Edith Derdyk é uma artista, educadora, escritora e ilustradora brasileira.
Possui o desenho como matriz e energia motriz de seu trabalho. Este é o fio condutor de sua pesquisa visual, seja no bidimensional, na costura, no espaço, onde estica linhas no ar, na escrita, onde traça, rabisca, rasura ou no tempo, como no dobrar e virar de páginas de um livro.
A aproximação de Derdyk com o Livro de Artista surgiu de suas experimentações artísticas e convívio com suas anotações em seus cadernos (diários poéticos). E em sua pesquisa sobre o livro, a artista transita entre a palavra, a imagem, a linha, o objeto e a materialidade do suporte no espaço.
Em 2002, nasce Rasuras, um livro-mesa de tiragem única com 250cm quando aberto:
“A linha desamarra e se desarma em folhas dobráveis, como se o livro pudesse conter o labirinto do infinito, imensurável. Um novelo de lã, cada fio estendido, camadas e sobreposições de leituras e composições vertem sobre sim outras dobras de sentido. O livro é espécie de caminhada: discurso e percurso em movimento. Quando se abre um livro, um tempo é inaugurado – seja o tempo da narrativa ou o tempo de folhear suas páginas, tal como uma partitura coreográfica.” (Edith Derdyk, de 1997 a 2017)
Em Fiação, de 2004, a artista registra as fiações elétricas das ruas e os fragmentos de linhas existentes em seu atelier. Em uma série de justaposições dessas imagens a Derdyk trabalha com dualidades como conexão/desconexão, interior/exterior, casa/cidade, continuidade/descontinuidade. O livro possui algumas possibilidades de dobras e quando manuseado, o leitor recria diferentes relações, leituras, narrativas e combinações gráficas.
Em 2007, é realizada a obra Onda Seca na Pinacoteca de São Paulo. Uma escultura feita a partir de quatro toneladas de papel. Empilhadas, estas páginas brancas formam um grande livro no espaço, um mar de papel em estado de gravidade, uma onda seca congelada no ar.
Se o mar inteiro sob o leito de um rio (2008) é um livro de parede construído a partir da justaposição de textos. A palavra aqui é tecida, cruza horizontalmente o livro como um todo, cria-se um movimento de onda. Lemos o mar.
Em Tábula de 2015, Derdyk também trabalha com múltiplas sobreposições de textos. Neste livro de artista eles são extraídos da primeira página de cerca de 80 bíblias compradas em distintos sebos de São Paulo. As imagens resultantes desta sobreposição tornam os textos praticamente ilegíveis, problematizando a relação entre o texto originário, escrito em aramaico e suas diferentes traduções em texto fonético ocidental. A materialidade do livro também problematiza esta relação de tradução/interpretação, pois as páginas dobradas permitem infindáveis leituras combinatórias, tornando o leitor um co-autor.
Estas são algumas das obras desta artista que possui um extenso e intenso trabalho de pesquisa no livro de artista, seja de forma poética ou teórica.
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