segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Além das estrelas



Rui Toscano
Civilizações de Tipo I, II e III

MNAC, Lisboa
21 de Novembro 2015 – 14 de Fevereiro 2016
Entrada 4,50€ (gratuito alunos FBAUL)

curador: Nuno Faria


A GRANDE PIRÂMIDE I, 2015. 2 projetores de diapositivos, MDF pintado, madeira, ferro.113 x 400 x 70 cm
Fonte: Própria

Dirigi-me ao Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC) num dia chuvoso em que um local calmo e reflectivo era o que eu procurava, não sabendo da existência da exposição de Rui Toscano no mesmo local. Após ser muito bem recebida por duas senhoras à entrada, percebi que o preço estava ajustado à qualidade de artistas que o Museu alberga, incluindo a eficiência energética para obras que (cada vez mais) inserem a tecnologia como matéria-prima.
A caminho do primeiro andar, um grande quadro fez-me admirar: uma explosão de estrelas, o Big-Bang, a origem da nossa existência. 

MESSIER 5, 2009. Acrilic on canvas. 250 x 400 cm
Fonte: Cristina Guerra Contemporary Art
Tive assim o primeiro contacto com o trabalho de Rui Toscano que dá inicio à sua viagem pelo tempo e o espaço. O artista nasceu em Lisboa a 1970 tendo estudado pitura e escultura na Ar.Co e na FBAUL. O sucesso com trabalhos mais antigos englobam a amplificação sonora, a referência à cultura Rock (o radiogravador) e o elemento escultórico, que desta vez deu permissa ao videomapping para (de)formar as suas peças. Agora também a imagem fotográfica, a pintura, o video e o processing da interactividade mostram um artista multifacetado quanto aos suportes.

Sem Título, 2015 - 10 projectores de diapositivos com ecran
121 x 160 x 166 cm 
Fonte: Própria
Emissão, recepção, transmissão... Ultimamente RT tem-se expandido pela arte multiméda através de instalações, video jamming e video-landscape. No entanto esta não é a primeira investigação retrospectiva sobre teorias espaciais e o avanço inter-galáctico que o artista nos oferece: RT continua a sobrevoar o mesmo universo que La Grande Aventura dell Spacio, em 2003 e Journey Beyond the Stars em 2015.


Em Civilizações de Tipo I, I e III é-nos proposta uma introspecção tecnológica com a contemplação alienante que o artista plástico radicalista trasmite. A colagem de imagens salta à vista quando nos aproximamos (interactiva), numa relação temática à ficção ciêntifica do cinema americano, unindo o passado ao futuro em pirâmides mapeadas com «distopias» de Blade Runner.


A GRANDE PIRÂMIDE II, 2015. 2 projecções de video HD, cor, som, 37''(loop), MDF pintado. 
421 x 170 cm   |  Fonte: Própria
Como o nome da exposição o indica, a escala de Kardashev (astrofisico russo que quantifica niveis de civilizações através da evolução energética de cada uma) é lembrada através da ambiência espacial que aproxima o imaginário cósmico ao real ficcionado dos povos pré-columbianos e Antigo Egipto e as suas teorias qe até hoje são objecto de estudo por muitos futuristas. Sinto que estas instalações visionárias conseguem trasmitir o cosmos invisível a uma escala inconcebivel, e que embora a biliões de anos luz do nosso planeta, somos capazes de atingir as várias civilizações que nos precedem.

Esta exposição constitui uma parceria entre a Direcção Geral do Patriónio Cultural e A Oficina. Com curadoria de Nuno Faria (Director Artistico do Centro Internacional José de Guimarães) a exposição tomará lugar em Guimarães no dia 27 de Fevereiro, no CIAJG.



domingo, 3 de janeiro de 2016

No divã de Tabarra

O confronto com o imaginário do artista João Tabarra é sempre uma experiência essencial de questionamento e auto-análise.

Biotope
De João Tabarra
Curadoria de Nicole Brenez
Colégio das Artes da Universidade de Coimbra
20-11-2015 a 22-01-2016 || 14h-18h (fecha sáb. e dom.) || Gratuito

Reconhecido criador de projectos com forte missão reflexiva sobre o papel social e político do indivíduo, Tabarra, no seu mais recente projecto, Biotope, impressiona pela dimensão física já conhecida das imagens que dedica ao espectador, mas essencialmente pelo tempo que a sua performance fotográfica exige do mesmo.

