Mercúrio, o planeta maior
“MERCÚRIO”, de António Júlio Duarte
ZDB - GALERIA ZÉ DOS BOIS
De 4ª a Sáb, 18h-23h, até 28 de Novembro de 2015
ZDB - GALERIA ZÉ DOS BOIS
De 4ª a Sáb, 18h-23h, até 28 de Novembro de 2015
Curadoria de Natxo Checa
O
percurso de António Júlio Duarte (1965)
em Macau, começou em 1997 com o livro “Deviation
of the Sun” editado pela Pierre Von Kleist
Editions.
Atraído
pelo Oriente, nos últimos 10 anos, António Júlio Duarte (AJD), continua recorrentemente a
viajar em busca da indústria do lazer e entretenimento, onde fotografa sem imposições temáticas os seus hotéis,
casinos e discotecas. Inebriado por este espírito, com uma câmara de
médio formato e um flash, as suas imagens afiguram-se povoadas de universos surreais,
insólitos, dúbios, cheios de um brilho
decadente, resultando num novo livro “White Noise” editado
consecutivamente pela Pierre Von Kleist Editions
(Figuras 1 e 2).
Figura 2 - António Júlio Duarte, da série “White Noise”, 2011 |
Destruindo
todos os clichés e estéticas previsíveis, AJD convida
a uma abordagem crítica em torno das marginalidades invisíveis das grandes metrópoles.
O corpo de trabalho de AJD,
resulta de uma deambulação por espaços urbanos, mas longe de uma construção
racional e calculada dos mesmos. O autor trabalha antes com as relações,
oposições, semelhanças e contradições.
O tom das imagens, a
nitidez exata, os cenários metálicos e os grandes objetos decorativos, produzem
interiores frios, impessoais, futuristas e delirantes. Num discurso intrigante
e obscuro, AJD
constrói-se partir de um sentimento de desconformidade.
Figura 3 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
“Mercúrio”
(Figura 3) é o mais recente trabalho de AJD, produzido e apresentado pela
Galeria Zé dos Bois, que assenta e aprofunda o mesmo universo e as questões
abordadas em “White Noise” com os seus
cenários construídos em Macau.
Ao
contrário das inúmeras viagens realizadas para “White Noise”, “Mercúrio”
resulta na sequência de uma residência de criação em Macau, de
19 dias entre AJD e Natxo Checa,
curador da exposição.
Se por
um lado, existe uma identidade comum entre estes dois projetos, “Mercúrio”
também se distancia apresentando-se com um cariz anónimo, evocando imagens sem
contextos referentes e geográficos (Figura 4).
Figura 4 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
Figura 5 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
À entrada
da exposição, (Figura 5) uma densa mancha
negra invade os seus visitantes e impele-os a entrar num outro mundo. Aqui não
há caminhos, nem setas orientadoras, mas sim um labirinto de corredores
sombrios que desaguam em pontos iluminados com imagens isoladas.
Figura 6 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
Pelo fluir da montagem da
exposição, o espectador apercebe-se da intencionalidade desta opção. A fuga ao
“white cube” e a uma narrativa linear, confronta com “dark-room” e a ideia de fragmentação (Figura 6). Ao invés de conduzir, o autor desafia o espectador a
criar sua própria narrativa.
Figura 7 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
Figura 8 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
Tateando sala após sala, o visitante percorre
claustrofobicamente uma série de caminhos
negros entrecruzados, onde AJD procura para além do documental, “mostrar imagens dentro de imagens”
(Figuras 7 e 8).
Figura 9 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
“Mercúrio”, deambula entre imagens desabitadas e abandonadas, entre
pormenores e detalhes arquitetónicos, entre planos infernais (Figura 10) e
naturezas peculiares, deixando um mistério no ar.
Imagéticas, transfiguram-se para um cenário quase
cientifico, gélido, onde o humano é substituído por algo de escultórico, onde
por entre escalas e enquadramentos, renascem novas configurações.
Figura 10 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
A mutação dos espaços, o brilho das superfícies (Figura 11) e a ausência do ser, convocam um sentimento
onírico, mas tal como o próprio nome da exposição revela, cheio de vapores tóxicos e corrosivos de
uma civilização em queda. Como uma premonição AJD, revela-nos “Mercúrio” como um
“envenenamento”, como um espelho tóxico de uma sociedade.
Figura 11 - António Júlio Duarte, da série “Mercúrio”, 2015 |
Como caminhantes num enredo labiríntico, AJD leva o
visitante a uma experiência transcendental que vale a pena penetrar.
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