“O segundo sexo”
vol. 1 Os factos e os mitos
vol. 1 Os factos e os mitos
por
Simone de Beauvoir. – 2ª edição, Quetzal Editores
HONESTIDADE
é preciso para falar deste ensaio feito por Simone de Beauvoir – com mais de
quatrocentas páginas e com sessenta e sete anos de vida – porque ao tentar
lembrar a mulher na história percebe-se, sem muitas reflecções, invisibilidade.
Sim, aquela sensação ou efeito que nos provoca o silêncio da que “não existe”
até que repara-se na presença mesma, mas parece não estar clara, e por tanto,
nega-se duas vezes. É essa negação que volta sempre e cobra o seu território,
logo se apaga e retorna para ficar num inconfortável segredo.
Publicado
pela primeira vez em 1949, na língua francesa e em seu titulo original: Le Deuxiéme Sexe, se apresenta em Paris,
sob o seio editorial Gallimard numa França de pós-guerra. Este é o contexto é no
qual esta peça se vê desenvolver : um século atingido por uma das maiores
revoluções do pensamento em todos os campos da questão humana.
Beauvoir
pensa e escreve, junto de seus colegas contemporâneos, sobre os paradigmas do
indivíduo, que tremem como os sucessos a correr, colocando o seu juízo e a
força dos deus pensamentos sobre “o rol” da mulher no passado e no presente num
estudo transversal, como nunca antes tinha ninguém desenvolvido.
Em O segundo sexo, vol. 1 a autora começa
por fazer questão do facto de ser mulher - que é uma mulher? – quebrando já
nesses simples facto o peso de uma sociedade paradigmática, ao fazer questão
sobre uma enraizada percepção geral que descansa acima da cega crença heteronormativa
e patriarcal que determina a atividade dos indivíduos pelo género.
É assim,
que a autora primeiramente reflete sobre a sua própria condição e
consequentemente da sua incomodidade, percebendo que existe uma resistência que
também torna-se ainda mais forte com o seu desconforto.
Pensa
acerca disso para chegar ao ponto de descobrir o mistério que supõe ser uma
mulher: Porquê é assim?, Do onde é que vem?,
É físico?, É psicológico?, Por acaso pode ser político?, É um nível
cultural?, Tem um limite? É anacrónico? Está sujeito a mudanças? Portanto, convém
dizer que ser mulher realmente é como nós achamos o que é? É a individualidade
uma característica própria e finita que faz parte, e nasce, só do nosso sexo? A
quem pertence o corpo da mulher?
- Há um principio bom que criou a ordem, a luz e o homem,
e um principio mau que criou o caos, as trevas e a mulher - Pitágoras
(extracto
da introdução de “O Segundo Sexo, vol. 1”)
O que
ela faz nessa edição é tentar apresentar as dimensões que são necessárias para fazer uma
descrição completa do género feminino: perceber a profundidade, pesquizar os
estudos feitos em cada uma delas – biologia, história, psicologia, economia, política,
mitologia –e depois desmascarar os conceitos estabelecidos, sob um processo
intelectual altamente critico de todo o que os homens têm escrito e dito acerca
da mulher.
- Tudo o que os homens escreveram sobre as mulheres deve
ser suspeito, pois eles são, ao mesmo tempo, juiz e parte - Poulain de La
Barre.
(extracto
da introdução de “O Segundo Sexo, vol. 1”)
Primeira parte : Destino
Simone
de Beauvoir tenta encontrar as
contradições que se geram nos discursos sociais ao longo do tempo para
apresentar o cenário da sua atualidade (1948-1949). Para isso mostra os dados
biológicos presentes de várias espécies, tanto ao nível celular, vegetal e
animal para tentar compreender o comportamento deste tipo de “sociedades” e o
papel da reprodução na sua estrutura, para logo fazer uma comparação com o ser
humano.
- Não é a natureza que define a mulher: esta é que se
define, retomando a natureza em sua afectividade -
Simone de
Beauvoir, O segundo Sexo vol.1, Primeira Parte: Destino.
No mesmo
capítulo, ela mostra o ponto de vista psicanalítico com a intenção não de criticá-lo
no seu conjunto, mas sim examinar a sua contribuição ao estudo da mulher. No
entanto, o modo com que esses artigos estão expostos, fazem-lhe analisar a
construção do contexto empírico em que foram feitos, para ver o que há por trás
dos que parecem estudos “completos” sobre o sujeito feminino.
Segunda parte : História
Ao
passar pela história, Beauvoir contempla, num primeiro olhar, a relação de
pertença que existe entre os factos históricos do mundo e a linha paralela desta
que marca a mulher e a suas vivências nos percursos da mesma - para além do que
se percebe como registo histórico universal - deixando claramente exposta a
divisão dos privilégios que supõem a evolução da humanidade; demostra o como a realidade
histórica é também uma ligação ao poder de uns sobre outros.
- O mundo sempre pertenceu aos machos. (…) Já verificamos
que, quando duas categorias humanas se acham em presença, cada uma delas quer
impor à outra a sua soberania (…) –
Simone de
Beauvoir, O segundo Sexo vol.1, Segunda Parte: Historia
Terceira parte : Mitos
A
característica do conceito de Outro, olhada
de maneira mais aprofundada, faz parte das análises deste capítulo, onde a
autora pensa no mito que implica ser uma mulher; as personagens colocadas pelos
homens – a prostituta, a mãe, a freira, a filha, a irmã, a esposa- e
interpretados pelas mulheres ao longo da história, numa grande estrutura no
lugar do indivíduo feminino. Ela descobre como a invidualidade da mulher parece
escondida por trás dum véu e é tal porque a dominação se justifica também no
campo da procura do sentido, do ser e a transcendência.
-Todo o mito implica um Sujeito que projecta as suas
esperanças e temores num céu transcendente-
Simone de
Beauvoir, O segundo Sexo vol.1, Terceira Parte: Os Mitos
- A representação do mundo, como próprio mundo, é
operação dos homens; eles descrevem-no do ponto de vista que lhes é peculiar, e
que confundem com a verdade absoluta -
Simone de
Beauvoir, O segundo Sexo vol.1, Terceira Parte: Os Mitos
É nesta
reflecção em que Beauvoir determina um ponto chave para defender a apreensão de
poder que tem afastado as dimensões do individuo feminino das do individuo
masculino, ao perceber que o pensamento da identidade mora, come e respira no
facto da falta de desenvolvimento na responsabilidade do próprio destino do
individuo.
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