Começou mais uma edição de “IlustraBD”, evento este que acontece há 6 anos no Auditório Municipal Augusto Cabrita (AMAC), no Barreiro. As obras estarão expostas no auditório de 5 de abril de 2025 a 27 de julho de 2025. Esta é uma exposição de banda desenhada e de manga, com uma curadoria atenta à diversidade estética e narrativa, com uma apresentação que oferece ao público uma oportunidade de contacto com obras menos conhecidas.
O
percurso expositivo está dividido por editoras, cada uma ocupando um espaço
próprio, o que permite organizar visualmente o conteúdo e dar destaque à
identidade gráfica de cada publicação. Esta divisão favorece uma leitura
individualizada das propostas editoriais, embora, em certos momentos, possa
resultar numa fragmentação do discurso global da exposição. A opção por esta
organização privilegia o lado editorial, temático e histórico, que enriquece o
enquadramento geral.
Visualmente, a exposição é particularmente apelativa, cada espaço de cada livro tem páginas dos mesmo impressas em tamanho maior do que o próprio, expostas nas paredes. Também nas paredes de cada núcleo expositivo existem ilustrações ampliadas, impressas em papel autocolante e coladas diretamente na superfície, criando cenários envolventes que projetam o visitante para o universo visual de cada obra. Este recurso expositivo revela-se eficaz ao gerar uma atmosfera imersiva, que não só valoriza a estética da banda desenhada, como também aproxima o visitante do ambiente narrativo de cada história.
No
piso inferior concentram-se os trabalhos de banda desenhada ocidental. A
variedade de estilos, temáticas e abordagens técnicas aqui apresentadas revela
um panorama rico da BD contemporânea. Algumas obras exploram o quotidiano com
um traço mais minimalista, outras seguem por universos de fantasia e crítica
social, com maior densidade visual e narrativa. Os textos de parede, presentes
em cada espaço, fornecem informações úteis sobre os autores, editoras e
contexto da obra.
Já no piso superior, o destaque vai para o manga. A disposição segue o mesmo princípio organizativo do andar inferior, mas com um foco claro na estética e linguagem gráfica japonesa. Este segmento da exposição revela-se particularmente interessante ao sublinhar o contraste com a BD ocidental, tanto ao nível do traço como da construção narrativa. O manga, aqui representado em várias subcategorias (shonen, slice of life, experimental), demonstra a versatilidade deste género, frequentemente associado a públicos juvenis, mas cuja riqueza estilística ultrapassa facilmente esse rótulo.
Um dos elementos mais bem conseguidos da exposição é a inclusão dos próprios livros em cada espaço, colocados na parede a seguir a cada explicação, e estes exemplares estão ao alcance dos visitantes, que os podem folhear livremente. Esta solução permite uma aproximação direta à obra original, promovendo uma experiência mais completa, que alia a observação das pranchas ampliadas à leitura física do livro. O gesto de folhear devolve à exposição a dimensão de leitura que muitas vezes se perde em mostras demasiado centradas na imagem.
Em
termos de percurso, a exposição está bem organizada, com sinalética clara e um
equilíbrio coerente entre os espaços. O ambiente geral é tranquilo e a ausência
de dispositivos digitais ou interativos contribui para uma fruição mais lenta e
atenta, centrada no papel, na tinta e no desenho. No entanto, a presença de uma
pequena introdução com contextualização histórica ou temática poderia reforçar
a leitura global da exposição, especialmente para visitantes menos familiarizados
com o universo da Banda Desenhada ou até mesmo do manga.
No
seu conjunto, “IlustraBD” afirma-se como uma exposição de mérito, que valoriza
o trabalho de autores emergentes e de editoras alternativas, promovendo a
pluralidade de vozes e estilos num setor frequentemente dominado por grandes
nomes e formatos comerciais. A proposta expositiva distingue-se pela
criatividade na montagem e pela generosidade com que oferece ao público não só
imagens impactantes, mas também livros reais, com a possibilidade de serem
explorados com tempo e curiosidade.
Ao
articular ilustração, narrativa gráfica e experiência sensorial, “IlustraBD”
consegue ultrapassar os limites de uma simples mostra visual, transformando-se
num espaço de leitura, descoberta e reflexão sobre o poder da imagem na
construção de mundos. Uma exposição que merece ser visitada com atenção e
tempo, e que contribui para afirmar o Barreiro como palco de cultura visual
contemporânea.