Biotope, parece evidenciar uma continuidade com o trabalho apresentado na Galeria Filomena Soares, em Lisboa, em 2014, Discrepant, onde o artista aborda a criação do universo em compassivo paradoxo com as ligações humanas. Em Biotope, Tabarra confronta-nos com o Homo sapiens em completo estado de autismo com o facto definitivo de que partilha um espaço comum com todas as outras espécies do reino Animalia.

A exposição com curadoria de Nicole Brenez, professora e teórica de cinema, desdobra-se por 4 salas, inseridas no belíssimo edifício claustral do colégio das Artes em Coimbra. Na primeira sala estão reunidas imagens que nos remetem para uma reflexão sobre a nossa origem e o lapso evolutivo que existe entre espécies. O desejo secreto de uma reflexão que nos deixe prostrados perante o ‘outro’ (simbolizado pelo chimpanzé embalsamado) (Figura 1). Nós enquanto o ‘outro’ a caminhar pelo inóspito, consciente ou inconscientemente, arquitectado (Figura 2). Este binómio do ‘eu’ e o ‘outro’ sempre presente no trabalho de Tabarra, e a inevitabilidade de nos obrigar a experienciar o ‘outro’, de nos colocar na pele (corpo) desse mesmo ‘outro’.

Na segunda sala, a subversão imagética de Tabarra leva-nos a questionar o lugar de cada espécie no planeta, a inevitabilidade da morte e a necessidade utópica da coexistência equilibrada do ‘eu’ com o ‘outro’ (Figuras 6, 7 e 8).

A ecoar por toda a exposição ouve-se uma voz no feminino e ao entrar na terceira sala percebe-se que se trata de uma instalação audiovisual em que a filósofa Elisabeth de Fontenay lê excertos do seu livro Le Silence des bêtes. La philosophie à l’épreuve de l’animalité, sobre a imagem permanente de um eclipse, subvertendo-se esse raro e curto momento em que nos é retirada a luz, ao perlongado tempo que as palavras demoram a ser lidas (Figura 9).

Por fim e depois de ouvirmos Fontenay a questionar a razão pela qual não é considerado homicídio premeditado o que fazemos às outras espécies, deparamo-nos com um espelho e somos obrigados a olharmo-nos, no último tríptico fotográfico. Tabarra enquanto nós próprios no corpo do ‘outro’, olha-se prolongadamente a um espelho e denomina cada imagem de um estado de consciência: confiança, medo e desejo (Figura 11).

Talvez envolto pelo terceiro, o artista termina com a imagem que serve também de capa ao livro homónimo (com edição da Arranha-Céus e lançado ao público aquando da inauguração da exposição) e que mostra um reflexo humano em comunhão com a natureza (Figura 12).

Denuncia-se assim Tabarra, “anarca participativo”1 e generoso, através da imagética das suas performances, enquanto espelho de uma consciência perturbadoramente culpabilizante mas vital. Talvez valha ainda a pena recuperar algumas das suas palavras, quase rudes mas não menos precisas, durante a conferência que antecedeu a inauguração da exposição: "Dizemos que os nazis são bestas mas as bestas são as vacas e os bois - e esses não fazem mal nenhum. Nós, os seres humanos, somos outra coisa. (...) Por mês desaparecem mais de duas mil espécies e o homem também vai desaparecer. Biotope é sobre a criação, mas também sobre a extinção. Sejam boas pessoas e não ovelhas."

1 pelo próprio na entrevista com Cláudia Marques Santos. Aqui: http://ifyouwalkthegalaxies.com/joao-tabarra/

Figura 1: Da esquerda para a direita: “Intégration du vivant, moment 1” 2015; “Intégration du vivant, moment 2” 2015; “Intégration du vivant” 2015.

Figura 2: “Terroir, passage” 2015 (tríptico).

Figura 3 - Em primeiro plano: “Intégration du vivant” 2015. Em segundo plano: “Question Politique” 2015.

Figura 4 - “Intégration du vivant, moment 2” 2015.

Figura 5 – Da esquerda para a direira: “Aceptation” 2015; “Masques sous camouflage” 2015.

Figura 6 – “Aceptation” 2015.

Figura 7 - “Masques sous camouflage” 2015 (díptico).

Um fotógrafo com nacionalidade incerta.


RETROSPECTIVA.

JOSEPH KOUDELKA | FOTOGRAFO

12 setembro | 29 novembro | 2015
Fundación Maphre | Madrid
Calle Bárbara de Braganza, 13.
28004 - Madrid.


Esta exposição é organizada conjuntamente pela Fundación Maphre, The Art Institute of Chicago e The J. Paul Getty Musseum. A retrospectiva é a mais grande realizada sobre o fotógrafo Joseph Koudelka até o momento.


