ERRATA
As erratas, que encontramos com frequência nos livros antigos e até em livros editados já na segunda metade do século XX, desapareceram completamente dos livros desde há algumas décadas. Devemos interrogar o porquê deste desaparecimento. Podemos perceber que as razões são múltiplas e têm a ver com a própria história do livro. A errata consistia geralmente numa folha impressa anexada ao livro, já depois deste estar impresso, onde se corrigiam erros ou gralhas que este continha. Este enorme zelo pela correcção, que as erratas demonstram, corresponde a uma concepção do livro que lhe atribui um grande teor de verdade e seriedade. Assim entendido, o livro fixa as palavras para a posteridade, e nessa medida fica investido de uma grande responsabilidade. Com o grande desenvolvimento da indústria editorial, o livro tende a tornar-se uma mercadoria igual a todas as outras, perde a "aura" que antes tinha e passa a ter uma vida muito mais efémera. Em suma: torna-se um objecto completamente "profano". Por isso, o facto de conter erros ou gralhas já não tem a mesma importância nem suscita as mesmas reacções. Mas, a par desta razão que tem a ver com a banalização do livro, há também uma razão técnica: as formas de produção dos livros, sobretudo a partir das tecnologias digitais, tornaram possível intervenções, que permitem correcções em fases tardias de composição e impressão que antes eram mais difíceis.
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