Genius or Vandal? Essa é a questão sobre o artista Banksy, que a curadoria da exposição, de mesmo título, colocou ao público que esteve presente. A exposição aconteceu, entre junho e novembro de 2019, na Cordoaria Nacional em Lisboa com montagem primorosa.
Na verdade, o debate é mais abrangente e extrapola o trabalho do artista. A questão colocada é se o grafite é ou não verdadeiramente uma manifestação artística, se a utilização de espaços urbanos é ou não concebida como vandalismo. São questionamentos fundamentais que o artista, em seu modus operandi, anda colocando em questão e através dos quais vem abalando as estruturas do mundo da arte.
Banksy é o artista. Mas quem é Banksy? Quem conhece o irreverente artista? O que se sabe sobre ele? A resposta é nada, além de especulações. Seus trabalhos são conhecidos e reconhecidos e o próprio artista se torna cada dia mais motivo de interesse e curiosidade. Jogada de marketing? Irreverência? Posição política? O certo é que Banksy conseguiu criar uma aura de mistério em torno de sua identidade e de seu trabalho. As imagens de sua obra Menina com balão, assim que foi arrematada por uma fortuna, ser parcialmente destruída diante dos olhos incrédulos dos participantes do evento de uma das mais célebres casas de leilões, correu o mundo.
Mas quem nunca ouviu falar do artista sabe, ao certo, o que vem a ser uma intervenção urbana. Muitas vezes incompreendida e criticada, a intervenção urbana, de fato, é uma realidade. O grafite (desenho) e o pixo (grafia), como chamado no Brasil, nasceram nas ruas e sempre transitaram por esferas de marginalidade da transgressão ao usarem a cidade como dispositivo. Porém, cada vez mais o grafite vem ganhando aceitação e reconhecimento.
O que Banksy nos oferece é arte em desenhos, serigrafias, stencil, instalações, fotos e, por fim, um documentário de 2010, Exit through the gift shop, já premiado diversas vezes. Suas composições nos oferecem imagens reconhecíveis em situações inéditas, surpreendentes e expressivas. Seus trabalhos, de alto cunho político e social, encontram-se espalhados pelo mundo: Bristol, Dover, Londres, Paris, Nova York, Nova Orleans, Los Angeles, Utah entre outras. Além destes, o artista esteve na Palestina onde fez vários desenhos no muro que divide a região de Israel e em lugares destruídos pela guerra. Suas obras falam, com uma crítica contundente e certo humor, sobre a violência, a pobreza, a repressão, o sistema e outros temas comuns ao mundo capitalista atual. Outra característica importante de seus trabalhos é a escolha do local, a interação e o diálogo que propõe com esse.
A exposição não autorizada pelo artista aconteceu também em Moscou, São Petersburgo e Madri onde foi vista por mais de 600 mil pessoas. A versão em Portugal contou com 70 obras originais, cedidas por seus proprietários. No projeto curatorial de Alexander Nachkebiya, o público teve a oportunidade de experenciar o submundo escuro e cheios de ratos feitos em stencils, que servem de inspiração ao artista. Com áudio-guia gratuito, a exposição nos transportou para as ruas onde imagens dos grafites são exibidas. Por último, o visitante pode entrar em uma simulação do ateliê do artista com um modelo representando o artista, também incógnito por um casaco com capuz.
Para resumir a experiência na exposição, eu usaria a palavra ‘transgressão’. Talvez pelo tipo de arte que o artista faz, talvez pelo mistério que envolve o artista, talvez pela exposição mesma não ter sido autorizada pelo artista ou por todas essas alternativas juntas.
A questão colocada Genius or Vandal? Pode não ter sido completamente esclarecida. Porém, a impressão que ficou foi de uma experiência única frente aos impressionantes trabalhos do artista e o desejo de conhecer pessoalmente cada uma de suas obras espalhadas pelo mundo.
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