quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Comic Sans - A Font mais Odiada do Mundo


“While trained typographers think it's an over-used, poorly designed eyesore, millions of Microsoft users quickly saw Comic Sans as the typographical equivalent of the emoticon – the easy communication of friendliness – and it's adorned pizza menus, misguided CVs, and passive-aggressive notes ever since.”
Patrick Kingsley, In defence of the Comic Sans font, 2010

Com milhares de fonts disponíveis para utilizadores em todo o mundo, não é com leveza que o Comic Sans conquista o título de font mais odiada do mundo. 

Criada em 1994 por Vincent Connare, o Comic Sans era suposto ser a font utilizada pelos balões de fala do Microsoft Bob, o cão assistente de navegação nos primeiros sistemas operativos da Windows. Originalmente, Bob era suposto falar em Times New Roman, uma escolha que Connare não achou adequada, afirmando “Dogs don’t talk in Times New Roman! Conceptually, it made no sense”. Connare demorou cerca de três dia a construir a font mas já não foi a tempo de ser implementada no programa. No entanto Comic Sans foi incluido no pacote de fonts que acompanhou o Windows 95, acabando por se tornar numa das fonts mais utilizadas da Windows. 

Apesar de parecer uma história de sucesso, a popularidade que acompanha o Comic Sans é bastante negativa, sendo odiada quase universalmente pela comunidade do Design.

A verdade é que o Comic Sans simplesmente não é uma font bem desenhada. Segundo David Kadavy, o Comic Sans possui uma panóplia de problemas estruturais, como a falta de consistência, mau espaçamento entre os caracteres e a irregularidade do traço. Umas das suas poucas qualidades redimiveis é a sua boa representação em ecrã. Tendo em conta a qualidade dos monitores dos primeiros computadores, o Comic Sans acaba por ter uma relativa legibilidade, especialmente quando comparada com fonts mais delicadas, desenhadas para impressão em papel.

O Windows 95 foi o primeiro grande sistema operativo a ser divulgado em grande escala nos primeiros computadores domésticos. Subitamente, o público geral ganhou acesso a programas como o Powerpoint, Word ou Publisher e, consequentemente, o poder para criar os seu próprios documentos, folhetos ou cartazes sem ter um mínimo de conhecimentos de tipografia ou design. Com o aparecimento da Internet, isto foi transferido para o mundo online mas com ainda mais poder de divulgação. Apesar de haver fonts muito piores em todos os sistemas operativos, nenhuma é tão popular ou tão mal utilizada como o Comic Sans.

Também também a haver com o contexto. A viragem do milénio marca um período de mudança no mundo do design e da comunicação. O digital vai-se tornando mais popular e a imprensa perde relevância. Com o fácil acesso a formas de produção editorial, a importância do trabalho do designer é posta em causa. No final, o Comic Sans acaba por ser um espécie de bode expiatório; uma concentração das frustrações e medos do designer moderno.

“So, you see, Comic Sans is an archetypal enemy of the Graphic Designer. Its not only an unattractive font, but it also represents the invisible, evil force that is making the “print” designer less and less relevant.”
David Kadavy, Why You Hate Comic Sans, 2011

Este ódio é tão profundo que existem vários movimentos contra a font. Enquanto a campanha Comic Sans Criminal de Matt Dempsey apresenta um carácter mais informativo o movimento Ban Comic Sans, uma petição criada por Holly e David Combs em 2011, procura banir completamente a font, apagando-a permanentemente de todos os sistemas operativos.

Entre as mais curiosas utilizações de Comic Sans, temos o livro oficial comemorativo do Papa Bento XVI ou a apresentação do CREN sobre a descoberta da partícula de Higs, considerada uma das descobertas científicas mais importantes do século XXI.

Slide da apresentação da partícula de Higgs

Apesar tudo isto, o Comic Sans não tem que ser completamente inútil. Pode ser uma font interessante se for usada para o seu propósito original. Com os seus caracteres arredondados pode ter um aspecto amigável é bastante popular com crianças.

“Critics of Comic Sans argue that it shouldn’t be used in the workplace or on an outdoor defibrillator cabinet. But what font would you suggest for signage in a paediatrician’s waiting room? How about for labels of emergency equipment in a school? How can you make a sign that says “please keep the office toilet tidy” without coming across as being passive aggressive? Comic Sans could be your solution.”
Thomas PayneHate Comic Sans? You don’t know anything about typography, 2017

Para além disso, o Comic Sans é considerado pela British Dyslexia Association uma das fonts mais indicadas para leitores dislexicos. Aparentemente, o seu desenho irregular evita que os leitores confundam caracteres. Mais recentemente o Comic Sans teve um pequeno renascimento online, sendo usada de modo cómico e oferendo uma nova perspectiva à celebre font. Em vez de ser usada de modo inadequado por acidente, o Comic Sans tornou-se assim um símbolo de sarcasmo e ironia. De certa forma, reflecte uma faceta que o utilizador padrão nem sempre pode mostrar online. 

“Comic Sans may always be a grotesque joke to the world, however, for me, it exemplifies the only thing I strive to be at the end of the day: human.”
 Dean Dessener, In Defense of Comic Sans, 2016, para o Washingtonian


Referências 










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