quinta-feira, 26 de outubro de 2023

"Choose Your Future" de Joshua Citarella

Joshua Citarella, 

Choose Your Future, 2021, 

Interactive Website & Audio

“Perhaps it would also be useful for me to be more precise about how I use the term design fiction. I see design essentially as a storytelling process, in the sense that I understand all human artefacts to be implicated in telling the story of the universe. (...) For me, the fiction in design fiction is not primarily about the impossible, or the futuristic, but about the multiplicity of possibilities in any ordinary decision making process. If one accepts artefacts as narrators of the universe, then it would seem that a most urgent task for any designer is to become familiar with manipulating object narratives in this basic and essential way.” (James Langdon, em entrevista com Francisco Laranjo para Modes of Criticism. 3 Março, 2015)

O excerto da entrevista de Francisco Laranjo a James Langdon para Modes of Criticism e o conceito de design-ficção serve como ponte de expansão para o projeto apresentado: Choose your future, de Joshua Citarella. Este projeto de 2021, consiste num website e áudio encomendados por ele a um grupo de artistas e memers para que escrevessem entradas ao estilo da wikipédia de cenários futuros imaginados, inspirados pela história política e movimentos do passado para antecipar possíveis futuros e facções ideológicas. Estas entradas textuais são depois vertidas para um áudio dobrado por criadores de conteúdos, “desta maneira o projeto, emula a amplificação do sinal que ocorre através dos meios de comunicação social, na medida em que ideias radicais passam das margens anónimas para a corrente dominante verificada.”

“Is this the multi-faceted analysis of the Rand Corporation? Or is it a teenage meme poster who thinks it would be cool if these political keywords combined? I’m interested in the point where those spheres overlap.”

O interesse de Citarella reside nos escombros da pós-internet, com foco nas subculturas contemporâneas que surgem online, os espaços de radicalização política e os conteúdos miméticos produzidos pelas novas gerações, documentando os seus dispositivos estéticos e políticos.

Em Choose your future há um ímpeto, não de prever futuros possíveis através do design, mas antes numa exploração da multiplicidade de possibilidades, sendo também ele um espaço de experimentação online o que lhe confere uma certa qualidade metacrítica. Tal como exposto por Langdon, neste projeto há um ênfase na ideia de design como um processo de storytelling, a exploração/manipulação de diferentes narrativas. É em projetos como este, onde estas franjas do pensamento são permitidas de proliferar, que se verifica as capacidades do Design-ficção como ferramenta para propor novos modos de relacionar com o mundo, criar sistemas e objectos, capazes de moldar a janela de overton e introduzir novas propostas, discursos, conceitos que a população geral seja capaz de aceitar. Uma espécie de hack à vida real, material.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Adrian Frutiger, um génio tipográfico.

   



    Adrian Frutiger (1928-2015) foi um designer gráfico suíço do século XX. Seu forte era o design de fontes e ele foi considerado responsável pelo avanço da tipografia manual para a tipografia digital. A sua valiosa contribuição para a tipografia inclui os tipos de letra Univers e Frutiger.


    Desde muito jovem, começou a experimentar caligrafia estilizada, desafiando a caligrafia formal e cursiva ensinada nas escolas suíças. Acabou por entrar no mundo da impressão, mantendo vivo o seu amor pela escultura, incorporando os desenhos da escultura nas suas fontes.


    A Univers foi uma das primeiras famílias tipográficas a concretizar a ideia de que uma fonte deveria formar uma família de tipos consistentes e relacionados entre si. Ao criar uma gama correspondente de estilos e pesos, a Univers permitiu que os documentos fossem criados num tipo de letra consistente para todo o texto, sendo mais fácil definir artisticamente os documentos correspondendo ao desejo dos praticantes do "estilo suíço" de tipografia  e de fontes neutras sem serifa, evitando excessos artísticos.


    Após a recepção bem-sucedida desta fonte moderna, foi contratado para trabalhar no novo Aeroporto Internacional Charles de Gaulle. Ele criou um alfabeto de sinalização que orientasse e que fosse legível de longe e de qualquer ângulo. 

    

    Assim, decidiu primeiro adaptar a fonte Univers, acabando por abandonar essa ideia, considerando-a um pouco desatualizada para a altura. Decidiu então seguir uma abordagem diferente e acabou por alterar a sua fonte Univers fundindo-a com influências orgânicas da fonte Gill Sans de Eric Gill. Esta fonte foi originalmente intitulada como Roissy, embora tenha sido renomeada para Frutiger, em 1976.


    Em baixo, apresentam-se as duas fontes que falei, a Univers na imagem de cima e a Frutiger a seguir: