Tive a honra de estar presente na primeira edição do Festival da FeLiCidade, que celebra a felicidade, a liberdade e a língua portuguesa. Não foi por acaso que o festival aconteceu no dia 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, e no ano em que se celebram os 50 anos do 25 de abril.
Este festival teve como casa o CCB, com um programa que apela a diferentes públicos, dos mais velhos aos mais novos, desde literatura, música, cinema, performances, e com mais de uma centena de autores.
Senti uma grande força e empoderamento feminino neste festival; a liberdade da mulher está a ser cada vez mais valorizada, tal como a sua força, os seus direitos, tudo aquilo pelo qual lutamos para estarmos onde estamos e tudo o que ainda temos de lutar.
Assisti à performance das Batucadeiras Das Olaias, um grupo performativo que celebra a cultura cabo-verdiana, tocando Batuku, um género musical que é património de Cabo Verde, e às Baque Mulher Lisboa, um grupo de mulheres brasileiras imigrantes que lutam contra o patriarcado e todas as formas de opressão, violência, racismo, e a favor da liberdade da mulher. Estes dois grupos, de origens geográficas diferentes, culturas diferentes, personalidades diferentes, juntam-se num back2back (b2b) para celebrarem tanto as suas diferenças como as coisas que têm em comum, a língua portuguesa, a paixão pela música e pela arte, o senso de comunidade e o amor pelas suas raízes. É muito emocionante assistir a algo tão bonito e que carrega um significado enorme no peito de cada uma daquelas pessoas. A emoção, a força, a luta, a liberdade que todos eles sentem é contagiante e nítida.
Pouco depois, assisti a um episódio da série documental “Herdeiros de Saramago”. Esta série dá a conhecer os autores vencedores do prémio José Saramago em todos os países de língua portuguesa. Julián Fuks é escritor e crítico literário, nascido no Brasil e filho de pais argentinos que, infelizmente, como muitas famílias, tiveram de fugir à ditadura. O episódio de 27 minutos abordou temas como a situação política, social e económica do Brasil, a constante análise que um faz e que está presente no pensamento do mesmo e do outro, e a partilha do que lhe é mais querido e pessoal. Confesso que o meu interesse pelo mundo da literatura é muito recente; no entanto, não só foi o primeiro autor brasileiro que conheci e ouvi, como a forma como se expressou e as causas por que luta despertaram em mim uma enorme curiosidade para saber mais sobre o mesmo, o que, para mim, já é uma vitória.
Voltando ao tema do empoderamento feminino, o concerto das rappers Mynda Guevara, da Juana Na Rap e da G Fema deixou-me boquiaberta. Desde as letras das músicas, cada uma com uma mensagem diferente mas igualmente importante, o som, as luzes, a proximidade com o público, o facto de cantarem em português e em crioulo (língua oriunda de Cabo Verde), até à vibe do concerto em geral. Não estava de todo à espera de gostar tanto desta performance. Identifiquei-me por ser mulher, livre, ter acesso à cultura, a novas experiências, perspetivas e identidades culturais que, sem iniciativas como esta, a do Festival da FeLiCidade e muitas outras que finalmente estão a dar voz ao que é importante, à cultura, à arte, à educação, à diversidade, à inclusão e equidade, não seria possível.
É sempre bom sairmos da nossa zona de conforto e explorarmos mundos desconhecidos que nos enriquecem culturalmente, promovem e incentivam para evoluir, livres de amarras e barreiras. O conhecimento e a compreensão dos outros, que nos estimula a valorizar e a aceitar uma sociedade diversa. E por isso, mais equitativa e justa.
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