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domingo, 11 de dezembro de 2022

‘ARTISTS WHO DO BOOKS’ de Edward Ruscha

ARTISTS WHO DO BOOKS'' (1976) pertence à coleção de uma série de desenhos de frases do artista Edward Ruscha, que procura questionar a arte, os seus materiais e suportes.

Nesta série de trabalhos e nesta peça em específico, a palavra assume destaque e é vista como um statement, ocupando o lugar esperado de uma imagem visual. Tirando partido de um tipo de letra bold e sem serifa, em forma de display type, o artista obtém uma frase muito legível e impactante que denota uma certa presença e autoridade. A utilização de pastel de óleo no fundo e de stencil de acetato s/ papel nas palavras, demonstra o uso de técnicas tradicionais em relação ao desenho enquanto meio artístico.

Adicionalmente, o resultado obtido pelo artista a partir de um método manual poderá levar a uma semelhança de um resultado que poderia ser obtido através de outros suportes e ferramentas digitais. Como por exemplo, com técnicas utilizadas na produção de livros e de posters em design gráfico. O método mecânico, com a utilização do stencil, acaba por permitir uma reprodução que entra em confronto com a ideia da criação de uma peça única de arte. Surge assim este contraste entre o artista que cria uma peça de arte exclusiva e aquele que produz livros com inúmeras reproduções. 

Em relação à frase em si, este nomear de um grupo específico de pessoas - os artistas - pelo próprio Edward Ruscha, poderá estar associado à necessidade de incluir-se e categorizar o seu trabalho. Nos anos 60, inúmeros artistas começaram a ver no livro uma possibilidade interessante para expandir e transformar o seu trabalho. Ruscha não foi exceção. Assim, este desenho poderá ser também uma referência ao seu percurso enquanto artista que produz livros. Livros estes, que na sua maioria caracterizam-se por apresentar fotografias a preto e branco e designs monocromáticos, tal como a peça. Um dos aspetos interessantes é que pela frase ser afirmativa é interpretada quase como um facto, uma verdade absoluta, embora seja uma posição do artista. Este trabalho leva à reflexão do papel do artista e do designer gráfico (ou outra designação dentro da área criativa) sobre quem faz livros ou quem poderá fazer. Apesar de ter sido criada nos anos 70 continua relevante nos dias de hoje, pois as distinções e os limites entre disciplinas artísticas são cada vez menos lineares, havendo possibilidade de um artista ser multidisciplinar.

Em suma, “ARTISTS WHO DO BOOKS'' permite uma reflexão sobre a criação e produção de livros enquanto prática artística e explora a arte concetual através do desenho.



ARTISTS WHO DO BOOKS, 1976, Edward Ruscha. © Ed Ruscha. Photo: Tate 




Twentysix Gasoline Stations, 1963, Edward Ruscha. © Ed Ruscha. Photo: PHAIDON




   Every Building on the Sunset Strip, 1966, Edward Ruscha. © Ed Ruscha. 


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

'People of the Twenty-First Century' de Hans Eijkelboom

O artista holandês, Hans Eijkelboom, ao longo dos anos tem vindo a explorar a cidade e os aglomerados de pessoas como ponto de partida para os seus trabalhos.

  People of the Twenty-First Century” é um projeto contínuo que começou há mais de 20 anos. Este apresenta-se no formato de livro e expositivo. Tendo a fotografia como ferramenta principal, Eijkelboom, investiga pessoas no espaço urbano, de diferentes cidades em diferentes países. Acaba assim por colecionar informação sobre o comportamento Humano e explora questões relacionadas com a identidade individual e da sociedade, referentes à área da Sociologia. 

Em termos do processo artístico, a recolha fotográfica parte de um método muito próprio e rigoroso, consistindo numa investigação diária. Num espaço de tempo, entre 15 a 20 minutos, o artista passeia pela cidade e analisa aspetos curiosos. Consoante o seu critério define o tema do dia. Nas duas horas seguintes percorre a cidade à procura de mais exemplos e semelhanças.

O tempo acaba por ser relevante neste projeto. O facto de o artista colecionar inúmeras pessoas com os mesmos aspetos num tempo limite é o que o torna interessante. As ruas são apresentadas como um espelho da sociedade. Caso o tempo não fosse controlado, os resultados seriam menos crus, exemplificativos e os valores do projeto seriam comprometidos. Para além disto, a recolha diária ao longo dos anos tem vindo a permitir um registo de diferenças geracionais.

