Tal como nas passadas semanas, irei mais uma vez analisar cartas de Bruno Munari, trocadas entre o mesmo e o jornal Jornal de Milão II Giorno, no período em que este deu aulas em Harvard.
Carta 13 - PROJEÇÕES SIMULTÂNEAS
A carta número treze começa com a descrição da técnica utilizada para criar o efeito que é possível ver no GIF. Basicamente, existe um jogo de linhas verticais que com a mudança de posição cria uma ilusão de movimento que na verdade não existe. Como exercício relacionado com esta técnica, Munari sugere que os alunos concebam um modelo de ecrã com elementos verticais rotativos semelhante, mas em tamanho gigante.
Munari considera que o efeito transmite a ideia de imagens simultâneas e faz um paralelismo entre a técnica aqui presente e o quotidiano, em que numa viagem de carro, vemos o caminho normalmente pelo pára-brisas e vemos a mesma imagem de uma outra perspectiva pelo retrovisor (em simultâneo). O autor faz também questão de salientar que a presença de imagens simultâneas no nosso dia-a-dia é bastante frequente dando também o exemplo de um televisor ligado num café e dos espelhos do barbeiro que se encontravam frente a frente e que criam uma ilusão de profundidade.
Bruno considera que o ambiente em que vivemos cada vez mais se multiplica e sobrepõe e questiona qual será a melhor forma de contornar esse problema. Acredita que se deve tanto à pressa quanto à ignorância.
Em suma, esta carta introduz uma nova técnica, que os alunos são convidados a experimentar, e é feita uma comparação entre a mesma e situações do dia-a-dia onde é possível encontrar características da mesma.
Carta 14 - SEQUÊNCIAS DE IMAGEM
Bruno começa a carta número catorze por constatar que os estudantes do seminário para a pesquisa sobre a luz desapareceram. Como já foi referido anteriormente, os alunos têm muita pressa em compreender e em executar, o que os leva agora a querer aplicar aquilo que aprenderam. O autor confessa que no laboratório onde as aulas decorrem, não existem muitos aparelhos para desenvolver o projeto, no entanto cada aluno começa a construir os seus próprios instrumentos, aproveitando essa oportunidade para desenvolver o projeto fora do Carpenter Center uma vez que têm medo que mais alguém se apodere das suas ideias. O autor constata também que essa pressa existe também no quotidiano dos mesmos uma vez que a primavera ainda não chegou e já utilizam sandálias sem meias.
Apesar de os alunos terem desaparecido, Munari revela que alguns confidenciaram antes consigo, explicando que tinham um projeto especial e que gostavam de saber a melhor forma e o melhor sítio para o realizar. Munari ajudava-os e por vezes eles voltavam independentemente dos horários das aulas para questionar sobre determinados detalhes em relação aos seus projetos.
Bruno constata que ainda um ou outro aluno frequenta as suas aulas e explica os projetos que estão a desenvolver dentro das técnicas que ensinou. Faz também questão de salientar que um dos estudantes apenas continua a ir, uma vez que com a redução do número de colegas presentes, tem acesso a mais material que passou a estar disponível.
Acaba com a frase "O que interessa é que cada um ou cada grupo tem problemas específicos e procura resolvê-los com diferentes meios"
Nesta carta é possível perceber o entusiasmo que as aulas deste curso proporcionam aos alunos e o quão desenrascados e autónomos os mesmos demonstram ser.
Carta 15 - MODULAÇÃO A QUATRO DIMENSÕES
No início desta carta é feita uma referência à quarta dimensão já mencionada anteriormente, o tempo. Como exemplo da mesma o autor escolhe: o olho da mosca, o girassol, um cristal de quartzo, a maçaroca de milho, a pinha e a colmeia. Para explicar este conceito demonstra o processo de evolução que existe nas colmeias. Afirma que inicialmente o alvéolo de uma colmeia é cilíndrico, mas que como existe a necessidade de encaixar uma grande quantidade de cilindros num espaço pequeno, estes, à medida que ficam comprimidos uns contra os outros, ficam com uma forma hexagonal, levando a que o fator “tempo” altere o módulo
Um módulo é o que nos ajuda a conhecer mais e melhor uma parte do que nos rodeia. No entanto, Bruno explica que existe uma outra parte que aos nossos olhos ainda não é tão rigorosa e visivelmente modelada, uma vez que ainda não somos capazes de compreender/reconhecer esse “módulo”. Como exemplos utiliza o nervo ótico, a nuvem, os continentes e as veias.
Para um novo exercício, é sugerido aos alunos que construam um tetraedro com 60 cm de lado e que seja feito de madeira (os ângulos terão que ser em cartão). Após a construção do tetraedro terão de encontrar uma maneira de compor no seu interior com um conjunto de planos ou volumes que serão submodulados.
Mais tarde um aluno sugere que se faça com tetraedros com um interior igual, uma grande forma modelada. Esta intervenção deixa Munari muito contente, uma vez que surgiu instintivamente por parte dos alunos, mas que fazia parte do plano da aula. Posto isto, a partir de agora deixa de ser um trabalho individual e passa a ser um trabalho de grupo, onde é escolhida uma composição de um dos alunos e a mesma é repetida por todos os outros para que as composições fiquem todas iguais. Com este exercício foi possível compreender como se combinam os tetraedros no espaço e a quarta dimensão.
O autor acaba a carta referindo a existência de uma festa com vinho italiano e queijo de ovelha que está a acontecer no piso superior e para onde aos poucos os alunos se vão deslocando, sendo que apenas alguns ficam para ver o resultado final do trabalho que compuseram.
Carta 16 - COMPUTER GRAPHICS
Antes de mais gostaria de salientar que esta foi uma das cartas que mais gostei de ler até à data tendo em conta que o livro foi escrito em 1968 e transmite uma ideia do que seria o futuro da altura. Munari começa por referir que muitos artistas têm horror às máquinas porque acreditam que um dia estas poderão realizar obras de arte e substituí-los. Tendo em conta esta atitude, considera triste ver uma boa cultura clássica acompanhada por uma completa ignorância.
Munari começa por referir a existência de calculadores eletrónicos nos Estados Unidos que mais tarde compreendemos tratarem-se de computadores. Faz uma pequena descrição das características e funcionalidades que os mesmos possuem e do código necessário conhecer para os poder programar, fazendo uma comparação às bordadeiras. O autor salienta que o computador não é mais que um instrumento e que se ninguém der ordens “ele fica parado e nada faz”.
No fim desta carta é possível compreender a mentalidade futurista que o autor tem visto que fala na possibilidade de poderem existir computadores a cores num futuro próximo, de estes poderem ser uma ferramenta para os artistas e de poderem existir centros com muitos computadores para muitos indivíduos. Faz também referência ao trabalho à distância, o que nos leva à situação atual em que nos encontramos, visto que o computador foi uma ferramenta muito importante para que o mundo não parasse e para que continuasse a existir contacto entre as pessoas, até mesmo a nível de trabalho, sem propagação do vírus, uma vez que cada um se encontra em sua casa isolado.
Na próxima semana analisarei as últimas cinco cartas, da dezassete à vinte.
Nicole Alves
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