terça-feira, 24 de novembro de 2015

João Henriques - The Face of Another

The Face of Another - João Henriques

João Henriques - The Face of Another
Oficina da Cultura
13 a 29 de Novembro 2015
Inserido no Mês da Fotografia
ImaginArte Almada 2015




“A luta contra a ambivalência é, portanto, tanto autodestrutiva como autopropulsora”
Zygmunt Bauman, Modernidade e ambivalência,

Chegar à entrada de uma exposição de um artista emergente numa cidade periférica em relação a Lisboa e ver gente à porta. Fila para entrar. É sabido o empenho que os municípios da margem sul têm na promoção e divulgação da cultura, mas não deixa de ser surpreendente.
Aproximo-me um pouco mais e oiço música. Noto que vem, também, da exposição.
Lá dentro atua uma tuna universitária. Há uma plateia construída para a ocasião e há gente a ouvir. Gente de todas as idades. Gente sentada, gente de pé, tudo gente alegre e cerimoniosamente distante das imagens na parede.
Depois do concerto, o discurso do presidente da Câmara. É dia de inauguração da iluminação de Natal e o município escolheu aquele espaço para assinalar a efeméride.



Resolvo continuar a ver a exposição. O convite diz “…Neste trabalho de João Henriques, onde a realidade surge como um lugar complexo, mediado por sucessivos véus, em que se teoriza a máscara como espaço transitivo entre a realidade e a ficção, o indivíduo e a sociedade, o íntimo e o público, é também da assertiva e rigorosa construção da imagem enquanto cena que se trata.”



João Henriques começou a trabalhar sobre a relação entre máscara e identidade a partir de um conjunto de retratos de homens que se disfarçam de mulheres no carnaval de Torres Vedras, feito entre 2009 e 2012.
Esta exposição apresenta um conjunto desses retratos do carnaval de torres vedras, aos quais são acrescentados outros retratos e paisagens urbanas.



O que resulta é uma espécie de jogo entre identidade e alteridade. E se se tratasse apenas dos retratos, seria suficiente dizer isto. Trazer a relação do hábito e da necessidade de sair dele, de sair dos hábitos que nos definem os dias e procurar na alteridade uma fuga desse eu que os dias ao mesmo tempo  confirmam e desgastam. 
No entanto, a adição dos elementos de paisagem urbana traz a questão desta relação entre identidade e alteridade para um outro nível. Lembramo-nos que a fotografia nos aproximou de tal modo da imagem do que tínhamos por realidade, que acabou por no-la mostrar como ilusão ou como montagem e essa ideia da montagem faz-nos olhar novamente para os retratos.



Ao trazer a realidade para este jogo entre realidade e alteridade, a questão transforma-se e transporta-nos para um espaço onde nenhum deste elementos tem, necessariamente, aplicação. A conjugação destas imagens, retratos, retratos de máscaras e retratos de espaços de alteridade na paisagem, leva-nos, a pouco e pouco, a olhar a identidade da paisagem como uma construção; faz-nos ver o real como algo mais que se acrescentou, como mais uma máscara e, de repente, convida-nos a olhar as máscaras de outra forma: o que é que, em toda esta dança do ser e do parecer, é?



Entre os retratos do jogo identidade alteridade, as imagens da paisagem urbana contemporânea vão-nos deixando pistas para a ideia do jogo que se desenvolve entre os retratos. Vemos signos da construção e da propaganda e vemos essas caixinhas mágicas, essas caixinhas negras do processo de informação, tanto para a identidade, como para a alteridade. É neste jogo que o processo se desenvolve. Há como que um discurso, um ensaio, já não sobre a realidade nem sobre a identidade nem sobre a alteridade, mas sobre o jogo de processos que é tudo isto, assente numa contínua movimentação e transformação da informação que nos encontra nela, criando-a e sendo criados por ela.




Volto ao folheto, à saída da exposição: “à semelhança com a máscara, a imagem fotográfica é também ela uma aparência, um dispositivo que representa ambiguamente a realidade, que duplica o real e que o transfigura…”. Já na rua, noto uma dessas caixas negras, como na foto. Está junto a um muro com um mural representando os prédios da cidade e, de certo modo, confunde-se com estes.




