quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Cidade Gráfica


Lisboa. Uma cidade repleta de mensagens. Identificações que se constroem formando identidades culturais e patrimoniais, ajudando assim a criar o lugar e a relação do público com esse mesmo local. 

A tipografia é vista, nos dias de hoje, como um essencial instrumento de comunicação. Facilita a orientação do leitor, contribui para dar sentido ao que lemos, ao que vemos, e ao que interpretamos. A tipografia serve-se da nossa sensibilidade e inteligência para a criação de imagens, signos, símbolos, com grande carga significativa. 

A função da tipografia na arquitetura visa, não só ajudar a identificar a função dos edifícios e para uma clara orientação dos cidadãos, como acrescenta também assim um valor visual ao espaço urbano. 

Na composição entre a tipografia e a arquitetura existem algumas áreas em comum como: letreiros, sintética, tipografia anamórfica, desenhos de tipos de letra com inspiração arquitetónica, etc. Esculpidos na pedra, na madeira, no vidro, no ferro, na cerâmica, no alumínio ou em acrílico, os letreiros são fabricados com uma grande variedade de materiais. As letras, usadas normalmente no discurso verbal, quando aplicadas na arquitetura transformam-se em discursos visuais, possibilitando outra experiência com a letra. Toda a tipografia faz recurso ao ritmo para comunicar. De forma contemporânea, clássica, convencional ou experimental, a tipografia torna-se séria ou divertida, conforme a delicadeza e rudeza da letra. 





"Uma cidade não se constrói só de arquitetura e urbanismo, 
a identidade visual também é muito importante. Os letreiros e néones fazem parte de um património urbano que está a desaparecer.” As palavras são de Bárbara Coutinho, diretora do MUDE – Museu do Design e da Moda, que, em parceria com o projeto Letreiro Galeria, organiza a exposição Cidade Gráfica – Leituras e Reclames de Lisboa no Século XX, no Convento da Trindade, em Lisboa.

Esta exposição tinha como objetivo mostrar um património que está a desaparecer da cidade. Em colaboração com o Projeto Letreiro Galeria (iniciativa que procura preservar os letreiros comerciais e industriais que estão desativados, considerando-os património cultural e memória gráfica da cidade), o MUDE olhou para a cidade de Lisboa pela perspetiva da publicidade e da cultura urbana, contribuindo para a preservação de um património gráfico reunido que urge estudar e permitir a fruição de uma memória cultural comum a todos os portugueses.




Uma viagem no tempo, aos dias em que as luzes dos néones nos guiavam até ao destino sem precisarmos de saber o número da porta. 
Em Cidade Gráfica, descobrimos uma outra perspetiva de Lisboa através da publicidade e da cultura urbana e acompanhamos a evolução das fachadas dos prédios. 


Devido à evolução dos grafismos, à reabilitação urbana e na sequência das próprias dinâmicas empresariais, que conduzem à abertura e ao fecho de lojas, muitos desses letreiros acabaram abandonados, tendo como destino o ferro-velho ou o lixo, perdendo-se qualquer rasto sobre a sua história e o seu contexto. Assim se perdeu também parte da memória de uma cidade e das referências estéticas que marcam várias épocas.




A divisão desta exposição foi feita por tipologias de materiais. Começa com tabuletas de vidro, metais e portas guarda vento. Seguem-se letreiros de néon, divididos e agrupados por estilos de letras (sala de letras manuscrita e itálicos, sala de figuras e conjuntos de letreiros do mesmo estabelecimento, sala de letras sem serifas e estelizadas, sala de letreiros de grandes dimensões).


A tipografia na arquitetura nos espaços e nos lugares identifica-os enquanto edifícios. Quando olhamos para o campo da tipografia, os critérios de avaliação não poderão ser limitados a uma só reflexão sobre as letras. Trata-se da relação entre os quatro elementos principais: a forma das letras, a relação com a arquitetura, o material empregue e o seu estado de conservação/legibilidade. A sua utilização na arquitetura vai mais além. Além do que é perceptível só num olhar. Procura responder às funções do próprio edifício. 

São vários os países que possuem estas características e o gosto pela tipografia inserida na arquitetura, embora ao longo dos tempos isso venha a perder alguma qualidade. Há falta de trabalho artesanal, substituído muitas vezes por plástico ou outros materiais de baixo custo. Isso gera a uma escassez do aspeto visual da identidade. Mostra uma indiferença para com o nosso património. O objectivo é criar um impacto visual, nas suas fachadas, no local onde se insere. 



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REFERÊNCIAS
Gray, Nicolete. Lettering as Drawing. (1972). Oxford University Press. 
Gray, Nicolete. A History of Lettering. (1986). Phaidon Press Ltd; Primeira edição (11 de Setembro, 1986). 
Lisboa está cheia de letras únicas. [Online]. Disponível em: https://www.publico.pt/2006/10/08/jornal/lisboa-esta- -cheia-de-letras-unicas-101290 
Lisboa com legendas – reclames que não são de deitar fora. 
[Online]. Disponível em: https://www.publico.pt/2016/11/27/culturaipsilon/ noticia/lisboa-com-legendas--reclames-que-nao-sao-de- -deitar-fora-1752626 
Lettering na arquitectura em lisboa. Disponível em: http://7et.fa.ulisboa.pt/images/roteiro-7et/galeria. php 
Lojas históricas em Lisboa: velhas, mas boas(2017) Disponível em: https://www.timeout.pt/lisboa/pt/coisas-para-fa- zer/lojas-historicas-em-lisboa-velhas-mas-boas?pa- ge_number=3&zone_id=1447142 Cidade Gráfica: O que contam as ruas. (2017) Disponível em: http://visao.sapo.pt/actualidade/visaose7e/ver/2016-11-27-Cidade-Grafica-O-que-contam-as-ruas



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