Joseph Koudelka nasceu em Morávia (Checoslovaquia) no ano 1934. Engenheiro aeronáutico de profissão, começou a trabalhar com a fotografia nos anos sessenta, chegando a ser um dos fotógrafos mais importantes da sua geração. Desde o ano 1971 é fotógrafo da prestigiosa Agência Magnum, uma das agências de fotojornalismo mais importante do mundo.
 
Esta retrospectiva está formada por aproximadamente 150 obras. Desde os seus primeiros projetos experimentais realizados a finais da década dos 50, passando por as famosas series de ciganos, invasão e exílios; é também os seus últimos trabalhos sobre paisagens. Além disso, também podemos ver outros materiais que mostram o processo criativo deste artista: maquetas, folhetos,...Suas imagens têm um caráter teatral importante. Os protagonistas das suas fotos parecem colocados num escenârio, como se fossem atores que representam a “função da vida”.
 
Figura 1: Entrada Fundación Maphre.
(Fonte prôpia)

Iniciamos o recorrido pela exposição olhando pelos seus primeiros trabalhos. Estes começos estão basados em uma fotografia de carácter experimental. Em eles Koudelka experimenta fundamentalmente as possibilidades que nos oferece trabalhar com profundidades de campo muito pequenas para construir um mundo de abstrações, onde a imaginação e a plasticidade que consegui mostram-nos um fotógrafo com muito talento.

Figura 2: Trabalhos experimentais.
(Fonte prôpia)

Figura 3: Josef Koudelka, "Checoslovaquia", 1960.
(Fonte: Magnum photos)
Dentro dos seus primeiros trabalhos também encontran-se fotografias que fez do mundo do teatro. Imagens com um carácter teatral cheias de plasticidade. Estas obras constituem uma transição de sua fotografia experimental para uma fotografia documental com o qual ele se tornou famoso.

Figura 4: Trabalhos do mundo do teatro.
(Fonte prôpia)

Figura 5: Josef Koudelka, "Uma hora de amor de Josef Topol", 1968.
(Fonte: Magnum photos)
A continuação vemos as imagens de um dos trabalhos mais conhecidos dele, a serie “Gypsies”. Ao principio este projeto começou como um pequeno projeto artístico, mais finalmente se converteu em um projeto de vida. Joseph Koudelka fotografou durante aproximadamente 20 anos acampamentos ciganos na este da Europa. Estas imagens destacam pela sua teatralidade, e nos mostram a maneira de vida de este coletivo étnico. Esta série foi exposta por primeira vez em 1967 (Prague), e com este projeto consegue os seus primeiros prêmios e reconhecimentos.  


Figura 6: Trabalhos da serie "Gypsies".
(Fonte prôpia)

Figura 7: Josef Koudelka, "Romênia", 1968. Da série Gypsies.
(Fonte: Magnum photos) 


Figura 8: Josef Koudelka, "Eslováquia (Jarabina)", 1963. Da série Gypsies.
(Fonte: Magnum photos)
Entre ou 21 e 27 de agosto de 1968 os países que formaram o Pacto de Varsóvia (liderado pela URSS) invadiram a cidade de Praga. Joseph Koudelka documentou isto como um manifestante mais. As fotografias mostram a resistência não-violenta de uma cidade, protestos com tanques, os manifestantes silenciosamente enfrentando-se aos soldados armados,... Por medo de ter problemas ele firmou este trabalho como P.P (Prague photographer). No ano 1984 posso reconhecer a autoria deste projeto.



Figura 9: Trabalhos da serie "Evasão".
(Fonte prôpia)



Figura 10: Josef Koudelka, "Cidadão checo em um tanque", 1968. Da série Evasão.
(Fonte: Magnum photos)  


Figura 11: Josef Koudelka, "Dois cidadãos checos com uma bandeira", 1968. Da série Evasão.
(Fonte: Magnum photos)


Figura 12: Josef Koudelka, "Mão e relógio de pulso", 1968. Da série Evasão.
(Fonte: Magnum photos)







Desde 1970 até 1990 Koudelka teve que viver fora do seu país pela entrada do exército da URSS na cidade de Prague. Ele viveu uma vida nômada, sem um pais, poderíamos falar que com uma “nacionalidade incerta”. Podemos observar essa sensação em uma frase do prôpio Koudelka na exposição, onde falava que ele era “estrangeiro em todos os lugares, mas um estranho em nenhum lugar”. Ele viveu em muitos países (França, Espanha, Inglaterra,...) até que em 1990, um ano depois da queda do Muro de Berlim, ele poso voltar a Prague. Esta vida de nomadismo, de no pertencer a nenhum lugar, forma parte de um dos seus projetos mais conhecidos: “Exile”. Em ele se manifesta a solidão do ser humano e a grande vantagem que Koudelka consegue com esta situação, a conquista da liberdade desde um punto de vista fotográfico.