Os azuis do céu no mural fazem-me olhar novamente para a imagem do convite, também ela com azul ao fundo, numa pintura de um cenário campestre: uma casa, também pintada num muro, e uma nuvem, azul, como nos desenhos das crianças. Ao lado há um pomar. A parte desse muro que não está pintada denota alguns sinais de abandono. Em frente, uma mulher está sentada com uma máscara de uma vaca, braços e pernas cruzados.
Sigo pela rua, divertido, prolongando esse jogo entre realidade e alteridade e aparência e identidade, e noto que o mesmo grupo se encontra na praça. 
As luzes de natal acendem-se e em todos paira esse bem estar dos dias de festa.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Artista portuguesa Helena Almeida é destaque no Museu de Serralves, no Porto
Obras selecionadas da 31ª Bienal de São Paulo também estão em exposição



A minha obra é meu corpo, o meu corpo é a minha obra
Museu de Serralves  (Rua D. João de Castro, 210, Porto)
Até 10 de janeiro/ 2016
Terça-sexta 10h/ 18h
Sáb., Domingo e feriados 10h/ 19h
Mais informações/ valores ingresso: http://www.serralves.pt




Uma das mais influentes artistas plásticas de Portugal é um dos destaques no espaço expositivo do Porto que merece atenção, literalmente. Se quiser conhecer uma das figuras chaves da arte no país, as salas dedicadas às obras de Helena Almeida (Lisboa, 1934) trazem um panorama do seu percurso artístico.
Com curadoria de Marta Moreira de Almeida e João Ribas, a exposição traz obras que vão desde os anos sessenta e figuram entre pinturas de telas abstratas do começo da carreira, desenhos, esboços, fotografias até uma vídeo-instalação, um de seus mais recentes trabalhos e que nos dá mostra de sua vitalidade. Ao mesmo tempo, a coerência de uma artista que optou em não parar é perceptível. E instigante.




                                                                                                                                      Fotos: Fábio Miceli
   (Telas abstratas: Sem título 1968/ Sem título 1969/ Sem título 1968)



    (Visitantes em uma das salas dedicadas à artista Helena Almeida)




Chama a atenção o seu pensamento revigorante que, no conjunto da mostra, conseguimos perceber sua ligação latente com a obra. No caso de Helena Almeida a relação que exerce com sua linguagem vai além do habitual processo de construção e assinatura das obras. Ela é mais potente: A minha obra é meu corpo, o meu corpo é a minha obra.





                             (Tela Habitada 1976/77, Fotografia p/b)



                                               
O nome da exposição é tão insinuante ao expectador que mesmo quem não está habituado aos ambientes conceituados de museus e galerias vai conseguir o diálogo proposto pela artista. Porque é também a esse observador interessado que a arte, de um modo geral, deve se prestar (ou deveria).
Para que seu trabalho ganhe a força necessária a fotografia tem um papel fundamental por ser esse o principal suporte para Helena Almeida fazer com que sua obra se fortaleça conceitualmente e possa ser interpretada. Nesse sentido, seu marido e colaborador Artur Rosa é o fotógrafo das performances e, em alguns casos, também objeto a ser captado junto a artista. No instante único que caracteriza toda concepção fotográfica, o registro ganha a potência necessária para se eternizar e a mensagem ultrapassar a fugacidade do clique.





                                                                                                                                            Bruna Barbiero
                  (O Abraço 2007, Total de oito fotografias p/b)




(Estudo para dois espaços, 1977 Fotografias p/b)




As obras de Helena Almeida expostas em Serralves parecem escancarar a relação artista/ arte numa fusão única que não dissocia uma da outra, uma espécie de silêncio que nos grita, que faz pensar nosso posicionamento perante as coisas da vida. Obras que nos fazem sentir presente por meio de sua  total presença em sua linguagem: é o seu corpo que nos ‘fala’.




