Na presente publicação irei analisar as cinco últimas cartas, mas não menos importantes, de Bruno Munari.
Carta 17 - Formas Orgânicas
Esta carta começa com o mencionar de alguns rios. Munari explica que existem formas que não são possíveis de obter a partir de módulos, como o percurso que os rios fazem desde a nascente até à foz, movendo-se de acordo com a gravidade. Para experimentar esta técnica, sugere aos alunos que amachuquem uma folha de papel branca, e que a voltem a esticar. Posteriormente devem colocar um pouco de tinta da China diluída sobre a folha. Com isto é possível compreender que a tinta escorre sobre o papel, escolhendo sempre o caminho mais baixo, ramificando-se e por fim parando. Este exercício consiste em desenhar com a mínima intervenção pessoal, sendo que o autor dá também um outro exemplo muito conhecido, que é o de, com uma gota de tinta, soprar através de uma palhinha e obter um resultado semelhante ao do exercício que fez em aula com os alunos.
Na aula seguinte analisaram os desenhos. Após observar os trabalhos de um aluno, o docente constata que ao invés da tinta cinzenta, existe uma matéria "que parece granulosa", ao que o aluno se justifica com a mistura de coca-cola com tinta da china.
Como parte seguinte do exercício, é dito aos alunos para rasgarem em pequenos pedaços os seus desenhos, especialmente onde se encontrem ramificações, para que os possam recompor de seguida, de modo a formar um novo desenho.
Com esta carta é possível compreender que em paralelo com desenhos modulares existem também desenhos orgânicos que têm todo um outro propósito e uma maior ligação com a natureza.
Carta 18 - EVOLUÇÃO INSTRUMENTAL
Munari começa esta carta por mencionar que a preguiça é o motor do progresso, sendo também um estímulo que nos leva a tentar obter o melhor resultado através do menor esforço físico possível. Munari equipara esta questão com as leis da economia, em que se pretende obter o melhor com o mínimo custo possível. O autor passa a explicar uma teoria em que considera que existem duas entidades distintas no nosso organismo, o cérebro, e os músculos, em que o cérebro funciona à velocidade dos pensamentos, e em que os músculos procuram realizar o menor esforço possível. No entanto, para tal, o ser humano vê-se forçado a encontrar uma solução, que passa tanto pela utilização de ferramentas ou engenhocas como de máquinas que facilitem o trabalho dos músculos. É dado como exemplo o automóvel, em que nos sentamos para nos deslocarmos, em vez de andarmos e o mesmo se aplica a outras situações frequentes, como como é o caso do trabalhar do metal. Com isto existem outras vantagens por acréscimo, visto que algo produzido com a ajuda de uma ferramenta, uma máquina ou até mesmo industrialmente, alcançará um rigor muito maior. Outro dos exemplos referidos, e que é impossível não referir é a utilização de um compasso para fazer circunferências que ficam muito mais perfeitas do que feitas à mão livre.
De seguida Munari transfere esse pensamento para o campo artístico e menciona que tem que continuar a existir evolução dos materiais utilizados pelo artista para a produção de obras de arte.
Com esta carta é possível compreender que instrumentos corretos podem levar à valorização de determinado produto e ao seu perfeccionismo ou até mesmo de produção em massa. Em relação a esta carta gostaria também de fazer um pequeno comentário. Na indústria da moda cada vez mais é desvalorizada o fast fashion em relação a pequenos designers, uma vez que existem explorações salariais e onde o valor a pagar pelo produto não cobre todos os gastos necessários para a produção do mesmo. Fast fashion tem também a desvantagem de não ser sustentável uma vez que as peças de roupa fazem viagens muito grandes quer enquanto matéria-prima quer enquanto produto final para chegarem ao consumidor.
Carta 19 - CÓDIGOS VISUAIS
Na carta número dezanove o autor explica que existem duas componentes na comunicação visual, nomeadamente a informação e o suporte. A informação é a mensagem que é transmitida do emissor para o recetor. O exemplo que é dado pelo autor para este situação é o dos desenhos dos arquitetos, em que quem os faz transmite uma mensagem que tem que ser clara e exata para quem vai ler. Esta mensagem não pode criar quaisquer dúvidas e por norma são escritas em código. O autor menciona também que uma mesma mensagem transmitida verbalmente por via telefónica ou semelhante induziria o receptor em certas dúvidas que comunicando visualmente se consegue evitar. No entanto existem também códigos e comunicações que não são explícitas e precisam de ser melhoradas.
Quanto à componente do suporte, é possível compreender que o mesmo se trata do local onde a informação se encontra, que no caso dos desenhos dos arquitetos é o papel, mas que no caso de sinais de trânsito é uma chapa metálica, mas o suporte inclui também a cor, a luz e o movimento que são usados de acordo com quem recebe a mensagem.
Bruno acaba a carta por mencionar que a público-alvo como crianças ou pessoas com menos inteligência é preciso ser muito simples e claro, não “estúpidos” , como o autor refere que outros consideram.
Através desta carta é possível compreender os dois elementos principais da comunicação visual e a sua complexidade, o que torna a comunicação mais simples.
Carta 20 - MUITAS IMAGENS, NUMA SÓ
Nesta última carta o autor faz uma comparação entre a comunicação visual e o aprender de uma língua nova composta apenas por imagens, só que esta língua é compreendida por pessoas de todas as nações. Apesar de mais limitada do que a língua falada, trata-se de uma linguagem direta. É também feita uma comparação ao cinema mudo que existia antigamente e onde não eram necessárias palavras para contar uma história.
De seguida é referido que não são apenas as Artes Visuais os únicos meios de comunicação visual, visto que comportamentos de pessoas, modos de vestir, organização num determinado espaço, entre outros exemplos, são também uma comunicação visível.
Passo a citar uma frase escrita pelo autor "assim como existem frases confusas compostas por palavras que se prestam a mais que um significado, assim também existem comunicações visuais confusas compostas por imagens não bem definidas de modo objetivo". Em ambas as "linguagens" podem existir desentendimentos na comunicação quando a mesma não é devidamente praticada.
Por fim, o autor conta-nos que quando era jovem via um rio da perspetiva de quem ía dentro do barco e que mais tarde o observou a partir de um avião e ganhou uma nova perspectiva e um maior interesse sobre o mesmo, uma vez que percebeu que havia mais para além dos seus horizontes. Como exemplo relacionado com esta questão, o autor sugere ao leitor que com o mover do bico do lápis tente descobrir quantas formas, elementos, e relações podem existir numa mesma forma.
Com isto concluo a análise das cartas que até à data tenho vindo a publicar no blog REACTOR. Gostei muito de desenvolver este projeto, pois foi-me possível compreender várias técnicas e teorias desenvolvidas e explicadas por Bruno Munari.
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