segunda-feira, 14 de junho de 2021

Peça de teatro " Os Monólogos da Vagina"



Esta resenção tem como objeto de análise a peça de teatro “Monólogos da Vagina” que assisti no ano passado, já em período de pandemia no teatro Armando Cortez e da qual gostei bastante. 

Esta peça é um original da autoria de Eve Ensler e foi estreado em 1996 em Nova Iorque e aborda uma multiplicidade de temas relativos ao universo feminino, como a menstruação, o orgasmo, a masturbação, violação, sexo entre outros aspetos. 

A peça tem encenação de Paulo Sousa Costa e já conta com três temporadas com diferentes protagonistas do sexo feminino. Neste caso, contou com a presença de três grandes artistas portuguesas: Teresa Guilherme, Carla Andrino e Vera Kolodzig, que desempenharam um papel extraordinário. Estava reticente relativamente à prestação da Teresa Guilherme, mas a sua energia e à vontade a falar dos mais diversos assuntos, convenceu-me. 










Ao entrar no Teatro Armando Cortez, deparei-me com um cenário intimista, acolhedor e sensual devido ao ambiente mais escuro da sala e da cortina vermelho-bordo a tapar o palco. Quando a cortina abre, continua esse ambiente intimista, com o uso do preto como plano de fundo e um enorme tapete vermelho a cobrir o chão do palco. Surgem então as protagonistas vestidas também de preto e sentadas em bancos altos, com o foco de luz em cada uma delas para possibilitar a atenção em cada história e personagem. 

São projetadas várias entrevistas a mulheres de várias idades e extratos socais distintos realizadas nos anos 90, inspiradas nos textos escritos por Ensler para nos dar uma contextualização da história. As luzes das duas atrizes são desligadas e apenas surge o foco de luz na protagonista que irá contar a história com o intuito de envolver o público a apenas se fixar naquela personagem e não dispersar. Muitas são as histórias contadas, recordo-me de uma senhora de idade que nunca tinha olhado, nem tocado na sua vagina; uma outra mulher que estava furiosa pelos inúmeros exames invasivos e o uso de produtos para deixar a sua vagina com cheiro de flores, fruta etc. Existiram também histórias mais chocantes de violações e humilhações que levaram a muitas mulheres a não gostarem das suas vaginas e a não conseguirem ter mais relações sexuais levando a ter relações falhadas. 

Ao longo da peça é instigado por Teresa Guilherme falarmos a palavra Vagina, que não devemos ter receio de pronunciar o nome, que não é nenhum tabu. Desafiou-nos a encontrar sinónimos da palavra vagina e foi um momento muito cómico e informativo, pois desconhecia muitas palavras ali descortinadas.  A parte mais interessante foi ver que a maioria das mulheres não se conhecem a si próprias, têm vergonha de ver a sua própria vagina e não conseguem pronunciar a palavra. Enquanto os homens idolatram seus pênis, as mulheres pensam na vagina como algo à parte do seu corpo, como algo sujo e obscuro e muitas delas aprenderam isso com suas mães e avós que foram criadas em famílias machistas e se acostumaram a pensar assim. Apesar disso, muitas mulheres no público se manifestaram e foi um momento hilariante, no qual os homens também aprenderam bastante. 


Cada atriz ao interpretar estas personagens, permitiu passar uma mensagem de “empowerment” através de cada história.  A capacidade da atriz Carla Andrino de interpretar uma menina de sete anos, assim como numa idosa cheia de preconceitos, é fascinante. Assim como, Vera Kolodzig que relata de forma mais seria temas chocantes e Teresa Guilherme mais descontraída e desafiadora leva o público a rir do início ao fim da peça. 

Sem dúvida, este espetáculo é um manifesto à liberdade, pois aborda traumas e violências de forma crua e intensa, mas também pretende devolver a voz destas mulheres silenciadas pela vida ao mostrar que elas podem e devem falar sobre suas vaginas. A libertação começa no momento em que fazemos as pazes com nossos corpos e aceitamos a condição de mulheres como um presente, como algo perfeito.  Todas as histórias contadas, faz-nos repensar na maneira como olhamos para nós mesmas, muitas vezes influenciadas por preconceitos, angustias, medos, traumas que nos inibem de falarmos abertamente da nossa sexualidade. 

Uma peça bastante atual e divertida que aconselho vivamente a assistir. 

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