasmo, a masturbação, violação, sexo entre outros aspetos. 

A peça tem encenação de Paulo Sousa Costa e já conta com três temporadas com diferentes protagonistas do sexo feminino. Neste caso, contou com a presença de três grandes artistas portuguesas: Teresa Guilherme, Carla Andrino e Vera Kolodzig, que desempenharam um papel extraordinário. Estava reticente relativamente à prestação da Teresa Guilherme, mas a sua energia e à vontade a falar dos mais diversos assuntos, convenceu-me. 










Ao entrar no Teatro Armando Cortez, deparei-me com um cenário intimista, acolhedor e sensual devido ao ambiente mais escuro da sala e da cortina vermelho-bordo a tapar o palco. Quando a cortina abre, continua esse ambiente intimista, com o uso do preto como plano de fundo e um enorme tapete vermelho a cobrir o chão do palco. Surgem então as protagonistas vestidas também de preto e sentadas em bancos altos, com o foco de luz em cada uma delas para possibilitar a atenção em cada história e personagem. 

São projetadas várias entrevistas a mulheres de várias idades e extratos socais distintos realizadas nos anos 90, inspiradas nos textos escritos por Ensler para nos dar uma contextualização da história. As luzes das duas atrizes são desligadas e apenas surge o foco de luz na protagonista que irá contar a história com o intuito de envolver o público a apenas se fixar naquela personagem e não dispersar. Muitas são as histórias contadas, recordo-me de uma senhora de idade que nunca tinha olhado, nem tocado na sua vagina; uma outra mulher que estava furiosa pelos inúmeros exames invasivos e o uso de produtos para deixar a sua vagina com cheiro de flores, fruta etc. Existiram também histórias mais chocantes de violações e humilhações que levaram a muitas mulheres a não gostarem das suas vaginas e a não conseguirem ter mais relações sexuais levando a ter relações falhadas. 

Ao longo da peça é instigado por Teresa Guilherme falarmos a palavra Vagina, que não devemos ter receio de pronunciar o nome, que não é nenhum tabu. Desafiou-nos a encontrar sinónimos da palavra vagina e foi um momento muito cómico e informativo, pois desconhecia muitas palavras ali descortinadas.  A parte mais interessante foi ver que a maioria das mulheres não se conhecem a si próprias, têm vergonha de ver a sua própria vagina e não conseguem pronunciar a palavra. Enquanto os homens idolatram seus pênis, as mulheres pensam na vagina como algo à parte do seu corpo, como algo sujo e obscuro e muitas delas aprenderam isso com suas mães e avós que foram criadas em famílias machistas e se acostumaram a pensar assim. Apesar disso, muitas mulheres no público se manifestaram e foi um momento hilariante, no qual os homens também aprenderam bastante. 


Cada atriz ao interpretar estas personagens, permitiu passar uma mensagem de “empowerment” através de cada história.  A capacidade da atriz Carla Andrino de interpretar uma menina de sete anos, assim como numa idosa cheia de preconceitos, é fascinante. Assim como, Vera Kolodzig que relata de forma mais seria temas chocantes e Teresa Guilherme mais descontraída e desafiadora leva o público a rir do início ao fim da peça. 

Sem dúvida, este espetáculo é um manifesto à liberdade, pois aborda traumas e violências de forma crua e intensa, mas também pretende devolver a voz destas mulheres silenciadas pela vida ao mostrar que elas podem e devem falar sobre suas vaginas. A libertação começa no momento em que fazemos as pazes com nossos corpos e aceitamos a condição de mulheres como um presente, como algo perfeito.  Todas as histórias contadas, faz-nos repensar na maneira como olhamos para nós mesmas, muitas vezes influenciadas por preconceitos, angustias, medos, traumas que nos inibem de falarmos abertamente da nossa sexualidade. 

Uma peça bastante atual e divertida que aconselho vivamente a assistir. 

Ai Weiwei - Rapture



 Ai Weiwei - Rapture

 Exhibition view Rapture

                                      


On 4th of June, the largest exhibition to date as well as the first exhibition in Portugal of Ai Weiwei opened the doors to the public and will be on view until 28th of November 2021 at Cordoaria Nacional, a former rope factory in Belem, Lisboa. 

