quinta-feira, 5 de novembro de 2020

QUE FORÇA É ESSA, uma exposição que nos traz a força do cartaz e do protesto

 Aconteceu em 2019, a Porto Design Biennale, na cidade do Porto. Tive oportunidade na altura de visitar várias das exposições que aconteceram pela cidade, nos mais diversificados locais. Uma das exposições que mais me cativou foi “Que força é Essa” com a curadoria de Helena Sofia Silva.

Esta exposição deu a conhecer, parte de um dos maiores aquivos de Portugal e mais raros no mundo também: O Arquivo Ephemera.

José Pacheco Pereira é o seu fundador, cujas primeiras aquisições próprias datam de 1963. A coleção de cartazes artesanais do Arquivo Ephemera é única no país e bastante rara fora dele. Nele encontram-se já uma cobertura documental muito completa com cerca de 300 cartazes de várias manifestações, pequenas e grandes, dos últimos anos. Segundo o próprio José Pacheco Pereira, “O Arquivo Ephemera de há muito que se interessa pelo carácter físico das coisas, pelos objetos, num mundo que crescentemente se deslumbra com o virtual e digital. Os objetos são da dimensão do humano, dos nossos sentidos, transportam uma verdade especial, a da sua materialidade.”

Foi este carácter físico de uma verdade (coletiva ou pessoal) que Helena Sofia Silva quis trazer para esta exposição. Que Força é Essa, deu a conhecer alguns destes cartazes artesanais, feitos e utilizados em ações pacíficas de protesto e participação democrática em Portugal. A sua inclusão na reflexão abrangente sobre design, proposta pela Porto Design Biennale é motivada não apenas pela qualidade material e gráfica que revelam, como pelas circunstâncias de produção e uso que lhes dão significado. Estes cartazes, muitas vezes feitos no próprio momento da manifestação, no fogo do calor e daquilo que vai na alma de quem quer protestar, são feitos geralmente em pedaços de cartão encontrados na rua, escritos com marcadores grossos ou com pinceladas fortes que mostram marcadamente a indignação e valores da pessoa que está a protestar e daquilo que quer transmitir. Nestes cartazes a palavra sobrepõe-se ao desenho, são maioritariamente mensagens curtas, palavras de ordem, slogans irónicos, tensos e reflexivos, imperativos ou interrogativos. Há erros ortográficos assumidos ou nem sequer notados e usa-se calão sem pudor. Aqui, o importante é o sentido do EU que pode mudar um bocadinho o mundo e que está muito presente nestas pessoas que protestam e nestes cartazes. Acreditam que a política é uma folha-mundo e a micropolítica é a forma do “aqui e agora” e do EU, que pode fazer a diferença.

Estas centenas de obras gráficas artesanais, recolhidas durante anos pelo Arquivo Ephemera, têm um impressionante valor documental. Eles são documentos históricos de lutas políticas que tiveram na manifestação pública a sua principal configuração.



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