O artista ao organizar as coleções do seu arquivo fotográfico, por tema e ao dispô-las lado a lado, acaba por criar ligações, comparações e encontrar padrões. Esta recolha de informação - de data - sobre as pessoas; sobre os seus gostos; as suas particularidades; a sua maneira de vestir e como apresentam-se no espaço público, diz muito sobre a individualidade de cada um. No entanto, o consumismo acaba por interferir e questões são levantadas em relação às pessoas representadas parecerem idênticas, apesar das diferenças culturais e de costumes.

People of the Twenty-First Century” acaba por ser um estudo da vida social, onde o artista encara o mundo que o rodeia com um olhar atento e crítico.







Fig.01 - 04: 'People of the Twenty-First Century', Hans Eijkelboom



Para mais informações sobre o projeto e o artista:

https://www.youtube.com/watch?v=V8m2MEoeiqY

https://i-d.vice.com/en/article/k7e83e/hans-eijkelboom-photographer-street-fusion-bristol-in-2019



segunda-feira, 14 de novembro de 2022

'A Book for Loozing in the Street' de Benedict Phillips

As ferramentas tecnológicas e os suportes digitais são recursos utilizados na criação contemporânea de livros de artista, sendo o Benedict Phillips um caso-prático.

Com ‘A book for Loozing in the Street’ (2000), o artista explorou as ruas de Nova Iorque à procura de objetos abandonados pelos habitantes. Através do registo fotográfico destes e de algumas anotações, o conteúdo do livro consistia numa espécie de mapa com todas as descobertas do percurso. Adicionalmente, o livro expandia para o digital com a presença de links que direcionavam o leitor para o website do projeto com informação complementar. Impressos em litografia-offset, cerca de 600 exemplares deste livro foram espalhados pelas ruas da cidade.

Um dos aspetos interessantes deste projeto é que o livro tem o mesmo propósito do seu conteúdo - ser mais um dos objetos perdidos e colecionados no espaço urbano. Este explora assim a relação entre o sujeito e os objetos do quotidiano, incentivando um olhar atento pela cidade. Assemelha-se a uma ‘caça ao tesouro’ onde os intervenientes nem sabem que esta existe ou que fazem parte dela. A partir do momento em que estão a passear pelas ruas de Nova Iorque, involuntariamente, estão a participar pois poderão encontrar o livro. Esta experiência interativa acaba por adicionar valor ao objeto físico.

Analisando o formato, o livro é menor do que um A6 e por isso torna-se mais fácil de perder e difícil de encontrar. A escolha de um material resistente e impermeável para envolver o livro como o saco de vácuo, prepara-o para a exposição a diferentes condições meteorológicas e protege o seu interior. Para além disto, o formato digital e online deste projeto possibilitou a comunicação direta entre o artista e o público, havendo uma troca de ideias e de feedback relativamente à peça.

Atualmente, há falta de documentação sobre a peça, ainda que esta tenha sido exposta no livro ‘Creating Artists’ Books’ (2005), de Sarah Bodman. Isto poderá estar relacionado com a sua contemporaneidade, visto que o próprio artista não a contém catalogada no seu website. Esta falta de registo online faz com que o livro de artista espelhe o seu conceito e também se perca no tempo e no espaço. 

Desta maneira, Benedict Phillips, explorou a relação entre o público e o objeto e também a sua própria interação com os participantes, através da combinação de um suporte físico com um suporte digital no livro de artista. 




Fig.01 - 'A Book for Loozing in the Street' (2000) de Benedict Phillips,
retirada do livro 'Creating Artists' Books' (2005) de Sarah Bodman



Site do artista Benedict Phillips:

https://benedictphillips.co.uk/


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Projeto 'Dear Data' de Giorgia Lupi e Stefanie Posavec

 

A utilização de dados enquanto recurso criativo tem vindo a ganhar espaço nos últimos anos, com projetos desenvolvidos através da representação visual dos mesmos associados ao design de informação.

