segunda-feira, 16 de novembro de 2015

One’s own arena

Fundação EDP - Museu da Eletricidade

Av. Brasília, 1300-598 Lisboa

+35121 002 8130

fundacaoedp@edp.pt
15 de Outubro 2015 – 13 de Dezembro 2015
Entrada livre
Curadoria - Nuno Crespo


Foi inaugurada a 15 de outubro na Fundação EDP em Lisboa, a exposição fotográfica One’s own arena de José Pedro Cortes, com curadoria de Nuno Crespo, que estará aberta ao público até 13 de dezembro.
O fotógrafo nasceu na cidade do Porto e estudou Arts in Photography no Kent Institute of Art and Design do Reino Unido. Em 2005 regressou a Portugal e fundou a sua própria editora de livros fotográficos, a Pierre von Kleist editions. Influenciado pela estética japonesa, o seu trabalho desenvolve-se em torno da sequência narrativa documental; o experimentalismo técnico do acto fotográfico - ensaio cromático, preto e branco e “fondu enchainé” - e a espontaneidade performativa do snapshot. 






Mal se entra na exposição, pode experienciar-se imediatamente o seu foto-livro de título homónimo que se encontra pousado sobre uma mesa. Conta a história da sua segunda viagem à cidade Toyama, no Japão. Cortes coloca-se no papel de voyeur e regista cenas casuais do quotidiano. Por um lado, memórias de uma cidade silenciosa capturada como uma natureza-morta e, por outro, o território doméstico e íntimo de um grupo de pessoas com quem se relacionou. O livro, cuja frescura da tinta é palpável, pode ser folheado com interesse. O espectador é convidado a entrar numa narrativa cuja poesia reside na própria composição gráfica das imagens e no espaço vazio entre elas. 


Em seguida entra-se na exposição propriamente dita, que consiste em fragmentos do livro. Repartida por duas salas, é composta por trinta e nove imagens de dimensões e disposições variáveis. 

«São umas ruas, 6 ou 7 pessoas, um restaurante, o mesmo quarto de hotel e pouco mais», esclarece José Pedro Cortes. 

Fica-se assim perante obras de teor e distribuição espacial difusa e heterogénea. É evidente um jogo cromático e formal na sua disposição, expostas como vinhetas de banda-desenhada. 

É curiosa a singularidade de um único retrato a preto e branco, exposto logo na primeira sala. Em trabalhos anteriores, José Pedro Cortes trabalhou o dicotomismo cores/ preto e branco, pelo que se mostrou algo surpreendente o facto de em One’s own arena só existir uma fotografia monocromática.
O critico alemão Toni Hildebrandt, referindo-se à estética José Pedro Cortes e ao jogo cromático presente nas suas obras, classificou a sua fotografia monocromática como a projecção de uma memória passada, e a fotografia colorida como a presentificação e eternização dessa memória. 
Nas duas salas destacam-se objectos brancos de carácter anónimo; espaços urbanos ou arquitetónicos gastos pela cidade de consumo; objectos domésticos de marco identitário japonês; vestígios particulares de convívio social (por exemplo: um jantar de grupo em que só se fotografa um indivíduo) ; naturezas-mortas recolhidas em espaços interiores e exteriores; momentos solitários num hotel; traços de dupla exposição num jogo de baseboll; figuras de várias mulheres e uma cena única de mood íntimo entre um homem e uma mulher.
Embora as temáticas sejam múltiplas, não se pode deixar de destacar a preferência pelo retrato feminino e universo semi-erótico. Algumas fugiras surgem nuas ou semi-despidas, outras, pelo contrário, totalmente cobertas mas denunciando um ambiente privado; umas de olhar directo para a câmara; outras que parecem nem se aperceber do gesto fotográfico; outras ainda que mostram apenas partes do corpo, cuja extrema definição de textura e proximidade causam desconforto no espectador...
O autor explica: “Cria-se um choque entre o lado forçado do fotógrafo a dirigir alguém, e o lado mais natural [do fotografado].”
Em todos os cenários existe uma ideia inerente de união sequencial e narrativa, sem barreiras entre o seu início e o seu fim. O espectador perde-se numa elipse, recriando a sua própria leitura, sujeito a um ambiente memoir que lhe é contado entre a realidade e a ficção. 
“As imagens foram feitas a pensar em Toyama como um território (...), [a pensar] na relação do corpo com a arquitectura, com a superfície e materialidade das coisas”», nas palavras do próprio José Pedro Cortes. 



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