quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Romance Híbrido "Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde" de Alberto Hernández

Um livro hibrido é a junção do seu conteúdo narrativo com elementos gráficos (imagens, recortes, ilustrações, tipografias, entre outros) criando uma forma de leitura que não é meramente mental, mas também visual, incentivando o leitor a interagir de outra forma com o livro, fazendo com que tenha a oportunidade de conhecer mais sobre a sua narrativa de uma forma interativa, exigindo ações do leitor e também para ser manuseado e vivenciado. 



                        "Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde" de Alberto Hernández

Alberto Hernández, produz um grande exemplo deste género enquanto ainda estava no seu mestrado.  Este livro de aparência e conceito simples brinca com  o feitio e forma - até mesmo na maneira em que o lemos. É um livro que mistura da forma mais imprevisível de grafismo, texto e fotografia, dando a impressão de que podemos realmente mergulhar na história. As páginas são desconstruídas de forma lúdica, com caminhos secretos que levam a surpresas impressas, rostos que aparecem onde menos esperamos, dando um certo toque de "magia" durante a sua leitura.


  




"Um livro híbrido, de acordo com  Alberto Hernández, seja um romance imagem-texto híbrido, não um livro infantil, graphic novel/quadrinho ou livro de presentes, mas um livro onde texto escrito e dispositivos gráficos como ilustração, fotografia, gráficos de informação ou tratamentos tipográficos podem interferir para manter o interesse dos leitores. Essa combinação agrega interatividade ao livro e também confere à página impressa uma superfície visual multidimensional. Um romance híbrido é um tipo de livro que exige ações dos leitores e também para ser manuseado e vivenciado. Esta remediação de "Strange Case of  Dr Jekyll and Mr Hyde" tenta, adicionando dispositivos gráficos lúdicos ao romance original, envolver os leitores numa experiência narrativa mais dinâmica e, em simultâneo, ajudá-los a entender a história com mais facilidade." 








LX LAPA: EXIBIÇÃO “TRANSFORMAÇÃO” Reúne Artistas Portugueses para repensarem o ciclo têxteis

    Para o Primeiro post do Reactor, achei pertinente indicar a atual exposição na Concept Store Lx Lapa onde eu trabalho como recepcionista. Para contextualizar, o edifício trata-se de uma grande mansão no centro do bairro da Lapa, e foi, coincidentemente, a sede da Casa dos Editores e da revista Brotéria em 1930. A Lx Lapa apresenta-se como uma loja de decoração que reúne peças vintage do século XX, assim como obras de arte contemporâneas e plantas de variadas espécies. A abertura de uma Galeria de Arte, como forma de divulgar artistas portugueses, conjuga-se com esse espaço eclético para criar uma experiência única no centro de Lisboa. 


Fig. 1 Cartaz e Flyer da exposição Transformação 


    Sob a curadoria do artista Vasco Águas, a exibição gratuita apresenta uma abordagem de artistas portuguesas sobre o universo têxtil e a sua multiplicidade. 

Esta mostra reúne uma seleção de obras, e segue o motto da artista têxtil alemã Anni Albers (1899 - 1994) sobre a tecelagem, onde Albers define a arte da tecelagem como uma forma de criação multifacetada. A profundidade das obras compostas recorrendo ao material têxtil, partem desde a sua superfície, por vezes lisa e suave, e outras mais rijas e rugosas. A arte em têxtil desdobra-se então, na sua composição final onde a construção em tecido revela o registo artístico. Por fim, as obras compostas através deste meio, são versáteis ao tornarem-se parte do uso cotidiano como objetos decorativos, bem como podem elevar-se a outro nível de compreensão artística. 

Fig. 2 Entrada da exposição 


    Quanto ao título da exposição, o grupo de artistas define “Transformação”  como parte do crescimento do processo criativo que os artistas experienciaram ao explorarem o têxtil. Em comum, este grupo concorda que a utilização deste meio artístico apresenta uma capacidade multifacetada da composição artística.  

A exposição reúne os trabalhos de Vasco Águas, Ana Rita Albuquerque, Graça Paz, Guida Fonseca, Maria Pratas, Filipa Won, Rita Sevilha e Rita Teles Garcia.


