sexta-feira, 20 de novembro de 2015

PIN - João Mota da Costa

PIN
João Mota da Costa
Atelier-museu António Duarte,
Centro de Artes das Caldas da Rainha
14.11.2015 a 07.01.2016





O Atelier Museu António Duarte fica no Centro de Artes das Caldas da Rainha, um conjunto de edifícios de museus, ateliês e residências envoltos por um jardim que alberga esculturas de maiores dimensões.
A identificação dos vários espaços não é fácil, o que torna difícil a chegada ao espaço escolhido. Uma vez lá dentro, dirigimo-nos à sala de exposições temporárias, para a exposição de João Mota da Costa (Lisboa, 1954), e para o seu trabalho PIN.
PIN é a sigla atribuída pelo Governo de Portugal aos projetos de Potencial Interesse Nacional.
É definida por este da seguinte forma:

São reconhecidos como PIN os projetos que, sendo suscetíveis de adequada sustentabilidade ambiental e territorial representem um investimento global superior a 25 milhões de euros.
O que se pretende é favorecer a concretização de diversos tipos de projetos de investimento promovendo a superação dos bloqueios administrativos e garantindo uma resposta célere, … … por via das alterações legislativas necessárias.
Em função da natureza ou localização de um projeto PIN, a comissão deve solicitar a participação nas suas reuniões de outras entidades, sem direito a voto.
(Concelho de Ministros n 95/2005 de 24 de Maio de 2005 – DR 100 – Série I-B)





    
O trabalho exposto é um levantamento do território atribuído pelo Governo de Portugal a um projeto classificado como de Potencial Interesse Nacional, para a construção de um Resort de Luxo junto à Lagoa de Óbidos, o Royal Óbidos. Leva-nos numa viagem temporal ao longo do processo de transformação da paisagem, desde o seu aspeto inicial, natural, ao resultado final da intervenção para a construção do resort.





Ao ver as imagens apresentadas sob este nome, percebemos a ironia de se atribuir interesse nacional à desolação que esta paisagem nos oferece.





As imagens mostram o revolver inútil de terras, transformando uma paisagem natural num espaço inominável. Um projeto que ficou a meio caminho e do qual restaram, no lugar da anterior paisagem natural, as infraestruturas para construções que não chegariam a ser feitas.




A formalidade com que João Mota da Costa aborda este trabalho permite-nos a distância e a escala para perceber o alcance da desolação. O tamanho das imagens não nos deixa fugir. As doze fotografias apresentadas sugerem um percurso, desde o início das obras até à fase em que estas pararam, dando uma ideia de percurso temporal ao longo da transformação da paisagem.




Um pouco à imagem de projetos anteriores, Mota da Costa procura mostrar o espaço após a intervenção humana, não no sentido do acabamento, da obra pronta a mostrar, mas no sentido de mostrar as marcas da intervenção depois de esta ser feita. As salas de operação imediatamente após estas serem efetuadas, Four out of Seven (2014), ou os quartos de motel depois dos encontros da hora de almoço, Lunch Time Affair (2012), são disso um bom exemplo. No caso de PIN, o trabalho ganha um novo contorno e um alcance mais marcadamente político, mostrando terras que foram antes a orla da lagoa e que, depois da intervenção, são pouco mais do que um cenário de destruição.





A associação deste nome, PIN, às imagens dos terrenos informes, das obras deixadas a meio por puro desinteresse, deixa no ar a questão sobre quais os interesses que este projeto defende e essoutra, tão premente, nos nossos dias, do que é a política: se é da defesa deste ou daquele partido ou desta ou daquela ideologia e seus interesses instalados da ambição e da especulação desmesuradas, ou se é o sentido mais nobre da ação que protege e fomenta os laços que ligam e protegem uma comunidade e o espaço que esta habita.






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