quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Capitulares



Também denominada por Inicial, palavra que deriva do latim initialis, initium. E de acordo com João Alves Dias esta define-a como «maiúscula por vezes empregue no início de um capítulo, ou até mesmo de períodos, em corpo superior ao usado no texto. Quando ornamentada e de grandes dimensões chama-se capitular” (1994).  Por isso, uma inicial/capitular poderá ter o tamanho de várias linhas do corpo de texto e como acontece em alguns documentos medievais, ocupar uma página inteira.

            Existem dois momentos cruciais na história das capitulares: a primeira na época da pré-impressão: manuscritos e no pós-impressão: livro impresso. Com a transição dos «rolos» para os «livros», através dos códices, em que se inicia pela primeira vez, no contexto ocidental, uma estrutura gráfica coerente e facilmente abrangível, que ditou o caminho para a ornamentação e neste caso em específico à introdução da capitular. Desenvolvido nos finais do século VII, a partir dos manuscritos, e por isso uma das formas de decoração mais antiga, antecedendo desde logo à iluminura. Inicialmente caracterizavam-se por formas mais simples, não decoradas e maioritariamente monocromáticas, como maiúsculas romanas como inicial e texto do corpo escrita a minúscula carolina. Acabam por aparecer mais tarde iniciais que começam uma nova linguagem visual, um arquétipo comum, as primeiras capitulares decoradas, explorando temas geométricos, fitomórficos, zoomórficos e figuras grotescas. Nasce no século VIII, a capitular figurativa, que se destaca pelo uso da figura humana e do animal como elemento ornamental, no entanto este estilo só ganhará importância mais tarde, a partir do século XI, com a introdução da narrativa na sua composição, como por exemplo: eventos religiosos etc…



Quatro Evangelhos, escrita em Itália com letras iniciais
e decorada com uma inicial muito simples. Século VI.
Lindisfarne Gospels, um manuscrito do século VIII
           

            Com a introdução dos tipos móveis de Johannes Guttenberg em 1450, no mundo ocidental, uma enorme revolução para a história do livro, havendo uma mudança do paradigma da sua produção. Para além dos caracteres que compõem o texto, a composição gráfica ornamental é naturalmente «transferida» para este contexto mais tarde, pois inicialmente a etapa dos incunábulos, as capitulares ornamentadas ainda seriam colocadas manualmente, não fugindo às temáticas supramencionadas, e o mesmo veio-se a verificar nos séculos seguintes, como por exemplo, quando José Gonçalves se refere a algumas capitulares decoradas de século XVII «baseado numa decoração em que motivos vegetalistas, zoomórficos e antropomórficos se combinam para desenhar as letras» (2010).


Iluminura de manuscrito.
Capitular "S" - Imprensa de Luís Rodriges. 1604

Capitular b"- Imprensa de Luís Rodriges. 1604

            Durante o século XIX e inícios do século XX o uso da capitular 
decorada manteve-se bastante em voga. Porém, ao longo do último século, acabou por perder relevância na identidade gráfica do editorial. Mais recentemente, movimentos afirmativos de revivalismo no design gráfico vem buscar e despertar o imaginário colectivo destes elementos ornamentais, trazendo-as para o mundo tecnológico, estando cada vez mais voga e não confinado apenas a magazines.










Sem comentários:

Enviar um comentário