                                                                                                             Bruna Barbiero
 (Série Ouve-me 1979, Fotografia p/b)







                                                   
"Como (…) coisas que não existem - uma exposição desenvolvida a partir da 31ª Bienal de São Paulo” 


Museu de Serralves (Rua D. João de Castro, 210, Porto)
Até 17 de janeiro/ 2016
Terça-sexta 10h/ 18h
Sáb., Domingo e feriados 10h/ 19h
Mais informações/ valores ingresso: http://www.serralves.pt






(Hall de entrada/ Parte da obra do artista: Éder Oliveira, Sem título 2015)






Trabalhos de artistas selecionados para uma das mais tradicionais mostras de artes, a Bienal de São Paulo, tem algumas das obras também selecionadas para uma exposição no Museu de Serralves, no Porto. Se podemos considerar que toda arte de alguma maneira se relaciona de forma política em seus contextos de produção, a maioria das que nos deparamos na mostra tem essa conotação explícita.
Com trabalhos com forte potencial crítico, os artistas escancaram a realidade, ou  talvez melhor seria dizer realidades: nos trazem a tona um lado contestador com a ordem imposta de ‘cima’, aquela que ao mesmo tempo censura, mata, quer calar as várias vozes fora do “padrão” político, religioso e social. 






(Mujawara of the School Tree, 2015, Contrafilé, Sandi Hilal&AlessandroPetti; Maps, 2015, Qiu Zhijie)
                               






(Histórias de aprendizagem, 2014, Voluspa Jarpa)






(Apelo, 2014, Clara Ianni e Débora Maria da Silva)






(Letters to the Reader, Walid Raad, 2014)






"Como (…) coisas que não existem”, artistas internacionais têm em comum uma visão inquietante da sociedade e buscam o diferencial tanto na concepção artística como na mensagem proposta pelas obras de arte, principalmente. Propõem questões que nos fazem sair do conforto, tentam mostrar que todos temos nossa parcela de responsabilidade.

                                                             

                                     






domingo, 22 de novembro de 2015

A Luz de Lisboa

Museu de Lisboa - Torreão Poente, Terreiro do Paço
Até 20 de dezembro de 2015
De 3ª a Domingo - 10h às 18h
Normal: 3€ / Família (4 pax.): 8€ / Estudantes e reformados: 2€

Quadros do vídeo em time-lapse, de Miguel Amaral (2015)

“Não te demores – o sol anda a deitar-se | sem pudor | em todos os telhados, e a luz esmorece” (Maria do Rosário Pedreira)

Celebrando o Ano Internacional da Luz, A Luz de Lisboa é a exposição que segue até o próximo dia 20 de dezembro no Museu de Lisboa - Torreão Poente do Terreiro do Paço e que se propõe a explicar cientificamente o fenómeno e a exibir o evento reproduzido em 45 obras de pintura, fotografia, publicidade, cinema, vídeo e literatura.





Vistas gerais da exposição que ocupa o 2º andar da Torre

Comissariada pela Professora Doutora Ana Eiró, professora de física e ex-diretora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, e pelo diretor de fotografia no cinema português e estrangeiro, Acácio de Almeida, a exposição que ocupa todo o 2º andar da Torre nos leva a experimentar uma variada gama de elementos que têm relação com o facto.

No início da primeira parte da exposição, somos guiados por um sinuoso caminho de salas escuras onde, nas sombras, por meio de gráficos e dispositivos interativos, explicam-nos a natureza física da luz, seus caminhos através da atmosfera terrestre, suas características de refração e de propagação. 


Simulação da mudança da cor da luz do Sol, quando a camada de atmosfera
atravessada pelos raios solares varia. Os raios solares atravessam cerca de 800km de atmosfera
numa incidência rasante (pôr do sol) e apenas cerca de 50km numa incidência vertical (ao meio-dia)

Chegamos à luz lisboeta onde as salas iluminadas pelas janelas que dão diretamente para o Terreiro do Paço nos mostram todo o conjunto subtil de fatores que contribui para a ocorrência do fenómeno. A meteorologia nos conta que Lisboa tem as maiores médias europeias de horas de sol descoberto, 2.786h por ano (Paris, tem míseras 1.661h) e de 10h no mês de julho, e que os ventos do norte associados a massas de ar com características polares proporcionam condições de grande transparência atmosférica, originando dias muito luminosos com excecional visibilidade, favorecendo a reflexão do sol nas águas do Tejo e sua dispersão nas colinas e edifícios da cidade. A topografia da cidade, em forma de anfiteatro virada para o rio e para o sul, recolhe essa luz refletida concentrando-a nos vales. 

