segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Estrada Digital


Segundo a teorização futurista de Isaac Asimov, numa época em que não existia o universo online e, por isso, não se discutia as implicações futuras de um mundo digital, já em 2014 viveríamos num planeta tão populoso que as cidades existiriam até nos mais remotos e desafiadores habitats, como desertos e gelos polares (Visit to the World's Fair of 2014, New York Times, 1964). Em contrapartida, Brendan O’Flaherty demonstrou que “as cidades poderiam persistir - como há milhares de anos - somente se as suas vantagens compensassem as desvantagens” (City Economics, Harvard University Press, 2005).

Trata-se de um facto histórico comprovado que os aglomerados populacionais, que deram origem às cidades, se formaram pela necessidade que as pessoas tinham de reduzir as dificuldades de transporte assim como de estar próximas na comunicação, nas trocas comerciais, nas trocas de ideias e na partilha de recursos naturais nos grandes mercados locais. O motivo fundacional e o tecido agregador das cidades, que mais tarde se viriam a transformar em mega cidades, como previa Isaac Asimov, poderá assim ficar comprometido com a emergência do universo digital, pois passar-se-á a uma nova fase histórica na qual a concentração de população nas cidades vai deixar de ser imperativa. Uma vez derrubadas as barreiras físicas, que continham as pessoas na proximidade dos centros de negócios e da vida empresarial, as populações poderão então dispersar-se, já que a ligação online protagonizará uma ação cada vez mais descentralizadora e desagregadora. Assim, apesar das populações terem, de facto, aumentado, as periferias das cidades já existentes não precisarão de se alagar para conter as pessoas; estas espalhar-se-ão pelo território pois as novas estradas (e elos de ligação de todo este complexo urbano/suburbano) serão as estradas digitais. Os serviços e o comércio serão prestados online, utilizando meios como vídeochamadas para reuniões, por exemplo, ou até mesmo sites que “substituem” determinadas profissões (como o TailorBrands para criar logótipos e identidades visuais, no caso do design gráfico). Até a própria deslocação a restaurantes está a tornar-se obsoleta com a criação de empresas como a UberEats, que entregam a comida (comprada através da app) em casa. As lojas vão deixar de ter necessidade de uma sede física, o comércio local vai acabar por desaparecer: as instalações serão readaptadas para novas funções, como por exemplo, armazéns para empresas de distibuição. As poucas lojas que ficarem tornar-se-ão atrações turísticas de interesse museológico.

Em suma, as cidades, enquanto concentração de pessoas, bens e serviços, hipoteticamente deixarão de existir nos seus moldes arcaicos, ou seja, como vastos centros da vida económica mundial. 

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