Esta possibilidade de registar data, de colecionar informação do mundo, está sob o olhar atento de duas designers, que exploram esta ferramenta nos seus trabalhos. Numa tentativa de colaboração e com o intuito de se conhecerem uma à outra, Giorgia Lupi e Stefanie Posavec, iniciaram o projeto ‘Dear Data’ em 2014, com a duração de um ano. Estando a residir em sítios diferentes, uma em Nova Iorque e a outra em Londres, respetivamente, o projeto desenvolveu-se à distância. Este consistia na correspondência semanal de um postal com data representada visualmente, por um desenho analógico, sobre observações retiradas nesses sete dias. Com o desenvolvimento do projeto expandiram para um outro formato - o livro.

De modo a responderem à questão semanal predefinida por ambas, começavam por realizar um levantamento e registo de dados pessoais através da investigação de aspetos das suas rotinas, das suas relações interpessoais e da própria maneira de ser e estar. Esta procura de quantificar os aspetos do dia-a-dia, quase como um inquérito semanal, permitiu uma representação visual destes valores e a organização destes perante uma certa ordem ou padrão.

O registo, com o passar do tempo, levou-as a descobrir traços de personalidade e proporcionou-lhes uma oportunidade de refletir sobre o seu próprio comportamento. Estes exercícios, de análises de ambientes e vivências, fomentaram o nível de atenção e de detalhe. Para Stefanie Posavec, “the data…should be seen as a starting point for questioning and understanding the world around us.”

A leitura e compreensão das cartas era feita a partir das descrições na parte de trás das mesmas, contendo a ´tradução´ dos desenhos e as explicações das escolhas visuais. Para além disto, a materialidade dos objetos muitas vezes foi comprometida pela utilização do correio, apresentando marcas físicas da viagem e alterações no próprio desenho.

Este projeto demonstra como o levantamento e análise de dados pessoais poderá ser um ponto de partida para uma conversa, para o desenvolvimento das relações humanas e de uma nova perspetiva no design. 






Fig. 1 - 4: Giorgia Lupi e Stefanie Posavec, ‘Dear Data’, 2015



Site do projeto e conteúdos:


http://www.dear-data.com/theproject

https://www.youtube.com/watch?v=iqaVe1MCTlA&t=32s





domingo, 16 de outubro de 2022

Materiais não convencionais na produção de Livros de Artista


O livro foi, e continua a ser, questionado ao longo dos anos pelos artistas. A utilização de diferentes suportes e materiais, para além do papel convencional, permitiu repensar o livro enquanto objeto e materialidade. 


A produção contemporânea dos livros de artista foi influenciada pelo contexto social, pelos movimentos artísticos e pelas novas tecnologias do século XX. O Dadaísmo (1916) e o Fluxus (1960) foram movimentos que questionaram a criação artística. Estes trabalharam com novas disciplinas como a música, a instalação, a performance, e produziram publicações, acabando por expandir o livro enquanto objeto e evento (Fig.1, Fig.2 e Fig.3).  Tanto num, como no outro, era característico a utilização de materiais do dia-a-dia, económicos e objetos previamente construídos - os ready-mades

Influenciado pelos movimentos anteriores, o artista e designer Ben Denzer procura as possibilidades dos livros de artista e dos seus materiais. Ao dizer “What is a book but a collection of things bound together'', Denzer reflete sobre as infinitas possibilidades que poderão ser exploradas em relação à utilização dos materiais na construção de um livro. O designer publicou na ‘Catalog Press’ livros que exploram o conceito do mesmo enquanto coleção de coisas - imagens, palavras, objetos. Estes são feitos de materiais não convencionais, onde as páginas são coisas do dia-a-dia, tais como carne, queijo, papel higiénico e “raspadinhas” (Fig.4 - Fig.7). Esta escolha de materiais vulgares, isto é, materiais que pertencem ao quotidiano e que acabam por ser deslocados do contexto intencionado, pode ser considerada como uma abordagem ligada aos objetos ready-made.

Esta característica levanta questões em termos de comunicação, de leitura, manuseamento do livro-objeto e da durabilidade dos materiais em causa, e consequentemente, da sua própria efemeridade. No entanto, o papel do artista que produz livros passa por repensar o mesmo nas suas possibilidades e materiais, continuando a levantar questões e a criar problemas.


Concluindo, a utilização de materiais incomuns na criação de livros de artista leva o espetador a questionar o conceito de livro e convida-o a sair da expetativa do que pode ser identificável como livro e dos materiais que podem ser usados.


Caso prático do artista e designer, Ben Denzer:

https://www.youtube.com/watch?v=42dvTa9Mlq0

https://catalogpress.org/