Os artistas reunidos exploram de formas variadas a utilização de tecidos. Em destaque, a artista Graça Paz define o seu progresso para a produção artística como composição musical. Paz traz memórias da infância e temas introspectivos onde a relação entre compositor e intérprete como analogia para o papel do artista e do observador.



Fig. 3 e 4 A Sacralidade da Ausência de Graça Paz, 2022 


    Podem visitar, até o dia 20 de Novembro de 2022, gratuitamente, a exposição na LX Lapa (Rua Maestro Taborda, 14), de Segunda à Sexta das 11:00 às 20:00 e das 11:00 às 19:00 aos fins-de-semana e feriados

 Modos de Ver, de John Berger

“As imagens foram ao princípio feitas para evocar as aparências de algo ausente. Aos poucos foi-se tornando evidente que uma imagem podia ultrapassar em duração aquilo que ela representava: mostrava, então, como uma coisa ou alguém havia antes se parecido - e assim, por implicação, como o assunto fora antes visto por outras pessoas.”


Este livro de John Berger - que é a transcrição de uma série documental do mesmo de 1972 - é uma compilação de ensaios textuais e ensaios ilustrados, desprovidos de texto, sobre a cultura visual da nossa sociedade ao longo do tempo. Aqui, o autor critica a maneira dominante como a arte é apreciada e a relação entre o que vemos e o significado que atribuímos.


No primeiro capítulo, Berger começa por apontar que ver e reconhecer vem antes das palavras, “o ato de ver estabelece o nosso lugar no mundo circundante”, mas essa maneira de ver é sempre influenciado por aquilo que sabemos e acreditamos. Dá o exemplo do simbolismo do fogo na atualidade e na Idade Média, quando acreditavam na existência física do Inferno. Diferencia o ato de olhar e de ver, explicando que nunca conseguimos olhar para uma coisa singular, mas quando escolhemos ver, estabelecemos uma relação entre nós próprios e o objeto.
Depois disto estabelecido, aborda o tema da imagem e da sua reprodução. Menciona que o artista observa antes de começar a pintar e, assim, a imagem produzida passa a ser a interpretação do mesmo. Quando consideramos essa imagem uma obra de arte, mistificamos a imagem. Quando mistificada, torna-se um privilégio que não é acessível a todos, privando grande parte da população de tirar as suas próprias conclusões. No entanto, a fotografia veio mudar isto. A reprodução da imagem mudou o significado que esta tem para nós, em relação ao significado que um quadro teria na altura renascentista. A singularidade de um quadro deixou de ser possível e, assim, deixou de ter o mesmo significado ou importância. Passamos a preocuparmos-nos com a raridade do objeto em vez do que com o que está representado. Aqui dá o exemplo do quadro Virgin On The Rocks de Leonardo Da Vinci. Uma das suas reproduções encontra-se no National Gallery e outra no Louvre. Ambas as instituições afirmam que têm o original e a sua maior preocupação é comprovarem-no, através de anos de pesquisa de historiadores. Tornando, o simbolismo do quadro insignificante e, o nosso primeiro pensamento quando o vemos, em questões de autenticidade.



(Esquerda: Louvre; direita: National Gallery)


Num outro capítulo, o foco principal é a nudez e a sua representação, principalmente em quadros a óleo europeus. Neste caso, fala sobre o que a sociedade espera de uma mulher em contraste com o que é esperado de um homem; e como essas diferenças de atitudes é representada, então, nos quadro a óleo. Começa este ensaio por explicar a diferença entre estar nu e a representação da nudez. Refere que a nudez é representada - dominantemente - pela mulher exposta como um objeto para o proveito do observador - maioritariamente, um homem. Aqui, o protagonista do quadro deixa de ser a mulher mas sim quem observa o mesmo. Ele mostra imagens de quadros onde comprava esta afirmação, onde a mulher que é representada está sempre virada e posicionada em favor do observador, sem qualquer interesse no que esta à sua volta. 


(Allegory of Time and Love - Bronzino, 1545)


Introduz a seguir, a presença da mulher para com os outro como para com ela mesma, - “A mulher deve, continuamente, estar atenta a ela mesma” -, e afirma que, na própria mulher, existe um lado de ‘inspetor’ e um lado de ‘observador’. Esta diferenciação, remete para o facto que a mulher tem de pensar sempre como as suas ações vão ser interpretadas antes de agir. 