Figura 13: Trabalhos da serie "Exílio".
(Fonte prôpia)

Figura 14: Josef Koudelka, "França", 1976. Da série Exílio.
(Fonte: Magnum photos)
Figura 15: Josef Koudelka, "Checoslováquia", 1968. Da série Exílio.
(Fonte: Magnum photos)

Figura 16: Josef Koudelka, "França", 1987. Da série Exílio.
(Fonte: Magnum photos)



Desde o ano 1980 Koudelka começou a trabalhar com paisagens panorâmicos na sua obra. Nestos trabalhos as pessoas vão desaparecendo, embora a sua marca ainda está presente. Fotografias que nos mostram a solidão da terra abandonada, a violência do ser humano,...



Figura 17: Últimos trabalhos sobre paisagens panorâmicos.
(Fonte prôpia)
Figura 18: Josef Koudelka, "Beirut (Líbano)", 1987. Da série Caos
(Fonte: Magnum photos)

Figura 19: Josef Koudelka, "Jordania, (Ammán)", 1987. Da série Arqueologia.
(Fonte: Magnum photos)
Figura 20: Josef Koudelka, "Beirut (Líbano)", 1987. Da série Caos
(Fonte: Magnum photos) 
Podemos afirmar sem medo a equivocarmos que a fotografia de Koudelka é uma arte pura, autêntica,....é voltar a uma essência da fotografia que parece que nos nossos dias esta esquecida. Uma imagem vale mais que mil palavras, sua fotografia não precisa textos, base teórico,...esse é em definitiva o verdadeiro valor da sua obra. A fotografia contada pela fotografia, sem aditivos poluentes que muitas vezes só ajudam a promover a banalidade da fotografia “per se”.


Outra ponto a considerar é que mesmo que sejam 150 fotografias, a retrospectiva faz-se curta. Koudelka têm muitas mais fotografias das aqui mostradas na exposição que podem ser consideradas “máster pieces”. A Fundação Maphre fez um grande trabalho, mas o estudioso da fotografia acha que a retrospectiva ainda poderia ser melhor. Estamos falando dum fotografo ao nível de Robert Capa, Cartier-Bresson, William Klein, Eugene Smith,... Muitas grandes fotografias de Koudelka não são mostradas nesta exposição.  


Já para concluir, falar que a obra de Koudelka é uma constante reflexão sobre a solidão, o desenraiamento e o isolamento do ser humano. Atualmente, Joseph Koudelka é sem dúvida uma das mais grandes lendas vivas da fotografia.





  

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

The Wrong - New Digital Art Biennale

The Wrong – New Digital Art Biennale

1 de Novembro 2015 a 31 de Janeiro 2016

The Wrong é actualmente a maior exposição de arte digital e ocorre principalmente online usando como ponto central o seu site thewrong.org, que se dívide em pavilhões virtuais curados por artístas convidados ou auto-propostos e embaixadas, locais fisicos localizados em vários pontos do planeta que paralelamente apresentam peças, performances, conversas e outros durante o periodo desta bienal.

No trabalho complexo de tentar organizar sem enclausurar as obras dos já mais de mil artistas participantes, o design do site talvez não faça o melhor trabalho para que o visitante não se sinta perdido, mas passeando um pouco pelo site, lendo as informações sobre as várias secções, é possivel perceber a forma como a exposição está organizada, assume-se que será quase impossivel ver tudo e começamos a ver peças.

Na secção Directory do site principal da exposição, poderemos ver uma lista dos pavilhões (à data estão 57 listados, mas somos informados, no final desta lista e na página principal do thewrong.org que o conteúdo está ainda a ser actualizado e que vai sendo carregado diariamente ao longo dos 90 dias da bienal), enquanto que na secção Agenda se pode consultar os eventos programados para as embaixadas.

A intenção do seu organizador, David Quiles Guillo, é que esta exposição seja o mais abrangente e livre possivel, permitindo que qualquer pessoa se possa propor como curador ou como artista até ao ultimo dia da bienal, tal como disse numa entrevista ao Art FCity: “Sou eu que selecciono as pessoas para os pavilhões, por isso, antes de dizer que sim, faço a minha pesquisa. Confirmo que não é só um brincalhão, e mesmo que seja talvez consideremos inclui-lo. O que é realmente bom quanto a organizar um evento online é que temos bastante flexibilidade. Podemos aceitar pessoas até ao ultimo minuto.” (disponível em: http://artfcity.com/2015/10/29/launching-the-largest-digital-biennale-in-the-world-on-shoestring-budget-an-interview-with-david-quiles-guillo/, tradução nossa).

