Exposição : “Amadeo de Souza-Cardoso, 2016-1916
- Porto-Lisboa”
Museu Nacional Soares dos Reis - Porto
01/11/2016 - 01/01/2017
A exposição
no Museu Nacional Soares dos Reis é uma verdadeira celebração do que foi Amadeo
de Souza-Cardoso (1887-1918) enquanto pintor. A festejar o centenário da sua
primeira e única exposição individual no salão de festas do Jardim Passos
Manuel no Porto e na Liga Naval Portuguesa em Lisboa, esta exposição mostra-nos
81 dos 114 trabalhos expostos em 1916.
Após atravessarmos
as portas que nos dão acesso ao local destinado à exposição, somos direcionados
para um local onde encontramos diversos excertos de entrevistas do próprio
pintor ou críticas feitas por jornalistas da época, referentes à primeira
exposição. Essas frases, de certa forma complementam o pequeno texto de cariz
biográfico com que nos deparamos à entrada, ajudam a enquadrar a
obra num contexto histórico e português de 1916.
A exposição
original levantou um debate público em Portugal à volta da arte moderna, e dos
artistas modernistas. Foi controversa, existindo a haver relatos de
agressões a Amadeo de Souza-Cardoso e à sua obra durante as
exposições. A crítica da altura foi feroz, embora houvessem críticas positivas,
na sua maioria eram negativas.
Se no
início do século XX a obra foi recebida, por grande parte do público, de forma
negativa, todavia hoje acontece o oposto. No dia 20 de Novembro o Museu revelou
que, até aquele dia, a exposição já contava com mais de vinte mil pessoas, o
que demonstra a relevância e interesse crescente na obra deste pintor.
Museu Nacional Soares dos Reis - Porto |
Ao entrarmos na primeira secção de trabalhos somos imediatamente absorvidos por
todos aqueles tons vivos e coloridos que emanam das suas obras. A predominância
de cores como o vermelho, amarelo, verde e azul transportam-nos para uma
realidade colorida extremamente inspiradora.
A exposição
é dividida em quatro partes, onde observamos uma deriva entre várias
influências de movimentos artísticos. A amplitude e ambiguidade dos trabalhos é
notória e ao mesmo tempo conseguem demonstrar uma eficaz plenitude plástica.
Vida dos Instrumentos, 1916 |
Obras como o “Instrumento
de Música”(1915-1916) ou “Vida dos
Instrumentos”(1916) mostram uma eficácia tonal digna de ser observada ao
vivo com todo o tempo e atenção. A plasticidade e o movimento transmitidos
transportam-me para um café parisiense do início do século XX, ou pelo menos
para a concessão idealizada que terei de um. Percebe-se na sua obra esse tipo
de vivência, e o contacto com uma grande cidade como Paris, onde Amadeo viveu
de 1908 a 1914. Todas estas cores, o uso de tipografia, o movimento, puxam-nos
para um lado quase publicitário e frenético de uma grande cidade. Esse lado
convulso, as máquinas, o frenesim citadino, a confusão abstracta e a luz,
conseguem ser transmitidos, juntos num quadro só, como por exemplo “Arabesco dynamico = REAL ocre rouge café
Rouge ZIG ZAG cantante couraceiro bandolim Vibraçoens metalicas (esplendor
mecano-geometrico)”(1915-1916). Conseguimos observar um lado mais leve de
tonalidades e temáticas mais neutras em obras como “Paysagem de Manhufe”(1912-1913). A última secção, mostra-nos
trabalho de menor dimensão física como as aguarelas ou os desenhos a tinta da
china, assim como nos é apresentada documentação referente à exposição de 1916.
Arabesco dynamico = REAL ocre rouge café Rouge ZIG ZAG cantante couraceiro bandolim Vibraçoens metalicas (esplendor mecano-geometrico), 1915-1916 |
Uma saudável
máquina do tempo que nos expõe uma obra inacabada de um artista que faleceu
prematuramente num momento de grande produção artística e auge de criatividade.
Alguém com um enorme potencial que em tão pouco tempo nos deixa um legado tão interessante
e digno de ser observado, discutido, estudado e acima de tudo, aclamado. Uma
exposição que nos guia neste percurso criativo de Amadeo de Souza-Cardoso, que
celebra o seu autor, mas que acima de tudo, é uma celebração à pintura.
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