Além disso, Lisboa é construída com materiais claros que refletem e dispersam a luz tornando-a mais intensa aos nossos olhos. Calcários brancos, azulejos, pedras de lioz, o casario rosa, amarelo e ocre, sobre um chão onde a calçada portuguesa tem grande predominância. Esse conjunto de materiais diferente do das outras cidades da Europa, contribui para a luminosidade mundialmente reconhecida.


Em Lisboa os ventos sopram todo o ano e associados a massas de ar polares
proporcionam condições de grande transparência atmosférica

Na segunda parte da exposição, presta-se uma emotiva deferência a este ícone imaterial da cidade, que vem desde sempre encantando a moradores e turistas, a portugueses e estrangeiros, como eu.

Encontramos as características do fenómeno que a ciência não vê: o colorido, a atmosfera sedutora e o sentimento criativo. O registro das cenas urbanas, do Tejo e da gente. A contínua interpretação poética da cidade que em obras do início do século passado até a atualidade trazem-nos o sentir dos artistas. Há obras de Carlos Botelho, Nuno Cera, Jorge Martins, Vasco Graça Moura, entre outros. A montagem desta parte da exposição nos leva a um passeio constante entre as diversas formas artísticas que constam da exposição. Pelas salas, intercalam-se pinturas e fotografias, a Literatura está sempre presente com excertos de poemas e prosa afixados às paredes e alguns pontos onde podemos sentar-nos e com a ajuda de auscultadores, ouvir a declamação de poesias e textos. Há também uma sala de projeção onde pode-se assistir a trechos de filmes que tiveram a cidade por cenário como Os Verdes Anos, de Paulo Rocha (1963), Dans La Ville Blanche, de Alain Tanner (1983) e Lisbon Story, de Win Wenders (1994). Como obras inéditas da exposição, estão o documentário As Artes da Luz de Lisboa, produzido pela Videoteca de Lisboa e o vídeo Mensagens de Luz, de Acácio de Almeida.


A Peça, direção Bruno Canas – Curta-metragem (2015)
A história de amor entre um buraco negro e uma estrela dá uma nova dimensão à vida de Eduardo

Gostaria de destacar três obras. A Cidade, pintura a óleo de Fernando de Azevedo (1955-56), uma colorida abstração geométrica onde um jogo de tons e sombras nos dá uma impressionante dimensão de volumes, planos, reflexos e texturas nas quais imediatamente reconhecemos o espírito de Lisboa, convidando-nos a subir e descer pelas suas ladeiras e escadinhas (e quantas há!) em um vai-e-vem ritmado por brancos e cores que nos abraçam com seu calor e encantos. 


Fernando de Azevedo (1923-2002) - A Cidade, Óleo s/ tela (1955-56)
Museu Nacional de Arte Contemporânea

Rua da Rosa, óleo de Manuel Amado (1997), um dos quadros com as maiores dimensões do conjunto de obras e que nos atrai definitivamente para dentro de si, onde a composição da perspetiva atravessada por um feixe de luz horizontal que ilumina toda a obra, nos dá em uma dimensão pictórica a sensação de estarmos caminhando diretamente pela rua do Bairro Alto. 


Manuel Amado (1938-) - Rua da Rosa, Óleo s/ tela (1997)
Museu de Lisboa

E a série fotográfica The Mirror Suitcase Man, de Rui Calçada Bastos (2005), conjunto a preto e branco onde o autor combina o espaço urbano com a imagem fragmentada, ao retratar um homem que perambula por Lisboa tendo à mão uma mala com uma superfície espelhada. Temos pois, o “olhar da mala”, a simples criação reflexiva da luz que nos é mostrada quase de forma mecânica, revelando-nos algo que está além dos limites do enquadramento da foto. 


Rui Calçada Bastos (1971-) - The Mirror Suitcase Man, C-Print, Diasec (2005)
Série Lisboa, Edição 2/3 - Museu de Lisboa

Lembro-me da primeira vez que estivemos, eu e minha esposa, em Lisboa. Não foi a nossa primeira vez em Portugal, onde já estivéramos seis anos antes. Mas em março de 2011 foi a primeira oportunidade que tivemos de estar e sair às ruas da capital. E além daqueles que são pontos obrigatórios do turismo, e da inusitada sensação experimentada pelos brasileiros que se sentem ao mesmo tempo na Europa e no Brasil, a característica quase transcendente da luminosidade da cidade chamou-nos a atenção.

