[re]Emergência da Poesia Experimental
Em 2005 iniciou-se o projecto po-ex.net – Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa, um domínio web para estudo e disseminação da poesia experimental. A exploração deste site convida à experimentação e facilmente se torna numa experiência imersiva (e quase infinita) em palavras, formas, sons e gestos que compõem um universo poético surpreendentemente diverso.
António Nelos "Alieanação" (anos 1980) |
O projecto po-ex.net surge com o objectivo de recolher, classificar, digitalizar e reproduzir em formatos digitais a produção da poesia concreta e visual portuguesa associada ao movimento da Poesia Experimental surgido na década de 1960 e do qual E. M. de Melo e Castro é uma figura incontornável.
Nasceu na Covilhã, em 1932. Aos 24 anos de idade formou-se em engenharia têxtil pela Universidade de Bradford, Inglaterra, e regressou à cidade natal para exercer funções técnicas na fábrica da família mas cedo abandonou o cargo para se dedicar ao ensino do desenho têxtil e à consultoria de empresas do mesmo ramo. Foi professor no IADE e professor convidado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na Universidade de São Paulo, onde se doutorou em Letras em 1998.
A par das suas actividades profissionais desenvolveu uma profunda investigação, teorização e concepção no campo da poesia concreta brasileira, tornando-se numas das figuras principais (a par com Ana Hatherly) na emergência da poesia experimental portuguesa.
Ana Hatherly "O Homem Invisivel" (s.d) |
Ideogramas, publicado em 1962, reúne 29 poemas concretos, sem qualquer introdução ou nota explicativa, e é considerado um marco fundador do movimento PO.EX (acrónimo de POesia.EXperimental criado por E. M. de Melo e Castro para a exposição PO.EX/80 e usado no título do livro "PO.EX: Textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa" org. E. M. de Melo e Castro & Ana Hatherly, 1981). Seguiu-se a participação no primeiro número, e na organização do segundo, da revista Poesia Experimental (1964 e 1966 respectivamente). Colaborou em diversas antologias, suplementos e revistas, enquanto poeta e crítico publicou dezenas de livros e o seu trabalho artístico foi apresentado em diversas exposições colectivas e espectáculos em Portugal e no estrangeiro. Foi também autor de um conjunto de obras pioneiras na utilização do vídeo e do computador na produção literária, nomeadamente, desenvolveu entre 1985 e 1989, na Universidade Aberta, um projecto de criação de videopoesia denominado Signagens.
Melo e Castro "Ideogramas" p.17 |
Melo e Castro "Ideogramas" p.38 |
Melo e Castro "Ideogramas" p.29 |
E. M. de Melo e Castro define a Poesia Experimental como sendo “a problematização da invenção” e considera que um dos objectivos de todos os poetas experimentais da época era a “transnacionalidade” da língua portuguesa. O poeta experimental trabalhava na fronteira da escrita com as artes plásticas e, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, havia uma grande preocupação em fazer o poema sair da bidimensionalidade da página para outros suportes — p.e. fotopoema, vídeopoema, livro de artista, performance poética ou poema-objecto.
Fernando Aguiar "Ensaio para uma nova expressão da escrita" (1983) |
FONTES
Taxonomia – página do arquivo digital da PO.EX
Poesia Experimental Portuguesa no Brasil – artigo do arquivo digital
da PO.EX
Cronologias da PO.EX – artigo do arquivo digital da PO.EX
Castro, E. M. Melo e (1962) “Ideogramas” Colecção poesia e verdade, Guimarães
Editora.
Torres, Rui (2008) “Enquadramento teórico e contexto crítico da
PO.EX” Volume Número 1 do ebook Poesia Experimental Portuguesa - Cadernos e
Catálogos.
Reis, Jorge dos (2017) “As partituras gráficas e sonoras de Ernesto
Melo e Castro: sua construção e performance.” Revista Gama, Estudos Artísticos.
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