“Se uma mulher atira um copo ao chão, este é um exemplo de como ela trata a sua própria emoção de raiva e, portanto, como ela deseja que seja tratada pelos outros. Se um homem faz o mesmo, esta ação é lida apenas com uma expressão da sua raiva.” 


Este dois exemplos são apenas uma amostra que John Berger fala neste pequeno livro. Uma leitura fascinante e provocativa que nos faz questionar realmente o que é a arte e a maneira com a visualizamos e interpretamos hoje em dia.



BERGER, J. (2008). Ways of Seeing. London: British Broadcasting Corporation. 

(Original work published 1972)

Bild, oder

Bild, oder (Imagem, ou) surge enquanto catálogo da exposição Mit einem Fuss in der Realität (Com um pé na realidade) de Joëlle Tuerlinckx e Willem Oorebeek, em Karlsruhe, na Alemanha, em 2004.


Joëlle Tuerlinckx (1958, Bélgica) trabalha com materiais com o estatuto de arquivo, provenientes de diferentes meios: objetos encontrados, textos, jornais, obras suas anteriores e material cinematográfico. Tuerlinckx recorre a diferentes métodos de transformação e a um sistema infinito de referências e citações, onde as suas obras - variáveis e constantemente readaptáveis - permanecem um processo aberto.


Willem Oorebeek (1953, Holanda), na sua prática artística, aborda a “questão da imagem e da sua representação, explorando as noções de repetição, reprodução, autoria e originalidade”. O artista recolhe material impresso pelos meios de comunicação de massas, segundo os seus critérios de atracção, afeição ou afinidade, e manipula-o através de técnicas das artes gráficas.


O livro debruça-se  em torno das temáticas da mostra Com um pé na realidade, que agrupa fragmentos de posters, convites, páginas de catálogos, objetos encontrados e recortes de papel, num complexo sistema de referências, como é habitual no trabalho de Joëlle Tuerlinckx. Os dispositivos estabelecem entre si uma relação, em que a materialidade de uma superfície se reflete contra a outra. Ao reagrupar, reorganizar e re-classificar os elementos expostos, instituiu-se uma nova ordem que se alimenta da percepção espaço-temporal. 


Algo semelhante acontece no catálogo, que reúne colagens reproduzidas a preto e branco dispostas numa organização interna própria do objeto, como sugere a dupla numeração nas imagens (a da série, à direita, e a da peça no interior da série, à esquerda), para além dos números das páginas. 


Uma vez criados em paralelo, no estúdio dos artistas, o conteúdo do livro provém do material utilizado na exposição e vice-versa. Deste modo, os dispositivos contaminam-se e estão constantemente a citar-se um ao outro. Esta intercomunicação demonstra que os assuntos não se esgotam e podem ser desdobrados infinitamente. Numa lógica semelhante, a colaboração entre os artistas - que se interpelam através de sucessivas intervenções intuitivas - estabelece uma constante apropriação, por partes dos mesmos, do trabalho um do outro.


“Por vezes trabalhamos com material que eu recolhi. Outras vezes é material do Willem. No processo de construção do livro, as séries foram-se desenvolvendo de uma forma muito fluída e natural” - Joëlle Tuerlinckx.


A manipulação das imagens em Bild, oder acontece através do confronto com o próprio papel, que apenas pela sua presença física sugere ações por parte do sujeito que o observa. Deste modo, seria impossível uma abordagem digital por parte dos artistas para aferir este tipo de resultado, que, por sua vez, é muito manual e expontâneo.


O catálogo é produzido neste tom de diálogo entre Joëlle Tuerlinckx e Willem Oorebeek, que estendem a sua prática apresentada na exposição ao livro, não o diminuindo em instância alguma e devolvendo-lhe o valor merecido - de obra de arte. Neste sentido, é um objeto independente que fala por si só, apesar das interligações fortes que estabelece entre os artistas e as obras, que em nada o inviabilizam.