Existem também, na secção Tour, o que se poderá chamar de visitas guiadas virtuais que ajudam a visitar obras sem ter de se perder pelos labirintos dos pavilhões e destaques. Estas visitas guiadas, são alteradas semanalmente e têm a duração prevista de 5 minutos, levando-nos automaticamente para o site de cada obra pela ordem estabelecida pelo curador da visita. Aconselho que se use a opção de se interromper a contagem, no canto superior direito, antes que passe para outra peça pois em todas as que visitei, o tempo dado era insuficiente.

Destaco alguns trabalhos da visita guiada proposta no dia 13 de Dezembro (e prolongada até dia 30), dedicada particularmente a obras em video:


Anatta, 2014, DELEV, Victor e GRUBERSKA, Joanna

Neste vídeo uma bailarina performa interactivamente com uma projecção. Segundo a descrição da peça, o sistema reage aos movimentos da bailarina mas também esta ultima reage ao movimentos da projecção fazendo com que seja criado um jogo de acções e reacções que não se percebem exactamente em que direcção estão a fluir.
As composições entre branco e preto, luz e sombra, tanto da projecção video como da própria bailarina que está vestida de branco e de sombras fortemente vincadas pela luz da projecção, adicionam mais ainda a esta união ou mistura entre o movimento do corpo humano e a reprodução de movimento de um sistema digital tornando-os quase um só.



You were fed by buzz and it was fed by you. But the buzz was insatiable, 2015, COLINA PEREZ, Maria


Este video parte de uma frase de Ray Bradbury: “You can get people to swallow anything at all by intensifying the details”. Partindo desta frase podemos ler no livro The Vision Machine (VIRILIO, Paul. Londres: British Film Institute; Bloomington: Indiana University Press, 1994. ISBN 0-AS17D-L4L45-X. p.65) de que tal como os voyeurs apenas se prendem aos detalhes mais sugestivos, parecem ser apenas os detalhes mais intensivos, ou a própria intensidade da mensagem que contam actualmente deixando tudo o resto para segundo ou terceiro plano. Assim, partindo da ideia de que actualmente a intensidade é o valor máximo para o maior ou menor interesse de algo, a autora desta obra Maria Colina Perez, cria um vídeo bastante saturado de imagem, cor e movimento, com bastante ruído visual, sem no entanto se tornar demasiado agressivo ao que a isso ajuda bastante a nota musical continua e a curta duração da obra, de forma a criar um estado quase hipnotico de fascinação no qual, segundo a artista, a mente fica menos propícia a criticismo.


Google01 - And we danced, 2014, RODRIGUEZ, Borja

Nesta obra o autor usa o motor de busca da Google, mais concretamente a sua função de previsão instantanea onde o site sugere completar os nossos termos de pesquisa partindo de uma base de dados com as pesquisas mais utilizadas.Isto é, quando se escreve algo no motor de busca da Google este sugere completar o que estamos a escrever com o que a maior parte das pessoas escreveram quando usaram termos idênticos.
A obra começa então com uma imagem do motor de busca e é escrita a frase “Eu tenho anos e” à qual é depois acrescentada a idade começando com “Eu tenho 10 anos e” até aos 80 anos. Através deste exercício simples, conseguimos vislumbrar quais são as questões mais comuns (porque mais procuradas no motor de busca) que a maioria das pessoas que usam internet se colocam, percebendo, como diz a descrição da obra, “abstracções desconcertantes, verdades, falacias, desejos e medos sobre todos nós”.


Vitreous, 2015, SEIDEL, Robert

A descrição desta obra diz-nos que o que vemos são 9 esculturas virtuais que resultam de instalações experimentais de objectos digitais tridimensionais. O tratamento dado aos objectos faz com que estes pareçam manchas de tinta suspensas que interagem como imans liquidos que se atraem ou repelem e deformam uns aos outros sendo estimulados por curto-circuitos invisiveis que os mantêm em movimento.


Em jeito de conclusão, para o caso de terem ficado interessados em ler mais sobre esta exposição, deixo alguns links de artigos interessantes:

http://thecreatorsproject.vice.com/blog/the-best-of-the-net-comes-together

https://rhizome.org/editorial/2015/dec/01/the-wrong-biennale-review/