Apresentado na Fábrica das Artes - CCB, entre os dias 27 de maio e 1 junho, o espetáculo Ici te lá (“aqui e ali”), da companhia pEtites perceptiOns, dá continuidade ao trabalho da artista Katerini Antonakaki, ao propor uma imersão num universo sensorial que se desenrola em torno de três grandes eixos: a casa, a natureza e o tempo, através das estações do ano. Concebido como um “pequeno laboratório de objetos, imagens e sons”, este trabalho articula elementos cenográficos, visuais e sonoros para compor um espaço em permanente transformação, onde o quotidiano se reconfigura em gesto, cor e som.
A cenografia móvel, criada por Katerini Antonakaki e Olivier Guillemain, estabelece uma paisagem plástica mutável, que evoca uma casa porosa, feita de fragmentos, memória e imaginação. Trata-se de uma “casa leve”, desmaterializada, que dança suavemente no espaço, acompanhando o ritmo das estações do ano. Primavera, Verão, Outono e Inverno surgem como pano de fundo e como entidades ativas, que reorganizam o ambiente. Cores, sons, texturas e objetos, alteram-se em função da passagem do tempo, revelando a sensibilidade cíclica da natureza e do corpo. A personagem central, de presença curiosa e tranquila, conduz o público por este percurso sensível, onde cada ação se torna contemplativa.
Atravessamos estações, escutamos os silêncios, reparamos nos pequenos gestos e nas matérias esquecidas. A música de Ilias Sauloup e a interpretação sonora de Christine Moreau expandem a experiência para além do visível, criando uma paisagem acústica que respira com o cenário e com o espectador.
Mais do que representar, este espetáculo, convida à escuta das pequenas coisas, dos ritmos naturais, dos gestos mínimos onde habita o tempo vivido. A dramaturgia desenha-se como um caderno de viagem em três dimensões, no qual cada imagem ou som sugere uma sensação, uma memória, uma descoberta. O espetáculo equilibra delicadeza e intenção, sem recorrer a discursos explicativos, mas permitindo que o público construa a sua própria travessia.
No contexto da criação contemporânea para públicos diversos, incluindo o público infantil, esta apresentação destaca-se pela sua abordagem estética e sensorial, pela atenção ao detalhe e pela capacidade de convocar um tempo diferente, um tempo de pausa, de observação e de encantamento. Um tempo que nos leva para a magia das estações, devolvendo-nos a simplicidade dos ciclos naturais e o prazer de simplesmente estar.