Um filme criado por António Reis, com a ajuda de Margarida Cordeiro, retrata a vida de Jaime, um doente esquizofrénico que está internado no hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, em Lisboa.
A primeira parte da
curta-metragem documental antropológica portuguesa retrata a vida de Jaime no
hospital psiquiátrico, mostrando-nos filmagens do espaço em si e da vida
monótona que os pacientes tinham no seu quotidiano. No entanto, à medida que
vamos conhecendo o doente, somos submetidos a diversos planos sobre a arte que
o mesmo produzia, entre desenho e pintura.
Aos 65 anos, Jaime, para
fugir à loucura dos seus pensamentos interiores, causados pela demência
violenta que tinha, usava o desenho como meio de fuga/escape. Os seus desenhos,
à medida que nos são apresentados, revela-nos o sofrimento que o paciente tinha
dentro dele, em que o mesmo procura no seu pensamento o sentido que a vida lhe
deu, o passado que se encontra cada vez mais distante, a terra onde nasceu e a
cidade que lhe promoveu a demência em si. Ao mesmo tempo que desenhava e
pintava, Jaime utilizava uma escrita abundante em diversos cadernos, quase como
relatos do que acontecia, de forma grotesca.
Como espectadora que
visualizou a obra de António Reis, senti-me absorvida na curta-metragem
documental deixando-me presa no emaranhado de memórias e arte do doente
esquizofrénico. Através dos desenhos que Jaime criava, consegui perceber a
escuridão que o mesmo continha devido aos traços carregados e às linhas
deformadas que o mesmo usava. Visualizando graficamente, mas pondo-me no lugar
de Jaime, o mesmo pegava nos pensamentos mórbidos que tinha e tentava, através
da sua arte, encontrar a sua lucidez no mundo perdido onde se encontrava.
É importante refletir
sobre a banda sonora a que os espectadores são submetidos. Durante a
visualização de um dos filmes mais marcantes do Novo Cinema Português, António
Reis decidiu criar uma ligação entre o som e imagem, e para tal, à medida que o
espectador é submetido a variadas imagens chocantes, tal como as condições do
hospital, os pacientes que o habitavam e o local onde o rodeava, o cineasta
utilizou sons agrestes criando um desconforto ao longo da curta-metragem.
Enquanto espectadora que
consumiu vários tipos de arte e desenho à medida que a obra era apresentava,
questionei-me se a vida de uma pessoa esquizofrénica se baseia apenas através
das memórias quase esquecidas, não tendo referências sobre um futuro próximo ou
um pensamento acerca do mesmo. Perante a obra, divago acerca do que realmente é
a arte, se vivemos para a arte ou se a mesma depende nós para viver e existir.
Curta-Metragem Documental:
https://www.youtube.com/watch?v=G6XjuXPF__w
https://www.doclisboa.org/2019/filmes/jaime/
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