domingo, 25 de maio de 2025

MUDE - Museu do Design


 

R. Augusta, 24. Lisboa

3ª a 5ª feira: 10h - 19h

6º e sábado: 10h – 21h

Domingo: 10h-19h

 

www.mude.pt

 

Instalado desde julho de 2024 no antigo edifício do Banco Nacional Ultramarino, o MUDE — Museu do Design e da Moda — encontrou aqui uma nova casa, fruto de uma série de decisões políticas e pareceres do Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR). Em 2019, António Costa, então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, propôs a transferência do museu para este edifício, que, até então, acumulara várias tentativas de reabilitação arquitetónica entretanto abandonadas por falta de orçamento. Quando o novo projeto teve início, o edifício já apresentava áreas bastante degradadas, com zonas em ruínas. O projecto do arquiteto Luís Saraiva privilegiou uma estreita articulação entre arquitetura e museologia. O edifício preserva vestígios das suas vidas anteriores, estabelecendo um diálogo constante entre a sua memória histórica e a linguagem da arquitetura contemporânea.

 



O edifício do MUDE desenvolve-se por sete pisos, cada um com características distintas que refletem diferentes dimensões do museu. No piso 0 encontra-se o átrio principal, onde se destaca um monumental painel de azulejos que remonta ao edifício original, anos 20 / 30, funcionando como testemunho visual da sua história, onde se insere o balcão da bilheteira. Neste mesmo piso localizam-se também a loja do museu, um espaço dedicado à divulgação editorial com uma seleção cuidada de publicações sobre design português e internacional, livros de artistas, literatura infantil e catálogos de exposições. Ainda em fase de ampliação, a loja será brevemente expandida para um espaço contínuo. Um dos elementos marcantes deste piso é a exposição de fotografias em tamanho real que retrata vários trabalhadores envolvidos no processo de reabilitação do edifício, criando um diálogo direto entre os operários e os visitantes.


No piso 1 do MUDE encontra-se a Biblioteca de Design, gerida pela Câmara Municipal de Lisboa. Ocupa a antiga sala de reuniões da administração do banco. Aberta ao público durante os dias úteis, bem como no primeiro e terceiro sábado de cada mês, a biblioteca disponibiliza um vasto acervo especializado, acessível para consulta presencial. É possível realizar pesquisas prévias através do catálogo online disponível no site oficial do MUDE , facilitando o acesso a livros de design nacional e internacional, publicações temáticas e materiais de apoio à investigação.

Também no piso 1 encontra-se a exposição temporária Portugal Pop. A Moda em Português. 1970–2020, patente até 12 de outubro de 2025. Esta exposição convida o visitante a percorrer a história contemporânea de Portugal, desde os momentos que antecederam a Revolução de Abril até aos dias de hoje, através da moda e das expressões visuais de identidade. A exposição constrói-se a partir de peças de vestuário de designers portugueses e internacionais, usadas por figuras icónicas como Amália Rodrigues, Mísia, António Variações, Heróis do Mar, Teresa Salgueiro, Joana Vasconcelos e Conan Osiris, entre outros. Estilistas como José António Tenente, Dino Alves, Luís Buchinho, Helena Cardoso, Ana Salazar e os Storytailors revisitam o imaginário popular português, reinterpretando trajes tradicionais de várias regiões do país: os trajes minhotos, as vestes de trabalho dos pescadores ou das vindimas, as sete saias da Nazaré ou o capote alentejano. A exposição revela ainda criações inspiradas em figuras centrais da cultura portuguesa, como Paula Rego, Sophia de Mello Breyner Andresen e Fernando Pessoa, bem como em momentos históricos marcantes, como o 25 de Abril. Organizada em três núcleos, Memória Coletiva e Identidade Nacional, Territórios Pessoais: a Intersubjetividade na Primeira Pessoa do Singular e Ecoló-gico: Antropologia de Lugares, Materiais e Saberes, a exposição propõe uma reflexão alargada sobre a moda enquanto expressão cultural, política e ecológica. Também se destacam práticas experimentais de confeção, processos de reciclagem e modelos de produção sustentáveis, que questionam os paradigmas da moda no contexto atual. A exposição inclui ainda diversos conteúdos audiovisuais, entre os quais videoclipes dos artistas cujos figurinos estão em exibição, e uma instalação sonora do artista Tiago Pereira, que aproxima o visitante de um Portugal simultaneamente rural e urbano, tradicional e moderno.