Referências:


WILLEM OOREBEEK. MONOLITH, Once or Many. Lisboa: Culturgest.

https://archive.schwarzwaelder.at/artist/joelle_tuerlinckx

https://www.quadradoazul.pt/pt/qa/artist/willem/

https://www.textem.de/index.php?id=612

https://www.objectif.co.uk/projects/bild-oder/

https://saint-martin-bookshop.com/products/bild-oder-joelle-tuerlinckx-willem-oorebeek-badische-kunstverein-2004


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

 “A VIAGEM” - UM LIVRO INFANTIL A PENSAR NOS ADULTOS 

    Todos os dias, são publicados dezenas de livros infantis a pensar nas nossas crianças!
    Através de páginas grandes e ilustrações cheias de cor, damos a conhecer o dia a dia, iluminando-o um bocadinho, através de poemas e fantasias, para ensinar as nossas crianças a viver o mundo! Fábulas que passam de gerações em gerações recebem novas edições todos os anos, fazendo com que, por exemplo, a história do capuchinho vermelho nunca morra! 

     Estas histórias continuam a deslumbrar os mais novos e deixam um sentimento de nostalgia nos mais velhos. Contudo e mesmo sabendo que estas fábulas, falam de temas importantes, existem outros temas que são ainda quase que um desafio para serem introduzidos aos mais pequenos. Como por exemplo, o tema da guerra ou dos refugiados. 

    Como introduzimos uma criança a essa dura realidade? 


    Foi a pensar nisso que Francisca criou o seu primeiro livro infantil, “A Viagem”.


    Francisca Sanna nasceu em Sardenha, Itália, mas vive atualmente na Suíça. Licenciou-se em arquitetura, tendo mais tarde tirado o mestrado em Design com a especialização em ilustração, numa escola em Nova Iorque. Com este talento para a ilustração e sendo ela consciente do meio que nos rodeia, Francisca acabou por se cruzar com duas refugiadas que partilharam a sua história. Inspirada pelas suas duras realidades, Francisca, decide criar o seu primeiro livro infantil, dando a conhecer a viagem que muitos refugiados são obrigados a realizar de modo a poderem fugir de situações de guerra. 

    

    “A Viagem”, tem 48 páginas, 27cm X 23cm, capa rija e é dedicado a crianças dos seis aos dez anos e está traduzido em pelo menos 15 línguas. 

    Este livro, todo ele repleto de ilustrações vivas e cheias de cor, conta a história de uma família que se vê obrigada a “viajar” devido a algo, que aconteceu no seu país. As imagens

por si só, apresentam-nos a dura realidade através das diferentes paletas de cor, transmitindo sentimentos fortes destinado aos adultos, mas que deliciam os olhos dos mais novos.



    Este livro infantil é feito para introduzir um tema importante aos mais novos, relembrando os adultos da realidade que os rodeia! É absolutamente fascinante como um livro com tão poucas palavras e cheio de ilustrações vivas, nos consegue apertar o coração, sem nunca perder o fascínio e a curiosidade dos mais pequenos. Visto muitos livros infantis terem de ser lidos ou apresentados por adultos aos mais novos, este livro foi completamente pensado para passar a sua mensagem ao público infantil, enquanto penetra
na consciência dos adultos. 

    Tal efeito é concretizado através de um bom trabalho de cores, pequenos elementos-chave e poucas palavras muito bem escolhidas. Através destes elementos, o livro tornasse numa ferramenta poderosa de consciencialização. 


    "A Viagem" de Francesca Sanna é um livro pensado e absolutamente fabuloso de uma beleza única que serve o seu propósito na perfeição. Um livro com uma história fantástica para os mais novos, mas com uma forte mensagem para os mais velhos. 

Para mais informações sobre a ilustradora e todos os seus trabalhos,
aqui ficam as suas redes sociais:



Forma Transmissora // "Truth Games" de Sue Williamson

O texto (transmissor da mensagem) vem sempre primeiro que a forma (suporte da mensagem), mas há casos em que a forma é não só suporte como transmissora da mensagem. Truth Games de Sue Williamson é um desses casos.

Williamson dá uso ao conteúdo das páginas de uma brochura turística de 1936 para deturpar e expor a sua mensagem colonialista. Apesar de o seu texto ser o ponto de partida para toda a composição, tudo o que as rodeia é que transmite a verdadeira mensagem. Estas páginas são aprisionadas como as criaturas alienadas que as pessoas nas suas próprias fotografias eram vistas.








