A exposição Para Todos Vocês com Fantasias, da autoria do artista plástico Diogo Nogueira, está patente na Galeria Municipal de Arte de Almada até ao dia 31 de maio de 2025. Com curadoria de Filipa Oliveira, a mostra reúne um conjunto de obras que cruzam pintura, desenho, cerâmica e instalação.
As pinturas, de grande escala, foram executadas sobre telas publicitárias, com recurso a tinta acrílica. A escolha do suporte e do material acentua a fisicalidade das obras. O uso de cores vibrantes, por sua vez, amplifica o impacto visual e contribui para a criação de um universo intenso, sensorialmente envolvente.
As peças cerâmicas, em tamanho pequeno, acrescentam detalhes que contrastam com as pinturas, introduzindo momentos de pausa visual e uma escala mais íntima no conjunto da exposição.
O visitante é imediatamente confrontado com um conjunto de formas corporais que remetem, de forma recorrente, ao corpo masculino. No entanto, estas figuras apresentam-se distorcidas, fundidas com elementos da natureza ou do imaginário, frequentemente em composições que desafiam a leitura fixa. A abordagem do pintor não representa o corpo tal como o conhecemos, no entanto, parece explorar a sua elasticidade simbólica, tornando-o matéria de recomposição visual e conceptual.
O ambiente expositivo foi concebido de forma a intensificar esta sensação de deslocamento. A disposição das obras, a escala das figuras e o uso da cor saturada, criam um percurso que exige atenção sensorial mais do que narrativa. Não existe aqui uma linha condutora evidente; o visitante é chamado a entregar-se à observação, à dúvida e, por vezes, ao desconcerto.
As obras não se apresentam com grande aparato técnico no sentido tradicional, mas revelam uma coerência estética no tratamento da figura, do gesto e da cor. A presença do humor, do exagero e da transformação serve como estratégia para questionar representações convencionais, tanto do corpo como da identidade. Esta dimensão simbólica sobrepõe -se a qualquer intenção documental ou descritiva.
A exposição apresenta-se como uma proposta coerente, com um vocabulário visual próprio e uma abordagem crítica da figura e do corpo. A sua força reside na forma como desafia o olhar e desloca expectativas, oferecendo uma experiência visual que, sem ser discursiva, se torna reflexiva.