Vestidos usados por Amália Rodrigues em diversos espéctaculos.



Coleção Colheitas . Reinterpretação das memórias 
colectivas das Vindimas do Douro. 
Filipe Augusto, 2018/2019
 

Exploração têxtil numa intrepertação da estética barroca que toma a herança dos 
Caretos de Carnaval de Trás-os-Montes e Douro como tema central discutindo a questão de género.
António Castro, 2021.
 
Videoclipe de Cláudia Pascoal, Quase dança, 
com trajes tradicionais portugueses que evocam o folclore nacional

O piso 2 é composto por galerias e salas destinadas a atividades diversas que abrirão brevemente ao público

Nos pisos 3 e 4 encontra-se a exposição de longa duração Para Que Servem as Coisas Peças do Acervo MUDE 1900–2020 uma viagem cronológica pelo design ao longo do último século A mostra apresenta objetos que marcaram diferentes períodos históricos colocando a questão da utilidade dos objetos e do seu impacto no quotidiano humano A exposição está organizada por temas como: Sinais de Modernidade no Mundo e no País 1920–1930, Campanha do Bom Gosto e Imagética Nacionalista 1930–1950, O Luxo Antes e Depois da Segunda Guerra, Sinais de Reconstrução no Cenário de Pós-Guerra 1945–1948, Utopias e Distopias 1960–1970, Exaltação do Plástico 1960–1970, Sinais de Mudança e de Revolução 1960–1970, Cultura de Excessos 1980–1990
Natureza como Fonte de Recursos e Inspiração 1990–2020, Como Viver no Futuro 1990–2020, Recusar Reciclar Reparar 2000–2020, Perspetivar o Futuro 2000–2020.Através desta estrutura o visitante percorre a evolução da relação entre objeto e sociedade compreendendo os desafios estéticos técnicos e ideológicos que atravessam o design contemporâneo. Estão em exibição peças emblemáticas de designers nacionais e internacionais que ajudam a interpretar a evolução dos modos de vida e os sistemas de produção e consumo.

 
Livros de Raul Lino sobre arquitectura 
inseridos na seção "Campanha do Bom Gosto" e Imagética nacionalista: 1930-1950

 
Peças de mobiliario de diversos designers
 inseridos na seção de "O Luxo antes e depois da Segunda Guerra"
 
 
Cadeira Garden Egg de Peter Ghyczy, 1967 
inserida na seção Exaltação do Plástico: 1960-1970

O piso 5 está reservado para futuras residências artísticas, enquanto no piso 6 se localizarão a cafetaria, o restaurante e o terraço, atualmente ainda em fase de reestruturação, pelo que não se encontram abertos ao público neste momento.

Tal como o próprio conceito de design, o MUDE revela-se como um espaço de experimentação, aberto ao diálogo, que convida ao debate e se estrutura para acolher novas propostas e perspetivas. A sua arquitetura e organização interna refletem a dinâmica que pretendem instalar, com espaços multifacetados que se adaptam a diferentes usos e públicos. As várias galerias do piso 2, ainda por inaugurar, o espaço do Serviço Educativo e o auditório multidisciplinar são exemplos dessa abertura à programação futura e à diversidade de atividades culturais. Esta flexibilidade estende-se também à presença digital do museu: o seu site oferece não só informação detalhada sobre exposições atuais e futuras, como também disponibiliza o acervo da biblioteca e um vasto arquivo digital do museu, organizado por áreas como Produto, Gráfico, Moda e Joalharia, permitindo inúmeras formas de pesquisa e exploração online.

Como nota final, não pude deixar de reparar no contraste entre o movimento intenso das ruas da Baixa Pombalina, repletas de turistas a ponto de ser difícil circular, e a tranquilidade no interior do MUDE, onde ao longo da visita apenas me cruzei com outras 2 pessoas. Esta experiência leva-me a questionar se o museu ainda não está a conseguir alcançar verdadeiramente o seu público, ou se o tipo de turismo que hoje ocupa o centro da cidade estará mais interessado nas lojas multinacionais, que certamente encontram nas suas cidades de origem, do que em viver uma experiência cultural onde poderiam conhecer, de forma mais profunda, a história do nosso país e também da Europa, através do design, da moda e das transformações sociais que os acompanham. Esta ausência de publico levanta questões importantes sobre o papel dos museus e sobre a urgência de repensar estratégias de mediação cultural mais eficazes.