Retornamos à cidade anualmente, e agora moradores de Lisboa, comprovamos que esta característica não foi apenas uma impressão nesta feliz exposição sobre aquela que é a verdadeira “cidade-luz” europeia.


Um dos cartazes de promoção turística da exposição,
que utiliza o jogo do céu, luz e sombras características da cidade



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

PIN - João Mota da Costa

PIN
João Mota da Costa
Atelier-museu António Duarte,
Centro de Artes das Caldas da Rainha
14.11.2015 a 07.01.2016





O Atelier Museu António Duarte fica no Centro de Artes das Caldas da Rainha, um conjunto de edifícios de museus, ateliês e residências envoltos por um jardim que alberga esculturas de maiores dimensões.
A identificação dos vários espaços não é fácil, o que torna difícil a chegada ao espaço escolhido. Uma vez lá dentro, dirigimo-nos à sala de exposições temporárias, para a exposição de João Mota da Costa (Lisboa, 1954), e para o seu trabalho PIN.
PIN é a sigla atribuída pelo Governo de Portugal aos projetos de Potencial Interesse Nacional.
É definida por este da seguinte forma:

São reconhecidos como PIN os projetos que, sendo suscetíveis de adequada sustentabilidade ambiental e territorial representem um investimento global superior a 25 milhões de euros.
O que se pretende é favorecer a concretização de diversos tipos de projetos de investimento promovendo a superação dos bloqueios administrativos e garantindo uma resposta célere, … … por via das alterações legislativas necessárias.
Em função da natureza ou localização de um projeto PIN, a comissão deve solicitar a participação nas suas reuniões de outras entidades, sem direito a voto.
(Concelho de Ministros n 95/2005 de 24 de Maio de 2005 – DR 100 – Série I-B)





    
O trabalho exposto é um levantamento do território atribuído pelo Governo de Portugal a um projeto classificado como de Potencial Interesse Nacional, para a construção de um Resort de Luxo junto à Lagoa de Óbidos, o Royal Óbidos. Leva-nos numa viagem temporal ao longo do processo de transformação da paisagem, desde o seu aspeto inicial, natural, ao resultado final da intervenção para a construção do resort.





Ao ver as imagens apresentadas sob este nome, percebemos a ironia de se atribuir interesse nacional à desolação que esta paisagem nos oferece.





As imagens mostram o revolver inútil de terras, transformando uma paisagem natural num espaço inominável. Um projeto que ficou a meio caminho e do qual restaram, no lugar da anterior paisagem natural, as infraestruturas para construções que não chegariam a ser feitas.




A formalidade com que João Mota da Costa aborda este trabalho permite-nos a distância e a escala para perceber o alcance da desolação. O tamanho das imagens não nos deixa fugir. As doze fotografias apresentadas sugerem um percurso, desde o início das obras até à fase em que estas pararam, dando uma ideia de percurso temporal ao longo da transformação da paisagem.




Um pouco à imagem de projetos anteriores, Mota da Costa procura mostrar o espaço após a intervenção humana, não no sentido do acabamento, da obra pronta a mostrar, mas no sentido de mostrar as marcas da intervenção depois de esta ser feita. As salas de operação imediatamente após estas serem efetuadas, Four out of Seven (2014), ou os quartos de motel depois dos encontros da hora de almoço, Lunch Time Affair (2012), são disso um bom exemplo. No caso de PIN, o trabalho ganha um novo contorno e um alcance mais marcadamente político, mostrando terras que foram antes a orla da lagoa e que, depois da intervenção, são pouco mais do que um cenário de destruição.





A associação deste nome, PIN, às imagens dos terrenos informes, das obras deixadas a meio por puro desinteresse, deixa no ar a questão sobre quais os interesses que este projeto defende e essoutra, tão premente, nos nossos dias, do que é a política: se é da defesa deste ou daquele partido ou desta ou daquela ideologia e seus interesses instalados da ambição e da especulação desmesuradas, ou se é o sentido mais nobre da ação que protege e fomenta os laços que ligam e protegem uma comunidade e o espaço que esta habita.