Before even entering the exhibition any slightly art-interested person undoubtedly knows Ai Weiwei’s work. Indeed his reputation as a scandalous exiled chinese artist who makes political polemics his own business made him internationally renowned. Now that he is living in Portugal, after Germany and England, he seems to have fallen in love, like so many of us, with this country and has chosen Lisbon for his biggest exhibition to date.


On the special website conceived for the exhibition aiweiwei.pt we read that he is “displaying for the first time all of his most iconic work in the same space and at the same time, while presenting four new pieces produced exclusively in Portugal.” 

As an exiled artist living and working in different cultures, his relationship with freedom, human rights and the question of belonging has become the red thread throughout his career and life. And with him now living in Portugal, “Rapture” reminds us of a turning point, almost as if the exhibition was representing the landing in a safe harbour where the artist can look back and reflect.


Rapture is the transcendent moment connecting the bodily and the spiritual dimensions. At the same time, rapture is the hijacking of someone’s rights and freedoms. Rapture may also be the sensory enthusiasm for ecstasy.” (exhibition text)


                                                Forever Bicycles  (2015)


When approaching the Cordoaria Nacional on my bike, ironically, I am welcomed by a stack of shiny bicycles accompanied by a group of  people squeezing their heads together while one is stretching out his arm to get the best selfie beneath this monumental entrance piece. The Forever Bicycles from 2015 is the biggest monumental work by Weiwei with 960 stainless steel bicycles stacked on top of each other. They represent the freedom and social status bikes gave people when bikes were still a rare luxury and with their ready made structure speak to any audience.This work also announces Ai Weiwei’s love for repetitions, commercial production methods and just his talent for big impressions. Whoever is not only attracted by the mesmerizing repetitive aesthetic design, might also be brought to reflect on our relationship with speed and mass consumption and mass production. 




Odyssey Tile (2021)




Entering the exhibition space, the visitors have the choice to go into the left wing or the right wing. In the first instance it felt more like entering a big depot than an exhibition, literally feeling like Ai Weiwei just arrived with a ship full of art works, placing them in this storage where they wait for their next adventure. There are no additional walls breaking or guiding the view of the audience. The vision field freely ripples through all the artworks straight towards the walls at each end of the wings. While on one end one can see the more recent works of Life Cycle from 2018 and Odyssey Tile from 2021, on the other end, the Law of The Journey (Prototype B) from 2016 is combined with the Odyssey of 2016.


Marcello Dantas, curator of this exhibition writes in the introduction:


My initial proposal to Ai Weiwei was to try to use the method that he had developed in China: to activate artisans and local communities, calling on their ancestral techniques for the production of vigorous contemporary art and on unprecedented scales, enhancing the connection of lost knowledge with his strategic thinking, able to relate in a unique way the signs of both Western and Eastern cultures. Ai Weiwei invented a hybrid language that can speak to both sides of the world in different ways from the same vector. This duality of meanings is for me the richest moment in his work.” 


This project of creating four new works connecting Ai Weiwei to his new country is indeed, to me too the strongest of all the exhibitions. In Odyssey Tile one can see a fusion of cultures and years of research on the migration of people throughout history. These four works elevate the relevance of this exhibition not only for his current reality on his journey but also legitimizes his presence in this place (Portugal) he is exhibiting in. 



Quote next to Circle of Animals / Zodiac Heads (2018)



Besides these two mirroring walls with their boats, the exhibition is divided into a back long wall and a front long wall. While the back wall is reserved for Ai’s ‘search for the imaginary’, the front wall focuses on ‘reality and the emergency of issues that overflow in our lives with the worsening of human conditions for political, social and environmental reasons’ writes Dantas. On the imaginary side we see an enormous series of middle fingers and the Circle of Animals / Zodiac Heads not in a circle but in a line with very little or no explanation. On the reality side, we find a long line of videos on political topics as well as the six maquettes of his cell from the time he was in captivity for 81 days. This side, contrary to the other, is swamped with deep messages and meanings and makes it impossible to see all that they exhibit. This juxtaposition, although representing Ai Weiwei’s versatile practice, in my opinion weakens both of the messages. The fact that they opted for both leads to the questioning of his reliability and honesty is leaving us confused. 


