Praga, Chéquia
No passado dia 3 de maio, tive a oportunidade de visitar o Museu Nacional do
Cinema (NaFilM: Národní filmové muzeum), em particular a sua exposição
permanente, durante a minha viagem a Praga, na Chéquia. Localizado no centro da
cidade, é um museu público, fundado por Terezie Krizkovska.
É um Museu que aborda a História do Cinema, nacional e internacional, como
também os seus desenvolvimentos tecnológicos, nos quais certas personalidades
checas tiveram influência. É um Museu interativo, além de expositivo, onde através
de várias atividades, pode-se apreender como também experimentar alguns dos
desenvolvimentos tecnológicos que deram origem ao que hoje chamamos de
Cinema. O conceito curatorial é claro e acessível, sendo que a parte interativa da
exposição, ajuda o visitante a concentrar-se melhor naquilo que está a observar e a
aprender. Exemplo disso, é uma das secções da exposição em que podemos
experimentar realizar o trabalho de um artista de foley, o que nos permite perceber,
através da prática, o quão importante foi o trabalho destes sonoplastas. Outro exemplo, é outra secção da exposição em que se pode experienciar um vídeo de
realidade virtual, que ajuda a entender melhor, de uma forma imersiva, algumas
das técnicas utilizadas pelos teatros de cinema no início do séc.20.
Apesar de labiríntico, o espaço museológico está organizado duma forma muito
intuitiva e concisa. Sendo que o Museu percorre a História do Cinema desde os
seus primórdios até à atualidade, a exposição organiza-se através de vários cubos
numerados, de maneira a que o visitante perceba melhor a ordem do seu percurso.
Espaço bem iluminado, sendo pretas as paredes dos cubos, os textos de parede e
os títulos de cada espaço a branco, com explicações tanto em checo como em
inglês. Cronologicamente a exposição permanente começa nos finais do séc.18 e
início do séc.19, onde são abordadas as ilusões óticas do criador do kinescope, Jan
Evangelista Purkyne, médico e professor checo. Como também a invenção da
lanterna mágica, que com ajuda do praxinoscope, como é explicado na exposição,
foi uma das invenções necessárias para projetar imagens num ecrã, tendo sido
utilizado no séc.17 pelos jesuítas. Esta lanterna mágica é exemplificada com uma
atividade em que o visitante pode girar uma roda, sendo que é esta que controla a
lanterna mágica que está conectada ao praxinoscope, cuja projeção vai
demonstrar várias ilustrações do conto intitulado “The Oval Portrait” de Edgar Allan
Poe.
Noutra parte da exposição, é também abordado o papel do som no cinema, como
este se relaciona com a imagem e como devido ao aparecimento deste, a imagem
deixou de ser o foco principal através da qual se conta uma história no grande ecrã.
Depois, numa nova secção intitulada de “Inter-War Film Avantgarde”, agora com
paredes brancas e texto preto, de forma a diferenciar visualmente, duas épocas distintas da história do cinema. Dá-se então destaque ao cinema avant-garde
checoeslovaco e como este contrastava em termos temáticos e práticos com o
cinema de avant-garde francês, nomeadamente o Devetsil Art Union e o seu
programa denominado de Poetism. Isto é demonstrado, numa secção onde o
visitante pode-se sentar num cadeira e colocar uns headphones, circundado por
uma cortina, onde este pode ouvir um dos três poemas visuais, que os poetas do
Devetsil consideravam ser os seus filmes, deixando para o visitante a construção
do filme em questão através da sua própria imaginação. No último piso, é dado
destaque à história do cinema de animação, com especial enfoque no cinema de
animação checo, sendo que tive a oportunidade de assistir a um dos cinco filmes de
animação checos disponíveis, intitulado de “Spatne namalovana slepice” (1963) de
Jiri Brdecka e do Estúdio Bratri v triku.
Um dos pormenores mais interessantes acerca deste museu é o facto de ser um
projeto orientado por estudantes de cinema da faculdade de artes da Charles
University. Haver outra maneira de gerir e financiar um museu, é algo que pode
mudar o discurso museológico de muitas das instituições que temos hoje em dia.
Ter de facto estudantes de cinema à frente deste museu, é algo que podia ser
reproduzido noutros museus.
Para concluir, considero a minha experiência no Museu Nacional do Cinema como
extremamente enriquecedora, sendo que sai da exposição com energia apesar de
cansada mentalmente. Devido a isso, diria que a quantidade de informação para
absorver, seria a principal crítica que faria. No entanto contra argumento a minha
critica com o facto de isso estar mais relacionado com a experiência que temos
com os museus hoje em dia, em que ficamos com a sensação que temos que ver
tudo que o museu tem para apresentar, de uma só vez. Exceptuando essa crítica,
só tenho comentários positivos a tecer. Cinema sempre foi uma das minhas
grandes paixões e alegra-me vê-lo celebrado duma forma tão democrática e
acessível. Como escrevi, em checo, num papelinho que coloquei na parede de
entrada do Museu, para descrever a minha experiência…Moc Dobré (Muito Bom)!