segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Um abraço do tamanho do gesto


                                                        Fotografias de Rogério Paulo da Silva




SOMA AGRESTE

Manuel Sampaio | Pintura


10 de Outubro | 30 de Novembro | 2015

Casa da Cultura | Setúbal

Rua Detrás da Guarda, n.os 26 a 34
2900-347 Setúbal

Horário e Contactos:
De terça a quinta-feira, das 10h00 às 24h00
Sexta-feira e sábado, das 10h00 à 01h00
Domingo, das 10h00 às 20h00

Tel.: 265 236 168 | 915 721 909


Ao entrarmos na exposição da obra de Manuel San Payo, deparamo-nos com Soma Agreste, título revisitado e retirado da composição de uma música de Zeca Afonso, retratando o espírito de liberdade do antigo Circulo Cultural de Setúbal. 
Ao enfrentarmos este conjunto de pinturas de grande formato, ficamos com a estranha sensação de que somos abraçados. As telas monocromáticas e os contornos que elas sugerem, transmitem-nos a permanência do gesto interrogativo do pintor sobre a figura, entrelaçando-nos nos traços negros das telas, redesenhando todo o nosso corpo suspenso e retido.

Quando em o Pintor da vida moderna Baudelaire se refere à capacidade de síntese que muitos dos grandes artistas adquirem quando “acostumados há muito a exercitar a sua memória e a povoá-la de imagens”, dá-nos a entender que, nessa capacidade, se “estabelece um duelo entre a vontade de tudo ver, de nada esquecer, e a faculdade da memória” em captar a essência da cor, da silhueta e do contorno.

As pinturas de Manuel San Payo resultam de um exercício dinâmico, do gesto urgente do contorno, automatismo esse infligido pela sugestão de imagens que não existem na objectividade, mas em mnemónicas ditadas pelo próprio artista. O nosso olhar procura incessantemente nessa desconstrução do real - conflito entre abstracção e figurativo - algo que seja planeado ou, pelo menos, familiar.

Pinturas de Manuel San Payo, Casa da Cultura, Setúbal

O artista constrói estas obras com a liberdade de largas pinceladas, em aguadas de tinta negra sobre o fundo branco da tela, para as ir desconstruindo aos poucos de qualquer índice, em camadas e gestos traçados a negro. Ao nos retirar esses referentes o artista abre-nos uma porta para acedermos a um imaginário de formas ou de personagens incertos, que se vão construindo mentalmente na intimidade de quem olha.

Vista geral da exposição, Casa da Cultura, Setúbal

Numa primeira impressão, temos a sensação que percorremos no espaço várias portas à escala do nosso corpo - grandes telas que nos transportam ao interior das emoções expressionistas do gesto. 

Painel de desenhos, Casa da Cultura, Setúbal

Ao fundo da sala encontramos um painel, também ele traçado por desenhos a preto, sugerindo pequenas janelas que induzem o nosso olhar na intimidade de despreocupados registos espontâneos, habitando em subtis percepções visuais. 
Qualquer narrativa sugerida pela forma organizada como foram colocados, poderá induzir o visitante a uma leitura compartimentada de pequenas memórias compiladas pelo artista.

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