Study of Perspective (1995-2011)


Finally, Rapture is an interesting introductory retrospective exhibition of Ai Weiwei’s body of work, leading us through a tasting of his vast and versatile practice, however, it does not hold together as a concept exhibition. Although curated roughly into sections, the thematic discussions dissolve into a whole and often miss to reinforce each other. This may lessen the individual artwork's message as a standalone piece. In other words, Rapture is saying everything, shouting even, all that Ai Weiwei ever had to say to the world. Ai Weiwei indeed does not lack loudness, giving plenty of opportunity for instagramable photoshoots. Beneath his visually impressive art works, lie valid provocations on illegal immigration, human rights, the question of home, detention, culture and occasional perversion. However, the very serious political topics call for a more comprehensive and reliable stand by the artist. The visitors are left in the dark when it comes to questions like ‘does he put himself into the same position as illegal refugees?’, ‘does he do the activism to nurture his art or is he trying to actively change the political problems? or even ‘Is he even free in his art?’ And in all of this, we leave the exhibition with a feeling of confusion, a bitter aftertaste, feeling a little bit perverted and not knowing what information to take home from this.


quinta-feira, 10 de junho de 2021

Parece Impossível...

 

...mas aconteceu

Em boa hora a diminuição das restrições impostas pela pandemia permitiu o regresso do público às salas de teatro. Assim, e dando resposta à ânsia de retomar as experiências culturais, o LU.CA  repôs a peça “Impossível”, de Catarina Sobral, que tinha já estado em cena neste espaço da cidade de Lisboa em 2018. 


Fotografia: ©Alípio Padilha; Imagem de capa: ©Lu.Ca; na imagem: Madalena Marques


Manhã de domingo. Comprazendo-se com os primeiros instantes de conforto na cadeira indicada, ao som de um pequeno lamelofone e com os olhos postos num enorme ponto de luz branca que emoldura a única atriz em palco, o público é levado numa viagem a um passado longínquo, de que não há memória… uma viagem ao início de tudo. Partimos no momento em que “tudo estava no mesmo sítio”, num espaço mais pequeno do que um grão de areia, até ao Big Bang e ao aparecimento das plantas, dos animais, das mulheres e dos homens. Esta é uma viagem de alguns milhões de anos resumida em vinte e cinco minutos, sem escapar nada.

Antes de começar, detém-se o olhar numa mulher singela e estática, vestida de negro, que pontua o lado esquerdo do proscénio. Em contracena, o músico que se vislumbra por trás de uma panóplia de objetos sonoros, ao lado direito do palco, dá-nos a cadência envolvente.

                                                 Teaser "Impossível"

Imagem de capa de teaser (vimeo): ©Catarina Sobral;
na imagem: Madalena Marques, mãos de Catarina Sobral.


“Impossível” transporta-nos na primeira experiência dramatúrgica da ilustradora Catarina Sobral, cujas ilustrações ganham vida e movimento através do recurso a um retroprojetor e projeção no cenário, numa simbiose perfeita entre luz e cor, e um diálogo constante com a performer Madalena Marques, que personifica a humanidade, posicionando-se num questionamento sobre a origem do universo, enquanto vai narrando a história. A atriz reflete as inquietudes de todos nós: de onde vimos, de que somos feitos, como tudo começou? As respostas vão sendo dadas pelos elementos da ilustração, e pela interação com a ilustradora, que, não aparecendo em palco, é omnipresente pela manipulação, em tempo real, das ilustrações em transparências e pelo surgimento da sombra das suas mãos como personagem. Tarefa difícil têm estas duas criadoras, desenvolta numa consistente narração e num belíssimo trabalho de sonoplastia de F. Kent Queener que robustece a experiência de imersão na viagem.

