Arte e Ciência "Afinidades
Electivas"
A Imagem Paradoxal - Francisco Afonso
Chaves (1857-1926)
MNAC- Museu Nacional de Arte
Contemporrânea do Chiado
13/10/16 - 26/02/17
A exposição patente até 26 de Fevereiro no Museu do Chiado com curadoria de Victor dos Reis e Emília Tavares reúne parte do acervo fotográfico de Francisco Afonso Chaves e faz parte de uma trilogia de exposições complementares a decorrer até Agosto de 2017, revelando a desconhecida e singular obra fotográfica do eminiente naturalista açoriano, pioneiro da fotografia imersiva. Esta primeira exposição integrou o programa do ciclo de conferências, Stereo and Immersive Media 2016 - Photography and Sound Research, ocorrido em Lisboa entre 27-29 de Out na Univ. Lusófona e na Faculdade de Belas Artes-UL.
Imagem Paradoxal - Francisco Afonso Chaves
(1857 -1926) resulta do projecto de investigação iniciado
em 2011 por Victor dos Reis (docente e presidente da FBAUL) que envolveu o
estudo sistemático do espólio escrito e fotográfico do autor e a sua digitalização.
Este trabalho contou com a colaboração do CIEBA - Centro de investigação da
FBAUL e do ProjectLab, Laboratório contratado para a elaboração de visores estereoscópicos
usados na exposição.
Segundo
o curador, a obra fotográfica de Afonso Chaves era uma "obra na
escuridão". Esta exposição devolve à luz o trabalho deste fotógrafo
compulsivo, militar, cientista autodidacta, metereologista, vulcanólogo,
sismólogo e zoólogo um verdadeiro homem da renascença do " fin de siècle". Segundo a investigadora Conceição
Tavares, Afonso Chaves é "o sábio da terra", homem erudito e viajante,
correspondeu-se com eminentes figuras da ciência da sua época.
Apreendemos
essa a visão cosmopolita de Afonso Chaves no primeiro piso do Museu num dispositivo
expositivo inspirado no Kaiserpanorama.
Uma forma de entretenimento
estereoscópico popular no séc. XIX e início do séc. XX., que permitia a cerca
de 25 pessoas observarem em simultâneo imagens que alternavam num eixo rotativo
central.
Podemos contemplar belas imagens estereoscópicas das
viagens de Afonso Chaves: Florença, Paris, Pompeia, Marraquexe, Zanzibar..
Nesse
mesmo piso, curiosamente encimados pelos Naturalistas de O Grupo do Leão de Columbano Bordalo Pinheiro, que do
piso superior que nos "observam", encontramos um grupo de imagens
fotográficas que revelam uma intensa visão telúrica açoriana. Imagens da figura
humana na paisagem, ora quase suprimida por uma grandiosidade natural que se
impõe, ora dominando a paisagem numa abordagem romântica que remete-me para a
pintura de Caspar Friedrich. "Avistar
é o verbo incontornável em qualquer ilha" é a proposta dos curadores para
este conjunto fotográfico.
No
andar superior, no corredor encontramos um painel biográfico intitulado,"Um
açoriano no centro do mundo" com aspectos relevantes da vida de Afonso
Chaves e das suas façanhas cientificas. Ao fundo, uma fotografia de grande
formato " Coronel Afonso Chaves junto
a um instrumento Agrimensor". Na sala estão em exposição vários
dispositivos estereoscópicos e material fotográfico usado pelo autor no seu
laboratório, bem como correspondência, diários, publicações da época etc.
Em
duas pequenas salas, denominadamente "Fotografia e experiência" e
"O Olhar Imersivo", poderemos ver na primeira em mesas de luz com
óculos estereoscópicos:
"Experiências em Autochrome"; "Pontos de Fuga";
"Ângulos de Captação" e "Sobreposições" e na segunda um
vídeo com a adaptação através de
processos modernos, de uma seleção de imagens estereoscópicas, permitindo ao
visitante usufruir da sua apreensão 3D.
Ao
redor da sala principal as imagens fotográficas dispõem-se em grupos: " A ciência da natureza e a arte
na paisagem"; "A Imagem do Tempo: a duração e o instante";
"Vapor, cinzas e movimento: Progresso e Atmosferas".
A exploração sensível da paisagem, o desejo de fixar o movimento através do registo mecânico como Muybridge ou Marey, a evanescência do visível. A fotografia de Afonso Chaves reflecte o pensamento moderno com um desejo veemente de discernir o mundo, sistematizando a subjectividade do olhar através do objectivismo científico. Para apreender o mundo na sua verdadeira dimensão era necessário olhar para dentro do olhar.
A imersão na imagem, um certo escapismo romântico, o mergulho no olhar interior. O paradoxo materializa-se na misteriosa fotografia estereoscópica " Angelina Chaves e a sua filha a observar imagens através de um visor estereoscópico".
O que avistariam elas? O que avistaria Francisco Afonso Chaves ao avistá-las?
I wandered lonely as a cloud
That floats on high o'er vales and hills,
When all at once I saw a crowd,
A host, of golden daffodils;
Beside the lake, beneath the trees,
Fluttering and dancing in the breeze.
Continuous as the stars that shine
And twinkle on the milky way,
They stretched in never-ending line
Along the margin of a bay:
Ten thousand saw I at a glance,
Tossing their heads in sprightly dance.
The waves beside them danced; but they
Out-did the sparkling waves in glee:
A poet could not but be gay,
In such a jocund company:
I gazed--and gazed--but little thought
What wealth the show to me had brought:
For oft, when on my couch I lie
In vacant or in pensive mood,
They flash upon that inward eye
Which is the bliss of solitude;
And then my heart with pleasure fills,
And dances with the daffodils.
.
William Wordsworth (1815)
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