quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Ernesto de Sousa

“Ingenuidade Voluntária”

 


Reunião preparatória na Galeria Nacional de Arte Moderna, 1977.
Ernesto de Sousa, João de Melo, Ana Rosa Gusmão, Jorge Peixinho, Carlos Gentil-Homem e Fernando Matos.

Ernesto de Sousa (Lisboa, 1921-1988) foi uma figura muito presente, muito activa e muito marcante nas artes e na sociedade portuguesa na segunda metade do séc. XX. Dedicou-se tanto ao estudo, divulgação e prática das artes, como à curadoria, crítica e ensaística, à fotografia, ao cinema e ao teatro. A sua postura multidisciplinar, a avidez com que acolhia novos artistas e a forte convicção na defesa de uma expressão artística experimental e livre levaram-no a questionar a definição de arte, o objecto artístico e o papel/lugar tanto do artista como do espectador.

Esta forma de pensar resultava numa mudança do paradigma artístico e propunha uma perspectiva diferente sobre o conceito de “arte” como catalisador de fortes mudanças sociais. Cunhada a partir de um termo de Almada Negreiros, nasce a proposta da “ingenuidade voluntária”[1] que mais do que explicar o objecto que se propõe estudar, pretende ser um modo de encarar o mundo, tanto para o artista, como para o crítico ou o espectador.

A ingenuidade passa a categoria estética e ponto intemporal de absorção do passado com vista no futuro, ela é a capacidade de gerar novas e inesperadas relações a partir de todas as impressões e sensações.

A dimensão de intervenção social pretendida durante o neo-realismo exige que este se transforme numa atitude perante o mundo, que se crie uma linguagem artística capaz de transformar a arte por dentro, defendendo Ernesto de Sousa que é o olhar ingénuo da arte popular integrado na arte culta que permitirá ultrapassar a ineficácia da linguagem vigente na época. Em 1959, escreve num artigo publicado na revista Seara Nova, “o caminho do futuro é perfeitamente previsível: o espectador fará parte do espectáculo”[2].

Na década de 60 entra em contacto com o movimento Fluxus e as neo-vanguardas europeias que se tornaram determinantes na sua reformulação da arte como "obra aberta", experimental e participativa. Até aos anos oitenta organiza cursos, conferências, exposições, performances e happenings com vista à promoção de pontos de contacto entre estas vanguardas e o contexto português.

Destacam-se, num percurso tão vasto, a proposta de celebração do Aniversário da Arte de Robert Filliou (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, 1974) e a exposição "Alternativa Zero" (Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa, 1977) como epítome da intenção da criação de uma vanguarda portuguesa em diálogo estético e ideológico com o panorama internacional.









 Provas gelatina sal de prata, 1966-1972





 


NOTAS

[1] “«Sou um ingénuo voluntário» - dizia Almada Negreiros, que algures fez o elogio da ingenuidade.” In Ernesto de Sousa [1970] (1995).

[2] Ernesto de Sousa em «Artes Plásticas», Seara Nova nº 1367, Setembro 1959. Citado por Mariana Pinto dos Santos (2006) s/p.







FONTES

(n.d.). Recuperado de Ernesto de Sousa: http://ernestodesousa.com/

Alves, I., Bártolo, J., Santos, R., & Sousa, E. (2015). your body is my body — o teu corpo é o meu corpo. Lisboa: Museu Coleção Berardo.

Vahia, L. (2012). Para uma ingenuidade voluntária — O popular em Ernesto de Sousa. Recuperado de Motel Coimbra: http://www.motelcoimbra.pt/wp-content/uploads/2013/05/IngenuidadeVoluntaria.pdf

Vahia, L. (2014, 06 18). Para uma ingenuidade voluntária: O popular em Ernesto de Sousa. Recuperado de Arte Capital: https://www.artecapital.net/estado-da-arte-42-liz-vahia-para-uma-ingenuidade-voluntaria-ernesto-de-sousa-e-a-arte-popular

Violante, F. (n.d.). Ernesto de Sousa. Recuperado de Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado: http://www.museuartecontemporanea.gov.pt/pt/artistas/ver/133/artists

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