Espetáculo de Luzes de Natal
Praça Guilhermina Suggia, Matosinhos
Dezembro de 2024
Não foi numa sala de espetáculos, nem num palco com cortinas.
Foi numa praça. Ao ar livre, entre prédios e pinheiros de luz. Um espetáculo de Natal em Matosinhos que transformou o espaço urbano num lugar de maravilhamento — para todos, mas especialmente para mim e para o meu filho mais novo, que na altura tinha três anos e um diagnóstico por confirmar. A experiência foi tão marcante que me ficou cravada na pele como se tivesse sido feita de som e luz.
A performance acontecia em ciclos, com projeções monumentais na fachada do edifício da Câmara, som sincronizado e um desenho de luz envolvente. O público juntava-se em frente, em pé, a olhar para cima com o pescoço inclinado e os olhos muito abertos. O que se via? Histórias visuais feitas de neve digital, renas douradas que dançavam com a arquitetura, sinos animados, flocos de luz que caíam do céu, ou pelo menos assim parecia.
Mas o que mais me impressionou não foi a escala técnica nem o virtuosismo visual. Foi o modo como aquele momento — tão coletivo — conseguiu tocar algo profundamente íntimo. O meu filho, que muitas vezes se sente sobrecarregado com estímulos visuais ou sonoros, ali estava em absoluto encantamento. Parado. Silencioso. Acompanhava cada sequência com os olhos e um sorriso aberto, sem palavras. A sincronia da música com as imagens parecia oferecer-lhe uma estrutura confortável. E eu, ao lado, observava não só a performance, mas a sua forma de a viver.
Este espetáculo, apesar de ser pensado para massas, revelava uma inteligência subtil no modo como organizava o tempo visual: pausas, transições suaves, ritmos previsíveis. Havia ali um cuidado que me fez pensar na importância do sensorial na criação artística — e na responsabilidade de considerar diferentes formas de perceção e presença no espaço.
Enquanto performance de cultura visual, este evento ultrapassa a simples “decoração natalícia”. É uma coreografia entre luz, arquitetura e emoção. Inscreve-se num campo híbrido entre arte, design e espetáculo popular. Ao ocupar o espaço público com beleza, oferece também pertença. As pessoas riem, filmam, abraçam-se. Crianças gritam de alegria. Há um sentido de ritual — não religioso, mas comunitário.
Para mim, foi uma experiência estética, sim. Mas foi também uma espécie de epifania sobre como a arte pode ser acolhimento. Um lugar onde um corpo pequeno, ainda a aprender o mundo, encontra uma linguagem que lhe fala direto ao coração. E talvez seja essa a missão mais nobre da cultura visual: tocar sem exigir. Brilhar sem ofuscar.