sábado, 17 de maio de 2025

Exposição Permanente do NaFilM: Národní filmové muzeum (Museu Nacional do Cinema)

 Praga, Chéquia


No passado dia 3 de maio, tive a oportunidade de visitar o Museu Nacional do Cinema (NaFilM: Národní filmové muzeum), em particular a sua exposição permanente, durante a minha viagem a Praga, na Chéquia. Localizado no centro da cidade, é um museu público, fundado por Terezie Krizkovska.

É um Museu que aborda a História do Cinema, nacional e internacional, como também os seus desenvolvimentos tecnológicos, nos quais certas personalidades checas tiveram influência. É um Museu interativo, além de expositivo, onde através de várias atividades, pode-se apreender como também experimentar alguns dos desenvolvimentos tecnológicos que deram origem ao que hoje chamamos de Cinema. O conceito curatorial é claro e acessível, sendo que a parte interativa da exposição, ajuda o visitante a concentrar-se melhor naquilo que está a observar e a aprender. Exemplo disso, é uma das secções da exposição em que podemos experimentar realizar o trabalho de um artista de foley, o que nos permite perceber, através da prática, o quão importante foi o trabalho destes sonoplastas. Outro exemplo, é outra secção da exposição em que se pode experienciar um vídeo de realidade virtual, que ajuda a entender melhor, de uma forma imersiva, algumas das técnicas utilizadas pelos teatros de cinema no início do séc.20.

Apesar de labiríntico, o espaço museológico está organizado duma forma muito intuitiva e concisa. Sendo que o Museu percorre a História do Cinema desde os seus primórdios até à atualidade, a exposição organiza-se através de vários cubos numerados, de maneira a que o visitante perceba melhor a ordem do seu percurso. Espaço bem iluminado, sendo pretas as paredes dos cubos, os textos de parede e os títulos de cada espaço a branco, com explicações tanto em checo como em inglês. Cronologicamente a exposição permanente começa nos finais do séc.18 e início do séc.19, onde são abordadas as ilusões óticas do criador do kinescope, Jan Evangelista Purkyne, médico e professor checo. Como também a invenção da lanterna mágica, que com ajuda do praxinoscope, como é explicado na exposição, foi uma das invenções necessárias para projetar imagens num ecrã, tendo sido utilizado no séc.17 pelos jesuítas. Esta lanterna mágica é exemplificada com uma atividade em que o visitante pode girar uma roda, sendo que é esta que controla a lanterna mágica que está conectada ao praxinoscope, cuja projeção vai demonstrar várias ilustrações do conto intitulado “The Oval Portrait” de Edgar Allan Poe. 


Noutra parte da exposição, é também abordado o papel do som no cinema, como este se relaciona com a imagem e como devido ao aparecimento deste, a imagem deixou de ser o foco principal através da qual se conta uma história no grande ecrã. Depois, numa nova secção intitulada de “Inter-War Film Avantgarde”, agora com paredes brancas e texto preto, de forma a diferenciar visualmente, duas épocas distintas da história do cinema. Dá-se então destaque ao cinema avant-garde checoeslovaco e como este contrastava em termos temáticos e práticos com o cinema de avant-garde francês, nomeadamente o Devetsil Art Union e o seu programa denominado de Poetism. Isto é demonstrado, numa secção onde o visitante pode-se sentar num cadeira e colocar uns headphones, circundado por uma cortina, onde este pode ouvir um dos três poemas visuais, que os poetas do Devetsil consideravam ser os seus filmes, deixando para o visitante a construção do filme em questão através da sua própria imaginação. No último piso, é dado destaque à história do cinema de animação, com especial enfoque no cinema de animação checo, sendo que tive a oportunidade de assistir a um dos cinco filmes de animação checos disponíveis, intitulado de “Spatne namalovana slepice” (1963) de Jiri Brdecka e do Estúdio Bratri v triku.

Um dos pormenores mais interessantes acerca deste museu é o facto de ser um projeto orientado por estudantes de cinema da faculdade de artes da Charles University. Haver outra maneira de gerir e financiar um museu, é algo que pode mudar o discurso museológico de muitas das instituições que temos hoje em dia. Ter de facto estudantes de cinema à frente deste museu, é algo que podia ser reproduzido noutros museus.

 Para concluir, considero a minha experiência no Museu Nacional do Cinema como extremamente enriquecedora, sendo que sai da exposição com energia apesar de cansada mentalmente. Devido a isso, diria que a quantidade de informação para absorver, seria a principal crítica que faria. No entanto contra argumento a minha critica com o facto de isso estar mais relacionado com a experiência que temos com os museus hoje em dia, em que ficamos com a sensação que temos que ver tudo que o museu tem para apresentar, de uma só vez. Exceptuando essa crítica, só tenho comentários positivos a tecer. Cinema sempre foi uma das minhas grandes paixões e alegra-me vê-lo celebrado duma forma tão democrática e acessível. Como escrevi, em checo, num papelinho que coloquei na parede de entrada do Museu, para descrever a minha experiência…Moc Dobré (Muito Bom)!