domingo, 13 de novembro de 2022

Memorabilia — Daniel Blaufuks // Album

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O conceito memorabilia, trata sobre objectos armazenados ou recolhidos associados a pessoas ou algum tipo de evento memorável, quase autobiográfico na visualização desses objetos. O conceito surgiu principalmente da ideia "totemic", no sentido de representar algo, ter um simbolismo ou ter um emblema de um grupo ou algo. Estas ideias já se estavam amplificar notavelmente entre as décadas de 1970 e 1980, onde a produção/consumo estava a expandir-se e a influenciar a sociedade a procurar uma caracterização de um grupo ou individualidade através da aquisição de certos objectos que pudessem transpor a sua personalidade. Um exemplo que dou para aquilo que foi dito anteriormente é o ponto de partida da concepção do filme, “20th Century Women” (2016), do diretor, Mike Mills, onde relata numa ficção a sua autobiografia complementada por objetos ou a memorabilia que recriam os espaços para um determinado momento, época, lugar, etc…O próprio refere que os objetos, “(…) representam a nossa identidade, poder e influência...Acreditamos no poder das coisas para falar por nós, para expressar quem realmente somos...Como nos moldamos a nós próprios com estes objectos...Carregamo-los de significado, esperamos que preencham buracos espirituais”.

Mas aqui na obra de Daniel Blaufuks, "Álbum", que foi exibida e publicada como livro de artista no Palácio Vila Flor entre 26 de Janeiro a 6 de Abril de 2008 e que conta a história de alguém que recolheu objectos únicos como postais, recortes e bilhetes para espectáculos (e outras coisas) ao longo da sua vida serviu de tema, assim fez o seu próprio “álbum”, onde tem a intenção de criar uma memorabilia que propõe um mapa relacional de artefactos que alguém que relata uma história a partir deles. São fotografias que conduzem às histórias que o artista pretende contam as suas próprias experiências, como as viagens que realiza e que percepciona como uma espécie de busca, ou como uma procura que também encontra na fotografia: “Os verdadeiros viajantes, tal como muitos fotógrafos, sabem que não vão encontrar aquilo que procuram. O que lhes interessa é a experiência, é o percurso”. Neste percurso através da imagem o artista sublinha a importância que dá à história da fotografia e às imagens dos outros que muitas vezes utiliza nos próprios trabalhos, uma apropriação assumida e explicada através do fascínio e sedução que estes trabalhos e artistas despertam em Blaufuks. São também, fotografias e palavras que remetem para um “re-memorar” do passado que pode estar inscrito na aparente inocência de fotografias de infância, numa certa convencionalidade dos álbuns de família ou mesmo em imagens que refletem os acontecimentos que fazem parte, não só da história do nosso país, como da própria história mundial. É quase como sê Blaufuks fosse um agente da pós-memória, onde pega inevitavelmente em memórias dos outros, das suas experiências, invocando-as, recordando-as, retirando-as da sombra dos seus passados. Atualizando-as no presente. Blaufuks explica o processo de re-fotografar como uma “necessidade técnica”, ou seja, uma forma de olhar para o passado (são habitualmente fotografias e imagens antigas) à luz do presente (porque quase sempre acrescenta algo). O seu impulso para contar histórias encontra-se relacionado com um conhecimento adquirido num contexto familiar fortemente marcado pelos acontecimentos catastróficos que fazem parte da história coletiva do século XX. Um re-contar que se associa a arquivos de imagens e de biografias públicas e anónimas, que afetam a forma como o artista transmite as suas memórias. Uma transmissão que tem subjacente a intenção de alcançar o maior número de ouvintes, tenham estes ou não ligações diretas com os acontecimentos.








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