Percebe-se, às primeiras palavras, que a mulher de negro é a intérprete de Língua Gestual Portuguesa. Com a luz focada nas suas mãos e no seu rosto, desenha as palavras com um movimento performativo hipnotizante, que pede foco ao espetador, mesmo ao que consegue ouvir as palavras na perfeição. Poderia dizer-se que a interpretação de Valentina é também uma atuação dialogante com o espaço cénico, e não apenas uma tradução do texto oral.


Imagem: ©Lu.Ca; na imagem: Madalena Marques

A contracena entre a atriz, a ilustração, a iluminação e o som resultam numa combinação medida ao milímetro, ou ao “milionésimo de segundo”. Uma opção arriscada mas com resultados arrebatadores. O jogo de movimento da ilustração em interação com a atriz e a sonoplastia em tempo real, nascida de um piano e alguns instrumentos inusitados, marcadamente enaltecedora do momento, garantem uma experiência inesquecível. A atuação de Madalena Marques encaixa como um puzzle nas partículas que sobrevoam o cenário, na corrida pelo espaço e, como que por magia, no desenho do bikini no seu corpo, realizado à distância por Catarina Sobral; elementos que surpreendem e deixam o público em êxtase, principalmente o público infantil, que não se inibe em reagir entusiasticamente e em entrar na performance. Os risos das crianças perante o crocodilo, palavra que se diz em menos de um segundo, contagiam também os adultos. E, sem espantar, as crianças acompanham a atriz quando esta tem de tossir muito por causa do fumo causado pela grande explosão. Uma verdadeira orquestra de tosse toma conta da sala do LU.CA. E a orquestra continua, numa tentativa de acompanhar a única canção do espetáculo, que Kent e Madalena cantam em homenagem ao Big Bang. Não faltam referências à cultura pop, rebuscando na memória do público mais velho as vozes adultas da série Charlie Brown, reproduzidas por um kazoo, ou uma incursão pelas alusões cinematográficas de ficção científica, como em 2001: Odisseia no Espaço.

Fotografia: ©Alípio Padilha; Imagem: ©Lu.Ca;
na imagem: Madalena Marques.

O público, este que faz a sala vibrar, sai feliz. A viagem valeu cada instante multiplicado por um milhão. Parece impossível, mas nesta viagem viram-se as partículas a olho nu, conheceram-se os nossos antepassados e, à lupa, observou-se aquilo de que somos feitos: pó de estrelas.


(Recensão elaborada a partir de experiência, na primeira fila, e notas pessoais da sessão de 8 de Maio às 11h30.)

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*A experiência enriquecerá com a leitura do livro “Impossível”, de Catarina Sobral (2018, ed. Orfeu Negro), obra homónima que surgiu após a criação da peça e que se traduz num livro álbum de elevada qualidade estética e literária.


Capa e contracapa de "Impossível" (2018), de Catarina Sobral, ed. Orfeu Negro.
Fotografia: fonte própria.


Ficha técnica

Sinopse: O mundo inteiro e todas as coisas que existem para além deste, couberam, um dia, no mesmo lugar. Não sabemos como apareceu, mas sabemos que o Universo teve origem num espaço muito pequeno. Parece impossível, mas é verdade: tudo começou quando as coisas grandes eram pequenas. Através da interação entre a atriz e as imagens manipuladas em tempo real pela ilustradora, Impossível conta a história do universo, bem vista de perto (e a vários anos-luz), desde o Big Bang ao aparecimento do homem, levando-nos numa longa viagem entre partículas, estrelas e dinossáurios. (retirado de https://lucateatroluisdecamoes.pt/event/impossivel-2/)


Autoria e Direção Artística Catarina Sobral
Dramaturgia e interpretação Madalena Marques
Música e sonoplastia F Kent Queener
Imagem e manipulação Catarina Sobral
Adereços Janaína Drummond
Figurino Catarina Fernandes
Revisão Científica Pedro Figueira/Centro de Astrofísica da Universidade do Porto 

História visual: https://lucateatroluisdecamoes.pt/wp-content/uploads/2021/04/historia-visual-impossivel.pdf 

Dossier pedagógico: https://lucateatroluisdecamoes.pt/wp-content/uploads/2021/04/dossie-pedagogico-catarina-sobral-2021.pdf 

Livro Impossível: https://www.orfeunegro.org/products/impossivel