Apesar de algum texto (retirado diretamente da brochura) fazer parte destas páginas, este está presente mais como reforço da mensagem. Na verdade, é a composição de ferro, arame farpado, correntes, rede ou fivela (composição de objetos) que cria a distância entre observador e sujeitos fotografados; refletindo não só a distância com que o texto se refere aos mesmos, mas também o quão perigoso é esta mentalidade colonialista (a mensagem).


Esta ideia de forma como transmissora de mensagem merece ser explorada mais vezes, em especial em objetos quotidiano, mas não necessariamente como único transmissor - o texto não deixa de ser importante para a compreensão total do objeto (quer na obra de Williamson como em qualquer outro).


Paulo Lourenço (1965) - Livro de Artista




      A relação dos artistas com o livro é tão antiga como o próprio livro. O objeto livro pode muitas vezes ser apresentado apenas como um referente conceptual, mas podemos aproveitarmo-nos dele como suporte de um projeto artístico específico, explorando-o consoante a vontade do artista, incorporando todos os tipos de materiais que se desejar utilizar. Irei partilhar uma edição especial, acompanhada de gravuras e serigrafias, da autoria do Paulo Lourenço, um livro onde a “palavra” é a base da criação artística. Antes de mais, gostaria de fazer uma pequena introdução ao Paulo, o tão conhecido e afamado técnico de gravura da Faculdade de Belas-Artes. O Paulo foi um antigo aluno da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, mas continua ligado a esta instituição. Entrou para as Belas-Artes em 2004, para preencher uma vaga no lugar de técnico, na disciplina de gravura, de forma acompanhar os alunos e a desenvolver os seus projetos artísticos. A partir do concurso dos maiores de 23 anos conseguiu entrar no curso de Pintura. Em 2017 dava por terminada a licenciatura, junto de um mestrado também em Pintura.





     Seguindo um pouco a linha de raciocínio do Paulo Lourenço, a pintura é um universo multidisciplinar onde “vale quase tudo”, em que podemos cruzar vários médios e várias tecnologias. Foi através desta ideia que, o Paulo concebeu todo o seu projeto de mestrado, isto é, desenvolveu as suas obras no mestrado de Pintura, mas a partir de projetos feitos em serigrafia. A gravura é também trabalhada por ele através de um caracter instalativo, assumindo assim um corpo tridimensional.

                                                                                      




     Por outro lado, o Paulo desenvolveu um projeto através da serigrafia, em que a partir da multiplicação das impressões, a imagem começa-se a destacar do suporte que lhe serve de base, isto quer dizer que se consegue produzir uma serigrafia com carácter de baixo-relevo, conferindo assim aos trabalhos atributos e especificidades que os instalam no território da tridimensionalidade.

     Como resultado da técnica referida, Paulo Lourenço desenvolveu assim o seu livro de artista, que, e agora citando o artista, “faz parte de uma pesquisa que tem sido desenvolvida ao longo da última década. O entrosamento de imagens gráficas e a utilização da «palavra» como base para a criação de objetos artísticos, recorrendo a diferentes tecnologias para a sua materialização.” Denominado por Palavras Imprecisas, ele dá corpo ao seu livro de artista, tão rico no que toca ao mar de letras apresentado e que nos remete para o mundo tipográfico. Uma vez questionado ao próprio Paulo Lourenço acerca da fonte de texto utilizada, este respondeu sem certezas, mas apontou que deveria ser entre a fonte tipográfica Bodoni ou Times New Roman Bold. 





     Achei pertinente compartilhar este objeto/livro de artista, pois antes de mais pela composição das serigrafias, que nos aproxima do design gráfico, diria até mais da tipografia, e pela inovação do processo de concretização das mesmas. Há sempre espaço para inovar, mesmo quando algo parece apenas ter um caminho já traçado na maneira como deve ser realizado, neste caso a serigrafia, que apesar de se manter bidimensional (característica predominante), o Paulo consegue dar-lhe uma força maior, dando destaque à palavra, às letras que passam a ser o foco, transcendendo à simples técnica de gravura.

 

Para ver mais trabalhos do Paulo:

Instagram: @paulourencos