Louise Bourgeois, 1911-2010
A escultora surrealista foi uma das mais importantes artistas
americanas do final do séc. XX e do séc. XXI. Semelhante a outros artistas
surrealistas, ela canalizou a sua dor para os conceitos criativos da sua arte.
A família da mãe veio de Aubusson, região da tapeçaria
francesa, e os seus pais eram proprietários de uma galeria de tapeçaria na
época do seu nascimento. Louise enquanto criança viveu a maior parte do ano,
num apartamento por cima da loja onde os seus pais vendiam tapeçarias, e aos
fins de semana iam para a galeria onde restauravam tapeçarias antigas, e aí ajudava
a lavar, a reparar, costurar e a desenhar, sempre supervisionada pela sua mãe,
com quem tinha uma proximidade muito grande.
Louise foi muito influenciada pelos acontecimentos
traumáticos da sua infância, pela infidelidade do seu pai com a sua ama, e pela
ida do pai para a guerra, deixando a mãe muito ansiosa. São estes
acontecimentos que mais tarde viriam a formar a sua arte altamente
autobiográfica.
Louise Bourgeois é conhecida pelo seu conteúdo temático
altamente pessoal envolvendo o desejo inconsciente, sexual e do corpo. As suas
emoções eram usadas como matéria-prima para a sua obra, a temática era baseada
em eventos da sua infância e ao apropriar-se da arte realizou um processo
terapêutico e de libertação, as suas experiências foram transformadas numa
linguagem muito visual através de imagens mitológicas, utilizando espirais,
gaiolas e utensílios médicos.
As suas famosas esculturas de aranhas simbolizavam a psique feminina
e a dor psicológica.
Numa entrevista, a artista explicou a existência de um duplo tema no caso das obras que representa a aranha: “A aranha é protetora, a nossa protetora contra os mosquitos. […] A outra metáfora é que a aranha representa a mãe. A minha mãe era a minha melhor amiga. Ela era inteligente, paciente, tranquilizadora, delicada, trabalhadora, indispensável e, sobretudo, ela era tecelã – como a aranha. Para mim as aranhas não são aterradoras.”
Embora seja mais conhecida pelas suas esculturas, desenhos e
gravuras, Bourgeois também fez livros ilustrados a partir do final de 1940,
incorporando textos seus e de outros autores. O tecido teve sempre uma profunda
associação pessoal, devido ao seu grande contacto durante toda a sua infância,
e assim durante anos empregou essa matéria-prima no seu trabalho artístico.
No início de sua década de 90, Louise Bourgeois criou o seu livro
de artista – “Ode à L’ Oubli” -uma encadernação em linho, as páginas são feitas
das toalhas de mão que ela tinha mandado bordar o monograma de 60 anos do seu
casamento. Homenagem ao longo casamento que conseguiram ter, ao contrário de
seus pais.
Livro de tecido ilustrado com 35 composições: 32 colagens em
tecido, 2 com acréscimos de tinta, e 3 litografias (incluindo a capa)/32,5x29
cm (fechado)/ 68 páginas sem numeração, assinatura impressa em litografia
vermelha na quarta capa/ exemplar único. Para montar o livro, Bourgeois
trabalhou durante seis meses com Mercedes Katz (costureira) e o SOLO Impression
imprimiu a capa litografada e as duas páginas dentro do volume.
Em 2004, Bourgeois lançou uma edição de “Ode à L’Oubli”, que foi
publicada pela Peter Blum Edition e foi produzida de 2003 a 2004 pelo workshop
SOLO Impression. Para criar esta edição, os tecidos exclusivos do livro foram
reproduzidos usando técnicas de litografia, impressão digital, tingimento,
costura e bordados. Em alguns casos, novos tecidos foram comprados e depois
modificados para se parecerem com os tecidos originais. Edição de 25
exemplares.
Seu assistente, Jerry Gorovoy, conta que um acento circunflexo foi
erradamente impresso no “A” da capa e da lombada na versão única de 2002.
Quando a capa para a versão editada foi feita em 2004, decidiu-se que o
título seria impresso com todas as letras maiúsculas, sem o acento e sem
itálico.
Estas composições eram compostas por retalhos costurados e palavras impressas, são 32 páginas compostas inteiramente de peças de tecido que ela usou ou guardou desde 1920, incluindo camisolas, lenços, toalhas de mão e guardanapos de mesa com monograma de suas iniciais. As páginas do volume apresentam uma variedade de técnicas – bordados, tecelagem - onde ecoam muitas das formas que a artista usou ao longo da sua carreira, círculos e quadrados concêntricos e formas orgânicas redondas.
Algumas páginas do miolo de "Ode à L’Oubli":
É inspirador que ela tenha feito arte até aos seus 90 anos
de idade, faleceu em 2010.
“My luck
was that I became famous so late that fame could not destroy me.”
Louise Bourgeois
tão bonito!
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