quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Poesia Experimental 

A "poesia experimental", como lhe chamaram os dois poetas e artistas mais importantes desse movimento da neo-vanguarda dos anos 60, E.M de Melo e Castro e Ana Hatherly, tem a sua origem na poesia visual ou concreta (estes dois nomes designam a mesma coisa) que surgiu nalguns centros do modernismo, na Europa, no princípio do século passado, e foi muito importante no Brasil, nos anos 50, com os poetas Haroldo de Campos e Augusto de Campos (irmãos). Chama-se visual a esta poesia porque se trata de um género que desenvolve processos visuais na escrita e características de legibilidade no desenho ou na disposição gráfica das palavras e do texto. Temos assim uma relação entre dois media, um visual e outro escrito. Geralmente, considera-se que o percursor da poesia visual é o poeta simbolista francês Mallarmé, com um longo poema que se chama "Un coup de dés jamais n'abolira le hasard", publicado em 1897, muito embora Ana Hatherly, que fez muitas experiências de poemas gráficos, tenha defendido nalguns ensaios que a poesia concreta nasce com o Barroco literário. Un coup de dés..., de Mallarmé, é um poema em que a disposição das palavras na página, formando uma mancha gráfica, rompe completamente com a regra linear dos versos e o modo de ordenação dos versos nas estrofes. O leitor é assim confrontado com a materialidade do texto, com o modo como as palavras se dispõem na página e a preenchem ou deixam vazios, espaços em branco. Outro poeta francês, Apollinaire, geralmente considerado um percursor do surrealismo, vai muito mais além nas suas experiências poético-visuais e, num livro de 1918 chamado Calligrammes apresenta poemas em que as palavras formam desenhos. São textos para serem vistos como formas plásticas. É a isso que Apollinaire chama "caligramas". Estas experiências vanguardistas, às quais podemos acrescentar os poemas-colagem dos dadaístas, aboliam as fronteiras entre poesia e arte e rompiam de maneira radical com toda a tradição da poesia lírica.



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