terça-feira, 26 de novembro de 2019

Sketchbooks: A importância de um Diário Gráfico

Leonardo da Vinci
Um diário gráfico (sketchbook) é o caderno pessoal de um artista. Ao longo das suas páginas encontram-se desenhos, rabiscos, anotações, apontamentos, textos, estudos, mas principalmente, ideias. Umas mais exploradas que outras, é nos seus diários gráficos que os artistas as desenvolvem e relacionam entre si.

“It is often we come the closest to the essence of an artist... in his or her pocket notebooks and travel sketchbooks... where written comments and personal notes provide an intimate insight into the magical mind of a working artist.” Eugène Delacroix
Eugène Delacroix
Ao longo de um diário gráfico, são revelados os pensamentos mais puros e despreocupados de cada artista. Nestas folhas é exposta a sua verdadeira personalidade e o modo como interpreta e vê o que o rodeia. O diário gráfico deve ser um espaço espontâneo e livre de regras, constrangimentos ou censuras (externas ou internas) e que incentiva a experimentação, a exploração e a criatividade. O objetivo não é a criação de grandes obras de arte, mas o processo. Deste modo, a sua utilização data aos tempos da época medieval, onde era utilizado como ferramenta essencial para a aquisição de conhecimento, sendo também bastante utilizado ao longo dos anos por artistas da era do Renascimento, do Barroco, do Romântico, e muitos outros, até aos dias de hoje. Artistas como Leonardo da Vinci, Eugène Delacroix e William Turner foram alguns dos artistas que elevaram esta forma de arte e permitiram dar a conhecer a importância do diário gráfico como meio fundamental para o desenvolvimento do processo criativo e potenciador da aprendizagem de qualquer artista.
 William Turner foi um dos grandes artistas a utilizar o diário gráfico como ferramenta no seu processo criativo. Pintor inglês e conhecido pela expressividade das suas paisagens imaginativas, desenvolveu uma vida inteira de registos e desenhos. Os seus cadernos traduzem a sua carreira e a constante experimentação e variações estilísticas a que esteve sujeito ao longo dos anos. Estes nunca foram realizados com o intuito de serem conhecidos pelo público, tendo sido encontrados apenas depois da sua morte, no seu estúdio, dentro de caixas e por acidente.
William Turner
“If, as is often said, the eyes are the window to the soul, then sketchbooks, as visual journals, are a window to the soul of the artist.”- Lisa Marder, (Sketches and Sketchbooks of Famous Artists)
É um privilégio poder folhear o diário gráfico de um artista, na medida em que se trata de uma oportunidade de poder ver o mundo através dos seus olhos. De certa forma, os diários gráficos assumem-se como “bancos” de memórias, onde o artista regista momentos da sua vida, influências, devaneios, pensamentos, medos, etc. Manter um diário gráfico permite contruir uma memória. Tornam-se diários pessoais que refletem a personalidade e o modo de pensar e viver do seu autor. Neste sentido, é curioso verificar, não só como cada diário gráfico difere consoante o seu artista, mas principalmente, como o mesmo artista pode realizar vários diários gráficos todos diferentes.

Atualmente, tem-se verificado o crescimento da popularidade deste formato artístico, principalmente através de plataformas como o Youtube. Este fenómeno permitiu a criação de novos projetos, nomeadamente o The Sketchbook Project, uma biblioteca exclusivamente de diários gráficos, em Brooklyn (EUA), que podem ser enviados de qualquer parte do mundo e por qualquer artista. Deste modo, incentiva-se à constante criação sobre este formato, que ainda hoje se destaca pelo seu papel fundamental no processo criativo de cada artista e como lugar seguro à expressão individual e pessoal.

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Referências:
Jones, Jonathan (2013). Leonardo da Vinci's notebooks are beautiful works of art in themselves. The Guardian 
The Sketchbook Project (2019)
William Turner Sketchbooks (2019). William Turner org 

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