A Casa Da Discórdia, abre portas todas as noites de quarta-feira para testes de stand-up para humoristas, com alguma experiência ou conhecidos testarem o seu material. Semanalmente dispõem de duas sessões: às 19:45 e às 21:45. A premissa é muito interessante do público não ter conhecimento do cartaz até ao momento do espetáculo, ou seja, não faz a mínima ideia de quem vai atuar. Dando oportunidade aos artistas com menos visibilidade apresentarem as suas propostas e serem igualmente vistos. O público não vai ao espetáculo por nenhum artista em concreto, é movido pelo gosto pelo formato do espetáculo em si ou pela surpresa. Semana após semana os bilhetes estão esgotados, podemos considerar este formato um sucesso.
Na Casa da Discórdia nº32, no passado dia 16 de abril, os artistas em palco foram: Ricardo Maria, Daniel Carapeto, André Pinheiro, Joana Miranda, Pedro Teixeira da Mota e Tiago Almeida, atuação teve a duração de cerca de 5 a 7 minuto. Por coincidência ou não, os artistas em questão são bastante conhecidos, alguns deles até esgotam bilheteiras em espetáculos a solo, detém muita experiência de palco, de rádio, podcasts e projetos paralelos. A Casa é uma oportunidade de observar como os artistas testam o seu material, a sua expressão aparentemente cómica e descontraída, mas numa constante leitura e análise do público.
O stand-up vive da presença do comediante, do uso do corpo, da voz, do tempo e do espaço. A comunicação com o público é direta, espontânea e a performance depende da forma como o artista consegue transmitir as suas palavras de forma a impactar o público. Estabelece uma certa relação com o teatro ainda que sejam áreas diferentes na sua performance. Desenvolvendo com a experiência a sua própria linguagem e a sua forma de interpretar e exprimir para o público o texto. A interação com o público é essencial, o comediante precisa de ler as reações e adaptar o ritmo, à situação em que se encontra, remetendo aqui para o improviso como uma possibilidade constante. O humorista cria uma personagem que não corresponde propriamente ao seu eu real. O artista depara-se com um constante dilema entre o real e a ficção, e a forma como o público o encara. O stand-up pode também ser um espaço de discurso político e social, onde são abordados temas de forma cómica, mas de muita profundidade crítica.
A Casa da Discórdia é um espaço experimental, onde existe a oportunidade de testar, dar lugar ao erro e permite confirmar as reações do público. Onde pode perceber onde e quando o texto pode ter mais impacto. O facto de as pessoas não terem pago necessariamente para os ver, simplesmente foram sem estar com a expectativa de ver alguém em concreto dá uma certa imparcialidade. Porque o espectador pode ou não conhecer o artista, mas está aberto á experiência de uma forma diferente do que se tivesse já mentalizado que vai ver aquele artista e que ele tem que corresponder à imagem que criou de si, seja noutros espetáculos ou projetos paralelos.