Aconteceu em 2019, a Porto Design Biennale, na cidade do Porto. Tive oportunidade na altura de visitar várias das exposições que aconteceram pela cidade, nos mais diversificados locais. Uma das exposições que mais me cativou foi “Que força é Essa” com a curadoria de Helena Sofia Silva.
Esta exposição deu a conhecer, parte de um dos maiores
aquivos de Portugal e mais raros no mundo também: O Arquivo Ephemera.
José Pacheco Pereira é o seu fundador, cujas primeiras
aquisições próprias datam de 1963. A coleção de cartazes artesanais do Arquivo Ephemera
é única no país e bastante rara fora dele. Nele encontram-se já uma cobertura documental muito
completa com cerca de 300 cartazes de várias manifestações, pequenas e grandes,
dos últimos anos. Segundo o próprio José Pacheco Pereira, “O Arquivo Ephemera de
há muito que se interessa pelo carácter físico das coisas, pelos objetos, num
mundo que crescentemente se deslumbra com o virtual e digital. Os objetos são
da dimensão do humano, dos nossos sentidos, transportam uma verdade especial, a
da sua materialidade.”
Foi este carácter físico de uma verdade (coletiva ou
pessoal) que Helena Sofia Silva quis trazer para esta exposição. Que Força é
Essa, deu a conhecer alguns destes cartazes artesanais, feitos e utilizados em
ações pacíficas de protesto e participação democrática em Portugal. A sua
inclusão na reflexão abrangente sobre design, proposta pela Porto Design
Biennale é motivada não apenas pela qualidade material e gráfica que revelam,
como pelas circunstâncias de produção e uso que lhes dão significado. Estes
cartazes, muitas vezes feitos no próprio momento da manifestação, no fogo do
calor e daquilo que vai na alma de quem quer protestar, são feitos geralmente
em pedaços de cartão encontrados na rua, escritos com marcadores grossos ou com
pinceladas fortes que mostram marcadamente a indignação e valores da pessoa que
está a protestar e daquilo que quer transmitir. Nestes cartazes a palavra
sobrepõe-se ao desenho, são maioritariamente mensagens curtas, palavras de
ordem, slogans irónicos, tensos e reflexivos, imperativos ou interrogativos. Há
erros ortográficos assumidos ou nem sequer notados e usa-se calão sem pudor.
Aqui, o importante é o sentido do EU que pode mudar um bocadinho o mundo e que está
muito presente nestas pessoas que protestam e nestes cartazes. Acreditam que a
política é uma folha-mundo e a micropolítica é a forma do “aqui e agora” e do
EU, que pode fazer a diferença.
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